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23/02/2012 - 06h02 / Atualizada 23/02/2012 - 11h31

"Carregador e pilhas podem explodir", diz professor da FEI

Sérgio Vinícius
Do UOL, em São Paulo

O professor do curso de Engenharia Química do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Luís Novazzi é especialista em pilhas. Após analisar o teste publicado no UOL Tecnologia sobre carregador Battery Charger II, ele conversou com a reportagem sobre o assunto.

UOL Tecnologia - É seguro recarregar pilhas?

Luís Novazzi -Uma pilha é constituída por dois eletrodos (o anodo e o catodo) e por um meio eletrolítico. No anodo, ocorrem reações de oxidação, que é a perda de elétrons. No catodo, ocorrem reações de redução, que é o ganho de elétrons. Desse modo, os elétrons migram do anodo para o catodo, proporcionando uma diferença de potencial que pode ser aproveitada num circuito qualquer.

Em uma bateria primária, as reações de oxidação e redução que acontecem são irreversíveis, fazendo com que esse tipo de bateria não possa ser recarregada. As representantes mais comuns de baterias primárias achadas no mercado são as pilhas comuns, de Zn, e as pilhas alcalinas. Tendo em conta a irreversibilidade das reações de oxirredução, não é seguro recarregar esse tipo de pilha.

UOL Tecnologia - E as secundárias?

Novazzi -Já nas baterias secundárias, as reações de oxirredução que se processam são reversíveis, permitindo o recarregamento. Dessa família fazem parte as baterias de chumbo, com aplicação automotiva, as baterias de níquel metal hidreto (NiMH), usadas em eletrônicos diversos, e as de íons de lítio (Li-íon), empregadas principalmente em celulares e notebooks.

Dada a natureza da reação reversível dessas pilhas, é perfeitamente seguro recarregá-las. Apesar disso, vale notar que existe uma perda na capacidade de armazenagem de energia nessas baterias ao longo dos ciclos de carga e descarga, fazendo com elas tenham uma vida útil limitada.

UOL Tecnologia - Quais os cuidados devem ser tomados nesse processo?

Novazzi -Ao se recarregar uma bateria secundária, deve-se usar um carregador de boa qualidade. No caso de notebooks e celulares, o próprio fabricante do equipamento já fornece um carregador adequado para aquela finalidade. Esses carregadores carregam as pilhas e baterias por meio do controle de tensão ou de corrente elétrica. Alguns carregadores contam também com monitoramento e controle da temperatura durante o processo de carga.

Há algum tempo, citava-se muito o problema do efeito "memória" em pilhas e baterias recarregáveis, mas os tipos de pilhas usadas atualmente não mais possuem essa característica. Como a vida útil de uma pilha ou de uma bateria recarregável depende muito do carregador, a sugestão é usar um que seja confiável.

UOL Tecnologia - Sobre o Battery Charger II, você pensa que se trata de um equipamento seguro?

Novazzi -Em princípio, não se deve realizar o carregamento de pilhas primárias ou não recarregáveis, como as alcalinas. Se isso for feito, podem ser promovidas reações eletroquímicas secundárias, com geração de produtos em fase gasosa. Além disso, pode ocorrer também curto circuito na própria pilha. Esses dois efeitos podem sem dúvida nenhuma provocar a explosão da pilha. Pode acontecer também curto circuito no carregador, fazendo-o pegar fogo. Em virtude disso, não se recomenda o uso de carregadores em pilhas primárias.

UOL Tecnologia - De acordo com a C3 Tech, "a forma de recarga das pilhas alcalinas é muito simples: através de micropulsos elétricos controlado por um microprocessador, ela sofre uma dessaturação química para que possa ser utilizada novamente." Isso faz sentido para o senhor?

Novazzi -Em baterias secundárias ou recarregáveis, o carregador usa energia disponível na rede elétrica (corrente alternada ou AC) e a carrega por meio de corrente contínua (DC). Esse carregamento é supervisionado por microprocessadores, nos quais ocorre o controle de tensão ou corrente e da temperatura. Alguns carregadores promovem a carga dessas baterias secundárias usando pulsos elétricos em vez de corrente contínua.

Entretanto, não conheço a aplicação de pulsos elétricos para promover o carregamento de baterias primárias. Sou cético em relação a essa ideia, principalmente em virtude das reações de oxirredução irreversíveis que acontecem nesse tipo de bateria. De qualquer modo, testes mais rigorosos precisariam ser realizados para realmente comprovar ou não a eficácia do carregador em questão.

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