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23/03/2012 - 15h29 / Atualizada 23/03/2012 - 17h02

Viciados em tecnologia nos EUA fazem 'jejum' no Dia Nacional da Desconexão

Marion Strecker
Do UOL, em San Francisco
  • ?jejum? de e-mail, Facebook, MSN, Twitter, jogos eletrônicos e congêneres vai durar 24 horas

    ?jejum? de e-mail, Facebook, MSN, Twitter, jogos eletrônicos e congêneres vai durar 24 horas

Se você é como eu, usa um monte de aparelhos eletrônicos, está ligado a diversas redes sociais e frequentemente se vê gastando tempo com coisas que não tinha planejado fazer, só porque um link ou um botão estão ali, para serem apertados, escute essa.

Ao pôr do sol desta sexta-feira (23), viciados em tecnologia poderão desligar seus computadores, celulares e tablets e aderir ao Dia Nacional da Desconexão, decretado por um grupo de viciados digitais americanos.

O “jejum” de e-mail, Facebook, MSN, Twitter, jogos eletrônicos e congêneres vai durar 24 horas, até o pôr do sol do sábado, nos moldes do “sabbath”, o período de recolhimento semanal do judaísmo. Teste de fogo.

Quem lidera o movimento é um misto de incubadora e think-tank judeu chamado Reboot. É uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2002, baseada em Nova York, mas com integrantes também em San Francisco e Los Angeles, na Califórnia.

“Reboot” é uma gíria que os viciados em tecnologia, principalmente os mais velhos, conhecem bem. Significa desligar e reiniciar o sistema operacional do computador quando ele “dá pau”, ou seja, quando apresenta problema de funcionamento. Os computadores mais velhos precisavam ser “rebutados” o tempo todo. Hoje menos.

Os Dez Mandamentos

1 - Evite tecnologia
2 - Conecte-se com pessoas amadas
3 - Alimente sua saúde
4 - Sai ao ar livre
5 - Evite comércio
6- Acenda velas
7 - Beba vinho
8- Coma pão
9 - Encontre silêncio
10 - Retribua

O grupo se apropriou do conceito e o levou para o campo das ideias. “Reboot” ou “rebutar”, em português, seria “refrescar” as ideias.

Este é o terceiro ano do “Sabbath digital”. Antes que perguntem já respondo: não, não sou judia. E o assunto aqui não é religião: é dependência em tecnologia. Mas sei que todo judeu que pratica a religião deve mesmo evitar tecnologia no Sabbath.

Só que fiquei bem surpresa quando fui a Israel e logo na primeira noite, no hotel em Tel Aviv, percebi que o elevador subia e descia parando em todos os andares e sem aceitar comandos humanos.

Ao reclamar do elevador na recepção, o atendente me explicou que era sexta-feira, noite do Sabbath, e todos os elevadores funcionariam assim mesmo. O funcionamento automático foi o “jeitinho” judeu de contornar o veto ao uso de máquinas. Ninguém aperta o botão então não desrespeita o Sabbath, embora pegue o elevador.

Na minha visão de mundo, isso é trapaça! Talvez esse seja um resquício puritano meu, tudo bem.

O movimento “unplugging” foi divulgado no último SXSW (South and South West), festival de música, cinema e tecnologia que acontece anualmente em Austin, Texas. No último dia 11, fazia parte da agenda do festival um debate intitulado “Tech Detox: Você pode sobreviver um dia sem tecnologia?” As pessoas compartilharam estratégias para lidar com o vício.

Claro que o movimento “unplugging” usa deliberadamente a internet para divulgar o Dia da Desconexão. Tem até página no Facebook para um Sabbath Manifesto. No momento em que escrevo, 3.663 pessoas já “curtiram” essa página, que traz os princípios que eles defendem para o Dia.

O Reboot acha que esses princípios devem ser praticados do jeito que a pessoa quiser, com amigos, com família ou até com o bartender!

Dependentes

Dependência em tecnologia é assunto sério. Pesquisa da Universidade Stanford de 2006 já mostrava que mais de 12% dos adultos americanos viam necessidade de diminuir o uso de internet.

Pesquisa recente do Pew Research Center mostra que mensagens de texto são a principal forma de comunicação entre os adolescentes americanos. A média de mensagens trocada por dia entre os adolescentes de 14 a 17 anos aumentou de 60 em 2009 para 100 em 2011.

Na Europa, a primeira clínica para tratar viciados em videogame e Internet foi aberta em Amsterdam, Holanda, em 2006. Embora a clínica The Smith & Jones Center já tenha tratado centenas de pessoas, o fundador, Keith Bakker, diz não considerar os usuários compulsivos de jogos e Internet como “dependentes”, no sentido médico do termo. Ele argumenta que o problema é mais social do que psicológico.

Na Ásia a dimensão do problema é diferente. A Coréia do Sul foi o primeiro país do mundo a classificar dependência de Internet como doença e declará-la uma crise de saúde pública. O governo investiu bilhões em infraestrutura de comunicação desde 1994 para se tornar o país mais conectado do mundo.

Na Coréia do Sul, 97% das casas têm banda larga e 43% dos coreanos mantêm um blog.

Mas o governo coreano considera agora que 30% da população abaixo de 18 anos está em risco. Para combater o problema, o governo oferece tratamento em 200 centros de aconselhamento e hospitais. Já treinou mais de mil conselheiros em dependência de Internet. Nos centros, a estratégia é fazer os jovens brincar como as crianças de antigamente, aprendendo os jogos que eles nem conheceram por terem crescido com os rostos iluminados pelas telas eletrônicas.

A China também reconhece o problema e atua para combatê-lo, mantendo mais de 300 centros de tratamento. Dados oficiais dizem que entre 10 e 14% dos adolescentes chineses que usam a Internet são dependentes. O governo chegou a ordenar que empresas de games diminuíssem os pontos ganhos pelos jogadores menores de idade que jogassem mais de três horas por dia. Os garotos também receberam avisos do tipo: “Você atingiu um nível insalubre de tempo jogando; por favor, fique offline imediatamente para descansar”.

A TV pública americana PBS fez um excelente documentário sobre o tema. Não é novo, mas é importante. Veja aqui em inglês.

Confesso que eu mesma vivo há anos entre fisioterapeutas, médicos e remédios para tratar um espasmo muscular crônico nos ombros e pescoço. Sei as razões, mas ainda não consegui extirpá-las da minha vida. Nem sei se um dia conseguirei. Mas prometo melhorar. ;-)

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