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24/03/2010 - 16h25

''Firma'' de hackers descoberta na Ucrânia chegou a faturar US$ 180 milhões ao ano

Centenas de especialistas em computação, a maioria dos quais estudantes que trabalhavam para custear a universidade, lotavam três pavimentos de um edifício de escritórios em uma área industrial da capital ucraniana, Kiev, digitando códigos em ritmo frenético. Eles estavam criando alguns dos mais malignos lucrativos vírus de computador.

De acordo com documentos judiciais, antigos funcionários e investigadores, os visitantes eram atendidos à porta da empresa, a Innovative Marketing Ukraine, por um recepcionista. Cabos de comunicação se entrecruzavam pelo chão e uma pequena cafeteira ficava instalada na mesa de um dos funcionários.

Com a prosperidade de seus negócios, a empresa criou um departamento de recursos humanos, contratou uma equipe interna de tecnologia da informação e criou uma central telefônica para dissuadir vítimas de reclamar de cobranças indevidas em seus cartões de crédito. Os funcionários celebravam as ocasiões festivas em eventos bancados pela empresa e piqueniques com direito a torneios de paintball.

Os melhores desempenhos eram recompensados com bonificações, e os funcionários jovens preferiam fechar os olhos aos estragos causados pelos vírus. "Quando você tem só 20 anos, não pensa muito sobre ética", disse Maxim, antigo programador da Innovative Marketing, que hoje é empregado de um banco em Kiev e pediu para não ter seu sobrenome revelado. "Eu tinha um bom salário e sei que a maioria dos demais funcionários também tinha salários bons."

Raio-x
Em uma rara vitória contra o crime virtual, a companhia foi fechada no ano passado depois que a Federal Trade Commission (FTC) dos Estados Unidos apresentou processo solicitando sua dissolução em um tribunal federal norte-americano. Um exame da queixa da FTC e documentos relacionados a uma disputa judicial entre executivos da Innovative oferecem um raro vislumbre de um quadrante sombrio, crescente e altamente lucrativo da Internet.

A Innovative Marketing Ukraine, ou IMU, ocupava posição central em um complexo império empresarial clandestino que se estendia da Europa Oriental ao Barein; da Índia a Cingapura e aos EUA. Um pesquisador da McAfee, produtora de software de segurança, que dedicou meses a um estudo sobre a empresa estima que ela tenha gerado receitas de cerca de US$ 180 milhões em 2008, vendendo programas em pelo menos dois países. "Eles transformavam computadores invadidos em dinheiro", disse o pesquisador Kirk Kollberg.

A empresa construiu seu patrimônio como uma das pioneiras do chamado scareware, programas que fingem vasculhar um computador em busca de vírus e em seguida informam ao usuário que sua máquina está contaminada. O objetivo é convencer a vítima a fornecer informações sobre seu cartão de crédito e pagar entre US$ 50 e US$ 80 por uma "limpeza" de seu computador.

O scareware, também conhecido como rogueware ou falso software antivírus, se tornou um dos tipos mais comuns e de maior crescimento entre as fraudes da Internet. A produtora de software Panda Security estima que a cada mês cerca de 35 milhões de computadores, ou 3,5% dos computadores mundiais, sejam infectados por esses programas, e que isso resulte em rendas anuais de mais de US$ 400 milhões para os criminosos.

"Se incluirmos o custo em que os consumidores incorrem substituindo ou reparando computadores, o valor total dos danos é muito mais alto do que a soma simples", disse Ethan Arenson, advogado da FTC que ajuda a dirigir os esforços da agência no combate aos crimes de computação.

Esquema
Empresas como a Innovative Marketing criam os vírus e recolhem o dinheiro, mas atribuem o trabalho de distribuir as mercadorias a hackers externos. Quando infectados, os computadores se tornam praticamente impossíveis de operar. O scareware também remove os programas antivírus legítimos de fornecedores como Symantec, McAfee e Trend Micro, expondo os computadores a outros ataques.

Caso a vítima pague, o vírus parece desaparecer, mas em certos casos a máquina é infiltrada por outros programas maliciosos. Os hackers muitas vezes vendem os dados de cartão de crédito da vítima a quem pagar mais para eles.

A polícia enfrenta dificuldades para combater o scareware. Como a Innovative Marketing, a maioria das empresas do ramo tende a operar em países onde as leis permitem essas atividades ou as autoridades as ignoram. A polícia dos EUA, Europa Ocidental, Japão e Cingapura são as mais agressivas no combate a crimes de Internet, disse Mark Rasch, antigo diretor da unidade de crimes de computação do Departamento da Justiça norte-americano. "No resto do mundo, há menos rigor", disse ele. "A cooperação está melhorando mas o crime continua a crescer em ritmo mais rápido que a cooperação."

A FTC conseguiu convencer um juiz federal dos EUA a ordenar que a UMK e duas pessoas a ela associadas restituíssem US$ 163 milhões roubados a norte-americanos. Nenhum dos dois acusados apareceu, desde a abertura do processo, mais de um ano atrás. Mas Arenson, o advogado da FTC que conduziu o caso, advertiu: "os esforços para receber a indenização estão só começando".

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