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13/04/2007 - 07h00

Linux é opção boa e funcional, mas não é "plug-and-play"; veja guia

DANIEL PINHEIRO

Do UOL Tecnologia
Se você quer ter em seu computador um sistema operacional confiável, com uma interface gráfica moderna e equipado com todos os utilitários de uso comum atualmente —como navegador Web, processador de texto, planilha eletrônica, criador de apresentações, editor de imagens, tocador de mídia digital, entre outros— e custo zero, o Linux é uma boa opção.

O UOL Tecnologia mapeou o mundo Linux para quem quer se aventurar no software livre e buscar alternativas ao software proprietário, mas não é especialista em computação, nem entende de linhas de comando. Use os links ao lado para navegar pela reportagem e descobrir mais sobre o sistema.

Ao contrário do que gostam de afirmar os entusiastas do software livre, o Linux ainda não é tão simples assim para o usuário leigo. Algumas distribuições do sistema criado por Linus Torvalds no início dos anos 1990 conseguiram reduzir bastante o estigma de ser a escolha de iniciados e fanáticos por linha de comando (você ainda lembra do MS-DOS?), mas ainda não se trata de uma solução 100% "plug-and-play".

A reportagem chegou a esta conclusão após fazer (ou tentar) a instalação passo a passo de duas das distribuições tidas como mais amigáveis dentro do universo Linux —Ubuntu 6.10 e Mandriva One. Confira a seguir a epopéia.

É importante informar que ambas podem ser instaladas ou funcionam diretamente a partir da unidade de CD-ROM —modalidade conhecida como Live, que permite a execução do sistema operacional e de seus aplicativos sem a necessidade de copiá-los para o disco rígido do computador.

Obtendo o sistema
Para instalar uma distribuição, é preciso conseguir o que se chama de "imagem" do CD ou DVD, normalmente um arquivo com a extensão ISO. O arquivo ISO das duas distribuições escolhidas está disponível na Internet em diversos sites e servidores FTP, mas um local que concentra infomações sobre muitas distribuições é o DistroWatch. Nele você encontra dados sobra a versão mais atual locais de onde você pode baixar a imagem da distribuição escolhida. A imagem do Mandriva One foi baixada a partir de um servidor de FTP. Para o Ubuntu 6.10, utilizamos o site de uma universidade.

Uma vez feito o download da distribuição, é necessário copiar a imagem em um CD virgem —uma dica importante é escolher a opção de imagem de CD no programa de gravação— já que não é possível (ou pelo menos recomendável) instalar o Linux diretamente do Windows. Você precisa executar esse CD logo que seu computador é ligado, e outra dica é certificar-se de que seu PC está configurado para fazer a inicialização a partir do drive de CD-ROM. Você pode fazer esta configuração pela Bios de seu computador, acessada normalmente mantendo-se a tecla Del pressionada logo que liga o PC.

Começando a instalação
Nesse ponto, a reportagem passa a descrever a experiência de instalação das duas distribuições em um computador de testes do UOL Tecnologia —um Pentium 3 700 Mhz, com 512 MB de memória RAM, disco rígido de 80 GB e funções multimídia onboard, sem suporte para imagens 3D, que tinha a versão Professional do Windows XP instalada. Não se trata de uma máquina avançada, mas é uma configuração que simula um PC médio do brasileiro. A idéia foi tentar reproduzir a experiência de um usuário leigo diante da tarefa.

A distribuição escolhida para começar o teste foi a Mandriva One. Colocado o CD com a imagem da instalação da distribuição, o computador fez a inicialização e mostrou uma tela em que era possível escolher pela instalação no disco rígido ou a execução a partir do CD. Feita a escolha pela instalação, é hora de determinar o idioma em que o sistema será executado —há opção de português do Brasil.

Depois de aceitar o contrato de licença do sistema , é chegado o momento mais crítico para os usuários leigos —o particionamento do disco rígido. Isso porque o Linux utiliza um sistema de armazenamento de arquivos diferente dos sistemas Windows. Por isso, foi marcada a opção de Personalizar particionamento , para manter o XP no disco rígido.

Feito isso, o assistente de instalação mostra as partições existentes . A partir deste ponto, é possível notar que o Linux não é exatamente fácil de instalar e usar, já que não é informado que o sistema precisa de pelo menos duas partições para funcionar —a chamada raiz (conhecida pelo símbolo "/"), onde será feita a instalação, e uma reservada para trabalhar como memória RAM adicional quando o sistema for muito exigido, chamada de swap.

Como se tratava de um sistema com Windows instalado, todo o espaço livre disponível no disco rígido (cerca de 74 GB) aparecia como uma única partição. Então, é preciso selecioná-la para fazer o redimensionamento, o que provoca um aviso bastante assustador , mas verdadeiro —"Tenha cuidado: esta operação é perigosa. Você deveria fazer backup de todos os dados desta partição"— o que significa que é possível perder dados fundamentais para, por exemplo, voltar a executar o Windows.

Primeiro erro
Depois de escolhido o tamanho da partição raiz do Linux , o primeiro erro aparece. A ferramenta não conseguiu formatar o espaço em disco necessário porque o HD estava fragmentado . Nesse momento, foi preciso cancelar a instalação, voltar ao XP e executar o utilitário de desfragmentação de disco. A operação deu resultado, mas a instalação teve que ser recomeçada.

Chegando novamente ao momento do particionamento, foi criada uma partição raiz de 10 GB e uma swap com 1 GB Logo após, o assistente pede para que sejam selecionados os módulos a serem instalados . E, mais uma vez, falta informação —o usuário leigo sem contato com Linux não tem como saber quais são as opções necessárias.

A tela seguinte pede a senha para o root , que usuários de Windows devem conhecer como administrador —é o usuário autorizado a modificar configurações do sistema. Na seqüência, é possível criar mais usuários .

Após a criação de usuários, o assistente de instalação apresenta um resumo das opções feitas durante o processo e começa de fato a instalação, que levou cerca de 15 minutos, o que leva ao ponto mais esperado —a mensagem de instalação concluída com sucesso .

Começam os problemas
Logo após retirar o CD do drive e reiniciar o computador, a tela de escolha de instalação aparece, com as opções para Windows e Linux.

Selecionado o sistema operacional baseado no software livre, começam os problemas. A carga tem início, e a tela apresenta uma profusão de linhas de código sob fundo preto, imagem comum na inicialização dos Windows até a versão 2000. Após alguns segundos, ao invés serem mostradas as primeiras telas da interface gráfica, aparece um prompt em linha de comando, pedindo o login e a senha. Colocadas as informações, nada acontece. O prompt de comando segue piscando na tela, desta vez como se esperasse um comando.

É nesse momento que o usuário leigo pode desistir de usar o sistema. Afinal, a promessa era de um sistema funcional com interface gráfica —mas tudo que ele tem é uma linha de comando de um sistema operacional desconhecido. Ao contrário da maioria dos prováveis usuários de Linux, o UOL Tecnologia tinha à disposição um programador e especialista no sistema operacional criado por Linus Torvalds.

Foi ele quem, depois de inúmeros comandos e tentativas para executar a interface gráfica a partir do prompt, descobriu que o problema era a ausência o driver da placa de vídeo. Em uma das muitas tentativas de instalar o sistema, foi inclusive escolhida a opção de formatar o disco inteiro, que acabou excluindo o Windows XP da máquina —alternativa provavelmente indesejada por boa parte dos usuários iniciantes, que poderiam ter a opção de dividir o computador entre os sistemas para compará-los melhor antes de se decidir.

Vale notar que nem a habilidade e o conhecimento do especialista, usuário com tal experiência em Linux que programa sua própria distribuição, e a formatação completa do disco do computador para receber apenas o Mandriva One, conseguiram suplantar a falta de um componente fundamental ao sistema operacional. O tal driver da placa de vídeo.

É de se imaginar o que faria um usuário sem um suporte como o prestado ao UOL Tecnologia e sem a possibilidade de simplesmente descartar seu sistema em funcionamento e todas as informações que produziu com ele. O Linux, nesta hora, deixa de ser uma opção viável.

Passando para o Ubuntu
Para dar continuidade ao teste, a instalação do Mandriva One foi temporariamente interrompida. Assim, iniciamos a tentativa para rodar o Ubuntu em uma máquina, é importante notar, já mais preparada para receber o Linux —leia-se: sem Windows instalado e com a formatação do disco rígido já no padrão reconhecido pelo sistema de código aberto.

O início do processo é bastante semelhante ao do Mandriva One, com a escolha do idioma que será utilizado na instalação. Mas a diferença começa logo depois —ao invés de partir diretamente para a instalação, o Ubuntu começa a execução no modo Live CD.

Esse é um ponto obscuro no processo, já que não há a explicação específica para o usuário começar a instalação do sistema operacional. A tela mostra um ícone com o nome "Install" . Somente se o usuário clicar duas vezes no ícone é que começa a instalação —não se trata de uma falha, mas de excesso de confiança no conhecimento do usuário, ou falta de um processo de comunicação mais claro, que deixe o usuário mais seguro.

Então a instalação do Ubuntu começa de fato, como mostra a tela de boas-vindas , que novamente pede a confirmação do idioma em que será executado o sistema operacional. Logo em seguida, vem a configuração de data e hora , com o ajuste do fuso horário. Vale dizer que o sistema estranhamente colocava o fuso de São Paulo com três horas a menos que o horário correto, e foi necessária a correção manual.

A configuração de usuário acontece em uma tela só, e logo depois vem a opção de personalizar as partições do disco rígido. Como o ponto de partida era "terra arrasada" —já sem Windows e com o Mandriva One não funcional— mais uma vez a opção foi pela formatação total do HD e a criação das partições raiz e swap, com o mesmo tamanho usado na tentativa de instalação do Mandriva One.

Como no Mandriva One, o assistente então mostra um resumo das opções de instalação , para então começar a parte "chata" e não interativa do processo, que leva cerca de 25 minutos. Após isso, mais uma vez, aparece a desejada mensagem de instalação bem-sucedida , que no caso do Ubuntu foi realmente bem-sucedida. O sistema rodou normalmente após a retirada do CD do drive e do computador ser reiniciado.

Voltando ao Mandriva One
Para completar o teste e fazer mais uma tentativa de instalar o Mandriva One, foi adotada uma solução à qual a maioria dos leitores não poderia recorrer —um CD pré-gravado do Mandriva One, que foi obtido pelo UOL Tecnologia em uma coletiva de imprensa organizada pela Madriva no ano passado. E que pode ser comprado pelo usuário no site da empresa.

Dessa maneira, foi novamente feita a instalação, que basicamente segue todos os passos realizados nas diversas tentativas frustradas feitas anteriormente. A diferença é que desta vez o processo funcionou a contento e, finalmente foi possível executar o Mandriva One —tanto como live CD como instalado no disco rígido.

A única ressalva, que deve ser feita novamente, é que o usuário comum não teria como obter gratuitamente um CD como o utilizado no teste. Muito provavelmente ele teria que recorrer a uma revista que eventualmente encartasse um CD com essa distribuição ou ainda comprar a famosa "caixinha" do sistema operacional da Mandriva —solução esta não muito ortodoxa para os entusiastas do software livre.

De qualquer forma, depois de instalados os sistemas surpreendem. A interface gráfica de ambos é bastante intuitiva, e os programas disponíveis em cada uma das distribuições dão conta de todas as tarefas comuns a que um usuário médio de PC está acostumado. Com isso, fica o veredicto: se você tiver gosto por novidades no computador, um amigo "geek" e algum espaço de sobra no HD, vale experimentar o Linux. Mas não espere que tudo dê certo em uma hora —e faça um belo backup de seus dados antes de começar. Se as dificuldades iniciais forem transposta, você pode ter uma grata surpresa.

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