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06/09/2007 - 08h01

Em meio a farpas, guerra pela sucessão do DVD segue sem vencedor

DANIEL PINHEIRO

Do UOL Tecnologia, em Berlim (Alemanha)
Como você já deve saber, há uma guerra nem tão silenciosa assim pelo lugar de destaque na sua sala de estar. A indústria de eletrônicos de consumo precisa trocar o aparelho que reproduz discos digitais na sua TV ou em seu PC.

Houve muito investimento das empresas do ramo para criar um sucessor para o DVD (sigla em inglês para Digital Versatile Disc). E ele foi tanto que surgiram dois padrões brigando pela herança do atual rei —Blu-ray e HD DVD. E para justificar esse investimento, é preciso mostrar ao mundo que todos têm de trocar o DVD por algo mais moderno.

Para o brasileiro médio, essa guerra ainda está distante, mas começa sua aproximação inexorável, já que os primeiros tocadores dessa nova geração estão aos poucos entrando no Brasil. Claro que a um preço muito acima dos reprodutores de DVD, que agora podem ser encontrados por até menos de R$ 100 reais, e também os gravadores de mesa do formato, que estão abaixo dos R$ 400.

Mais um round
O UOL Tecnologia já acompanhou de perto essa luta em alguns rounds passados, como na edição de 2006 da IFA e na CES 2007, em Las Vegas. E presenciamos mais um assalto desta luta durante a IFA 2007, maior feira de eletrônicos da Europa, que acabou ontem em Berlim (Alemanha).

Como de costume, a primeira impressão é sempre a mesma —o Blu-ray está na frente. Isso porque é gritante a diferença entre a divulgação e publicidade do padrão capitaneado pela Sony frente à presença do HD DVD, que tem a Toshiba como principal empresa.

Se antes a luta era mais em um espírito de rivalidade futebolística, com alfinetadas e declarações respeitosas equilibrando-se, agora estamos em guerra mesmo, com contra-informação, uso de fontes conflitantes, acusações veladas e tudo mais. È assim que a batalha chega à IFA 2007.

Menos dinheiro com banner e faixa
Quando questionado sobre a quase invisibilidade do HD DVD frente ao Blu-ray pelos corredores desta edição da feira, Olivier van Wynnendaele, gerente assistente da operação européia da Toshiba diz de bate-pronto: "Eu acho que se eles quiserem continuar na briga, deveriam gastar menos dinheiro em faixas e banners e terminar de uma vez o BD-Java, que até agora não passa de fantasia".

Van Wynnendaele refere-se aos sucessivos atrasos que o consórcio Blu-ray tem sofrido para lançar sua plataforma de interatividade com o usuário, baseada em uma versão personalizada do conhecido Java, da Sun Microsystems. "Sem ele, sinto muito, esse disco aí não passa de um DVD com uma resolução um pouco melhor", diz.

David Walastra, vice-presidente da Blu-ray Disc Association e diretor de tecnologia de áudio e vídeo da Sony Europa, não perde a compostura e dispara, irônico: "Eu nem sei porque esse pessoal da Toshiba fala tanto de nós... Nossa briga não é com eles, e sim com o DVD, que ainda é responsável por 94% do mercado neste setor."

Números conflitantes
Quando cada um dos lados começa a defender sua hegemonia no mercado é que estamos diante da guerra mais nebulosa.

Os números são torcidos ao gosto de quem está falando e não podem ser confirmados, já que o gfu, instituto de pesquisas europeu que monitora o mercado de eletrônicos de consumo no continente, ainda mede a participação do DVD na área de discos digitais.

"Em número de títulos vendidos, o Blu-ray domina o mercado europeu com 70% do total, contra 30% do HD DVD", diz Walastra. "Se formos olhar a venda de players, o HD DVD lidera, em razão do preço do tocador da Toshiba, que é mais barato."

Até aí, os dois lados parecem concordar. "O que importa no final das contas é o seguinte: na venda de tocadores, o mercado europeu é nosso, numa proporção 70%-30%", diz Van Wynnendaele.

O fator Playstation3
"Isso, é claro, se você for como eles e simplesmente desconsiderar as vendas do Playstation 3 na Europa como drives Blu-ray porque se trata de um console de videogame", alfineta o executivo da Sony. "Só que o PS3 já vendeu 1,3 milhão de unidades no continente."

Walastra segue na trilha da importância dos videogames. "Ora, não é uma injustiça computar esses números, eles são um fato. E com eles nós temos 95% do mercado entre os sucessores do DVD."

O gerente da Toshiba não concorda com o argumento. Diz que não conta os números do console Xbox 360, da Microsoft, que pode ser equipado com um leitor de HD DVD por não tê-los e, principalmente, por achar que eles não são relevantes.

"Uma coisa é uma pessoa comprar um tocador de discos digitais diferente porque quer assistir a filmes em alta resolução", diz Van Wynnendaele. "Outra, totalmente diferente, é uma pessoa comprar um videogame que pode reproduzir filmes de uma nova tecnologia."

Para Van Wynnendaele, esse não é o alvo da indústria que quer suceder o DVD. "Você conhece alguém que deixou de comprar um tocador de DVD porque tinha a versão anterior do console da Sony [o Playstation2, que é capaz de reproduzir filmes gravados em DVD]? É claro que não!"

"Eu sinto muito se eles não acham os videogames importantes", diz Walastra. "Para o consórcio Blu-ray, é um ponto chave de nossa estratégia. Mas há algo que não bate aí, porque eles tem a Microsoft e o Xbox..."

O executivo da Toshiba rebate, e diz que os games são importantes, sim, para o padrão liderado pela empresa. "Claro que são importantes, principalmente porque promovem a interatividade com o usuário, coisa que quem compra um fime em Blu-ray ainda não tem."

Preços e fabricantes
A luta continua intensa quando se chega ao front dos preços e produtores. Mais uma vez, cada exército sabe atacar e defender quando o assunto é o próprio peixe.

"Basicamente, o HD DVD é o formato vencedor porque tem o tocador mais barato e o melhor disco para as pessoas assistirem a conteúdo em alta definição", diz Van Wynnendaele.

Para Walastra, essa tendência de liderança nos tocadores puros irá desaparecer em pouco tempo porque o Blu-ray tem mais empresas que apóiam o formato.

"Até o fim de 2007, nós teremos oito fabricantes presentes na Europa —Sony, Panasonic, Samsung, Pioneer, Philips, LG, Sharp e Denon", diz Walastra. "E eles? Quem têm? Toshiba, Microsoft... acho que mais ninguém. Mesmo que o preço for mais baixo um pouco, são as vendas de oito contra um, no máximo dois.'

Van Wynnendaele rebate a afirmação e revela novos parceiros. "Até o Natal, estará no mercado europeu uma linha de players HD DVD fabricados pela chinesa Venturer, por € 299 ou ainda menos."

"Além disso, nos EUA, tabém até o fim do ano, serão lançados tocadores nossos da Onkyo, que custarão US$ 199", ataca o executivo da Toshiba.

Marca psicológica
Ambos os evangelistas dos novos padrões concordam em uma coisa —a barreira dos 500 dólares ou euros precisa ser quebrada para que a adoção dos novos padrões aconteça de fato.

"O nosso número mágico é o 500", diz Walastra. "O 'pulo-do-gato', pelo menos para o Blu-ray, acontecerá quando os tocadores quebrarem a barreira dos € 500, daí sim haverá mais penetração. Enquanto isso, deve-se manter esses 2% ou 3% de mercado na Europa para o nosso padrão."

"É claro que há essa barreira", diz Van Wynnendaele. "É uma matemática relativamente simples —um bom tocador de DVD, de alta definição, com mais recursos, custa cerca de € 300. Se for possível comprar um produto que oferece muito mais qualidade e que não custe tanto, é nesse ponto que o consumidor vai começar a olhar o HD DVD e comprá-lo."

Para o funcionário da Toshiba, é daí quem vem sua certeza de que o HD DVD será o formato vencedor da guerra de sucessão do DVD.

"Estou tranqüilo, porque além de termos o melhor produto, temos os melhores preços", afirma o holandês. "A batalha será dura, porque a concorrência é forte."

Veremos por que caminhos seguirão essa batalha nos próximos assaltos. Estamos de olho.

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