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23/11/2007 - 09h27
Viciados buscam ajuda em hospital e Jogadores Anônimos

Rodrigo Bertolotto
Em São Paulo

Entre as dezenas de pacientes na sala de espera no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, eles podem ser diagnosticados facilmente: são os que levam no colo um laptop. Em meio a esquizofrênicos, maníacos e deprimidos, lá estão os "dependentes de tecnologia" ou mais especificamente os viciados em internet (em inglês o termo é sintético: "netaddicted").

"Tem um cliente meu que entrou para a sessão e não quis desligar o computador porque estava acompanhando as cotações da bolsa. Fiz que ele apagasse aquela porcaria", diz o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, um dos responsáveis pelo primeiro programa de assistência a esse mal no país, formado no início do ano no HC de São Paulo.

OITO SINTOMAS DO VÍCIO
Thiago Bernardes/UOL
 
Preocupação excessiva com a Internet
Necessidade de aumentar o tempo online para ter a mesma satisfação
Exibe esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da Internet
Irritabilidade e/ou depressão
Quando o uso da Internet é restringido, apresenta instabilidade emocional
Permanece mais conectado do que tinha programado inicialmente
Trabalho e relações sociais ficam em risco pelo uso excessivo
Mente aos outros a respeito da quantidade de horas conectadas
Os casos dessa síndrome da modernidade, porém, podem chegar a extremos bem maiores. Um rapaz ficou dois anos sem sair de casa só jogando videogame e vivendo em sites de relacionamentos. Largou a escola, mas ganhava dinheiro montando sites que eram muito visitados e colecionando prêmios na internet. "Ele chegou branco ao consultório. Não via a luz do sol. Hoje está internado em um hospital psiquiátrico", conta Nabuco, que tem outro paciente com essas características.

A mãe dele procurou ajuda quando o caso virou um problema no condomínio. O filho de 16 anos arremessava as cuecas sujas pela janela, e elas pousavam no estacionamento do prédio. O adolescente não sai da frente do computador para nada. "Ele perdeu totalmente a capacidade de se relacionar com as pessoas aos nove anos, quando os pais se separaram e ele se refugiou no computador", relata o psicólogo.

Para Nabuco, os pacientes podem sofrer uma patologia anterior (como depressão ou ansiedade), mas acabam desenvolvendo características específicas da dependência tecnológica. Ele e os colegas do HC preferem encaixar a doença em meio aos "transtornos de controle dos impulsos", junto com a piromania, o sexo compulsivo, a febre consumista, a auto-mutilação e a cleptomania.

"Eles são extremamente inteligentes. Não aceitam recomendações sem uma explicação. Querem saber o porquê de tudo e já chegam para a consulta com tudo pesquisado sobre psicologia", afirma Nabuco. Um subgrupo são os viciados por informação, gente que desde que acorda até que dorme está apertando o botão F5 para atualizar portais e caixas de entrada.

Thiago Bernardes/UOL
Viciados em Internet já podem se tratar no Hospital das Clínicas de São Paulo
Mas qual é a fronteira entre um uso convencional e a patologia virtual? O cálculo é que 10% dos doentes são heavy users, aqueles que navegam mais de cinco horas diariamente. Esse número é discutível, afinal, muita gente trabalha na rede e há casos excepcionais e temporários, como um garoto que ganha um computador e passa uma temporada fascinado com o brinquedo novo. O Brasil lidera o ranking mundial de usuários domésticos (19,3 milhões), ou seja, quase 2 milhões de pessoas podem ser alvo.

Segundo do ranking, o Japão tem mais de 600 mil pessoas que vivem reclusas em seus quartos e computadores, mostrando agressividade no contato social ou familiar. São os hikikomoris, um fenômeno que surgiu com força a partir da recessão da década passada (80% dos casos são de homens com mais de 30 anos que passaram alguma pequena frustração na vida cotidiana).

Jogadores Anônimos
O computador serve como um prozac virtual, diminui a depressão, alivia tensão, controla o humor, serve de amigo e de babá. Tudo pode começar com os videogames, passar pelos sites de relacionamento, apostas online e pode terminar como um home broker, operador da bolsa que não sai de casa e lucra com a atual economia lotérica.

A associação Jogadores Anônimos vem aceitando em suas filas garotos que se viciaram em games. Eles fazem orações, dão depoimento e seguem 12 passos para deixarem a vida viciosa, mesmo roteiro dos alcoólatras e narcóticos. O técnico em informática Ricardo (nome fictício para manter seu anonimato) vai às reuniões da sede em São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste paulistana, em meio a aposentadas viciadas em bingo ou desempregados que caíram do jóquei para o videopôquer e depois o caça-níquel - sem esquecer a oficial megasena e os cassinos clandestinos.

"Acabei me identificando com eles, porque fazia e sentia as mesmas coisas. Mentia para a família, falava que ia trabalhar ou estudar e acaba o dia todo na lan house. Depois de disperdiçar meu dia, ficava com remorso e queria me jogar na frente do metrô ou do ônibus", conta Ricardo, 20.

A diferença é que ele não levaria sua família a falência mesmo se quisesse, afinal, a hora em uma lan custa em média R$ 1. Por seus cálculos, em três anos (dos 16 aos 19 anos), gastou R$ 1.000, quantia que um apostador forte gasta em minutos. Mas Ricardo foi demitido de três empregos (foi operador de telemarketing e monitorou câmeras de vigilância) e perdeu vaga na faculdade por faltas. Ele pegava o dinheiro do almoço, se enfiava em uma lan chamada Cybercaverna, na Mooca, e "fazia fotossíntese com a luz da tela do computador", em suas próprias palavras.

"Hoje não entro em lan house, mas vejo todos os preços quando passo em frente. Sei que está ainda dentro de mim. Muitos amigos ainda estão nessa. Esse vício vai estourar como um problema de saúde crônico em poucos anos", diz Ricardo.

Há também blogs que funcionam como reuniões de jogadores anônimos, com viciados contando suas histórias, em uma mistura de terapia de grupo e confessionário. Um desses diários eletrônicos relata desde o contato com o videogame Atari na década de 80 até o transtorno de comportamento: "No meu caso, na minha pior época do vício, eu passava literalmente umas 12 horas jogando, seis dormindo e seis que sobravam comendo, vendo TV e invariavelmente pensando no jogo. Como muitas vezes eu sonhava com jogos, posso dizer que às vezes eu ficava em contato com o vício 24 horas por dia."

Ao contrário do álcool ou drogas ilícitas, porém, a Internet ou a informática não são algo a que se possa renunciar, já que cada vez mais permeiam toda atividade humana (há até atendimento psicológico por e-mail aos "netaddicteds"). Em 2006, se estipulou um dia mundial como o "Shutdown Day" para denunciar o problema -no Brasil, a data não pegou.

Já o tratamento coletivo no Hospital das Clínicas até agora só cuidou de adultos. A prática de 18 semanas mostra os lados positivos e negativos da Internet e expõe que o computador acaba servindo de escapismo para problemas pessoais ou familiares. Em 2008, deve-se formar o primeiro grupo de adolescentes no HC.

"Estamos atendendo individualmente os menores para pegar o jeito de como lidar com eles", diz o psicólogo responsável. Para Nabuco, o risco do aprisionamento de adolescentes no mundo virtual é reflexo da atitude de muitos pais que acham que o computador é um porto seguro e distante da violência das ruas. Mas não é tão inofensivo assim.

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