O que a rede sabe de mim? Saiba que dados são coletados por serviços da web

Stefanie Silveira

Stefanie Silveira

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Os termos e condições abaixo se aplicam...Concordar! Quem nunca clicou nesta opção logo após terminar de ler as primeiras frases de um longo e cansativo documento que resume os termos e condições de um serviço que estamos assinando? A maioria de nós não dedica a este documento a atenção devida. Além do fato dessas condições não serem apresentadas de uma forma que motive a leitura, o atrativo do serviço em si e o valor que está agregado nele costuma ser uma grande moeda de troca na hora de nos fazer abrir mão do que está sendo pedido nos termos de uso.

Uma coisa é importante ter em mente: não existe almoço grátis em lugar nenhum, muito menos na internet. Se algo está te oferecendo uma super plataforma de emails ou de mensagens é porque em troca disso, muitos dados seus serão capturados. Até pouco tempo, não dávamos a devida importância a esses dados, mas depois dos mais recentes escândalos envolvendo vazamentos e vendas de informações, começamos a perceber que o big data não é inofensivo.

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Além de trabalhar para que recebamos não só cada vez mais anúncios publicitários, mas também, cada vez mais anúncios extremamente personalizados, que sejam capazes de "ler os pensamentos" e desejos mais profundos do consumidor, a coleta e refinamento do big data também pode servir para nos entregar conteúdo político enviesado ou enganoso.

Depois de nos darmos conta dessas possibilidades de uso do big data, também é importante entender o que exatamente compõe essa massa gigantesca de dados coletados de todos usuários de internet. O que efetivamente está sendo monitorado e que dados vão construir os perfis dos consumidores na rede? Quase tudo seria uma resposta adequada.

Não são apenas curtidas, comentários e compartilhamentos que vão para esse banco de dados. O movimento do cursor do seu mouse na tela também é uma das informações possíveis de serem capturadas, além do tempo que você para em cima de determinado "post" ou conteúdo. Mesmo sem "interagir diretamente", se você parou por cinco segundos para ler uma informação e oito para ler outra, isso já é um dado a ser computado pelo algoritmo.

Se você costuma deixar abas abertas no computador e navegar entre essas abas, esta também é uma informação capturada. Saber se você está dedicando atenção em primeiro ou segundo plano a determinado serviço é importante para compreender o seu modo de operação dentro dele. Estes dados do seu computador também são cruzados com o do celular e de qualquer outro dispositivo que você use logado. Além do cruzamento de dados entre dispositivos, também são cruzadas informações sobre os diferentes serviços que você utiliza em todos aparelhos.

Tudo está sendo monitorado o tempo todo.

Sistema operacional, capacidade da bateria e de armazenamento, modelo do dispositivo, atualizações recentes, sinal de wi-fi, sinal de operadora, velocidade de conexão, localização (atual e histórico), tudo isso faz parte de um conjunto de informações que, por exemplo, o Facebook tem sobre você, de acordo com um dossiê entregue pela própria plataforma ao Senado dos Estados Unidos

Isso sem contar, é claro, a sua voz. Aquilo que mais parece "coisa de Black Mirror" ou "teoria da conspiração" é sim verdade. Nossos dispositivos são capazes de nos ouvir, detectar e gravar determinadas palavras-chave que podem ser úteis para determinados serviços que são capazes de realizar esse tipo de coleta. O Google, por exemplo, é aberto com relação a isso e disponibiliza, inclusive, um link para que você possa ouvir as gravações que ele realizou.

É importante salientar que esses dados não são vendidos para terceiros na forma de perfis pessoais específicos. Ou seja, o Facebook não diz para o anunciante: "veja aqui o perfil da Stefanie e se ele lhe interessa". Para terceiros, os dados se mantêm anônimos e a negociação funciona da seguinte maneira: "invista uma quantia x neste anúncio e a plataforma o entregará para os perfis de usuário que corresponderem aos seus interesses". Isso, é claro, quando não ocorrem falhas na plataforma e serviços primários como "testes de personalidade" são capazes de coletar dados pessoais a partir do seu aceite nos termos de uso.

Por isso, é importante ter cuidado com os aplicativos que vinculamos aos nossos logins e contas em plataformas de email, redes sociais e outros. Seus dados valem muito dinheiro, não os entregue a preço de banana.

Stefanie Silveira

Stefanie Silveira é jornalista, professora da UFSC e doutora em Comunicação pela USP. Sua atuação profissional inclui passagens pela Folha de São Paulo, Editora Abril, Agência de Notícias EFE, jornal Zero Hora e universidades do Sul e Sudeste do país. Atua também como pesquisadora de mídias digitais nos grupos COM+ na USP e Nephi-Jor na UFSC.

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