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Carro de três rodas: quando o financiamento coletivo dá errado

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Imagem: Shutterstock

Do UOL, em São Paulo

07/06/2018 04h00

Se um amigo te pede dinheiro emprestado para começar um negócio, você ajuda?

Não é uma resposta muito fácil, mas é mais ou menos o que os sites de financiamento coletivo Kickstarter e Indiegogo fazem há uma década. Graças a eles, milhares de apostas em novos produtos ou serviços se tornaram realidade. Mas há o lado negativo desse conto de fadas.

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Surgido em 2008, o Indiegogo já obteve até aqui mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 5,9 bilhões) em fundos para mais de 275 mil campanhas. O Kickstarter, nascido no ano seguinte, conseguiu US$ 3,7 bilhões (R$ 14,7 bilhões) para 145 mil projetos. São números de respeito, mas que não asseguram que todos os projetos darão certo.

Como muitos projetos são iniciados por pessoas físicas ou pequenas empresas, o dilema expectativa x realidade é bem latente: vários projetos sofrem com problemas no desenvolvimento ou produção, e os atrasos para a entrega final do produto são relativamente comuns. Veja alguns produtos que gostaríamos que tivessem saído do papel.

  • Reprodução/Scidle

    A união ideal do celular com o laptop

    O Superbook, da empresa Santio, prometia o mundo ideal para pessoas que só mantêm um notebook em casa para aquelas situações em que o mouse e teclado são essenciais. Com ele, qualquer smartphone Android poderia ser ligado a uma "casca" de notebook que ganha vida, usando os apps e o processamento do celular em uma interface amigável, similar à do Windows --e por apenas US$ 139 (R$ 554). Com entrega prevista para agosto de 2016, até agora nada. O último problema apontado pela equipe foi falta de dinheiro para cobrir a distribuição do produto. Vários apoiadores já comentaram que estão pedindo seu dinheiro de volta no Kickstarter.

  • Reprodução/Scidle

    Wikipedia impressa

    Em 2014, a editora PediaPress tentou levantar US$ 50 mil (R$ 199 mil) em fundos na Indiegogo para imprimir a Wikipedia. Isso, você não leu errado: o projeto queria imprimir em livros de papel todo o conteúdo da popular enciclopédia online. Segundo o "Guardian", incluiria textos e imagens e acreditava-se que tudo daria em cerca de mil livros, com 1.200 páginas cada (!). Além de ser uma ideia questionável --afinal, a graça da Wiki é estar em constante atualização, de forma aberta-- o projeto teve um fim esquisito: a página de arrecadação simplesmente desapareceu.

  • Um carro de três rodas

    A Elio Motors tinha um projeto ousado: um carro de apenas três rodas, bem compacto mas com capacidade para duas pessoas. Em vez dos demais desta lista, este não foi via Indiegogo ou Kickstater. A empresa fez em 2014 sua campanha de arrecadação em outro site, o StartEngine, por meio de uma lei americana chamada Regulamento A, que dá participação de capital na empresa a quem financiar o projeto. Até 2015, mais de 100 mil investidores prometeram investir US$ 37 milhões. Mas não apenas o montante esperado pela empresa para começar a produção seria de US$ 100 milhões, como a empresa se afundou em dívidas. Pouca gente espera que o projeto enfim saia do papel.

  • Minilavadora de roupas

    Está sem grana ou tem apartamento pequeno demais para comprar uma lavadora grande? Conheça a Drumi, máquina de lavar pequenina que usa quantidades mínimas de água e sem eletricidade --ela é movida por um pedal, com seu pé sendo o motor. Apesar de um pouco cara --US$ 299 (R$ 1.193)-- o projeto foi financiado com sobras. Mas isso foi há dois anos. A empresa responsável, a Yirego, prometeu entrega para agosto passado (o que não rolou), e ainda que a lavadora esteja em pré-venda no site deles, não há notícias desde janeiro deste ano.

  • Bolinha para dispensar o sabão

    A Crystal Wash 2.0 é uma bolinha com propriedades para dispensar o sabão na lavadora de roupas. Seria feita de uma biocerâmica especial que foi desenvolvida com "vários minerais com propriedades antibacterianas e anti-oxidantes muito eficazes". Além disso, teria recursos conectados ao smartphone, sabe-se lá como. Esse papo furado foi em 2015, e lógico, nada até agora. O site "Gizmodo" tentou entrar em contato com a empresa, que alegou não ter criado o produto, e sim "cientistas coreanos".

  • Aparelho para respirar debaixo d'água

    "Triton. Um respirador de oxigênio de última geração, que permite que você respire debaixo d'água por até 45 minutos e a uma profundidade máxima de 4,5 metros, utilizando nossa tecnologia de 'brânquias artificiais' e de oxigênio líquido". Já deu para sentir o drama? A empresa admitiu ter enganado seus apoiadores e teve que devolver quase US$ 900 mil (R$ 3,5 milhões). A página original saiu do ar em 2016 após muita pressão --foi criada até uma campanha paralela no Indiegogo apenas para alertar os ingênuos da fraude.

  • Lâmina de barbear a laser

    Em 2015, o Skarp Laser Razor era uma interessante lâmina de barbear a laser para remover os pêlos. Aparentemente, o cabelo humano contém um cromóforo (uma partícula que pode absorver certos comprimentos de onda da luz) que permite que os folículos sejam cortados quando atingidos por um determinado comprimento de onda da luz. A empresa do projeto, a Skarp Technologies, afirmou ter um protótipo funcional, mas isso não era verdade, o que violava as regras do Kickstarter. Até então, mais de 20 mil apoiadores investiram mais de US$ 4 milhões (R$ 16 milhões). Por isso, o projeto foi suspenso pelo próprio Kickstarter.

  • Relógio superfino

    Em 2013, a empresa Central Standard Timing dizia ter produzido o relógio mais fino do mundo. 0 CST-01 teria 0,8 milímetros de espessura, mais fino que um cartão de crédito, e teria um corpo de aço inoxidável mais uma tela de e-ink (tinta eletrônica), usada em leitores digitais como o Kindle. Mais de US$ 1 milhão (R$ 3,9 milhões) foi arrecadado no Kickstarter. Em 2016, a empresa declarou falência. O relógio saiu? Claro que não.

  • O melhor amigo do cão?

    O Buddy+ é um robozinho para ser companhia para cães que poderia gravar vídeos, tirar fotos, lançar bolas, ser um walkie-talkie entre o cachorro e o dono etc. E seria controlado por app de celular. Apesar de a empresa ter conseguido levantar uma meta relativamente modesta --US$ 11,7 mil, com só 35 apoiadores-- a entrega foi prometida para dezembro passado, mas nada ainda... e estranhamente o produto também está á venda na Amazon por US$ 899 (R$ 3,5 mil), deixando os apoiadores irritados com a confusão. Será que vinga?

  • Pulseira que mede calorias ingeridas

    Smartwatches conseguem medir aproximadamente calorias perdidas em exercícios, mas a empresa Healbe, de Moscou, prometeu trazer em 2014 o GoBe, pulseira eletrônica anunciada como "a única maneira de medir automaticamente a ingestão de calorias através da sua pele". O site "PandoDaily" fez reportagem afirmando ser um produto impossível. A empresa acabou sim lançando-o, mas nos comentários do Indiegogo, muitos afirmam não ter recebido, e os que receberam criticaram sua qualidade, por não rastrear calorias com a precisão prometida e ainda ter uma bateria ruim. No ano passado, a empresa soltou a segunda versão do produto. Desta vez parece acompanhar melhor a ingestão de calorias, segundo testes do "Engadget". Só podiam ter acertado da primeira vez...