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Por que o Waze faz tanto sucesso?

Daniel Pardo

Em Caracas

07/06/2015 16h18

O biólogo Carlos Garcia, de 34 anos, vive em Brasília e diz ser ansioso por natureza. Mas ele encontrou no aplicativo para celular Waze, que indica as melhores rotas de trânsito, uma forma de aplacar este sentimento.

"Quando um amigo me contou do Waze, fiquei impressionado. Ele me conquistou quando me indicou a hora em que chegaria a meu destino, algo fundamental para alguém como eu, que sofre de ansiedade", conta ele. "Com o programa, percebi que não preciso correr tanto, porque dá no mesmo se vou rápido ou mais devagar."

Garcia é um "global champ", nome dado aos membros do serviço que mais contribuem para a atualização dos seus mapas. Existem 23 mil usuários classificados assim pelo Waze, dos quais 6 mil estão na América Latina.

São pessoas que usam fóruns on-line para corrigir, aperfeiçoar e editar os mapas interativos, uma contribuição essencial para garantir a eficácia do serviço.

Garcia dedica várias horas de seu dia aos mapas do Brasil, um dos países mais ativos do mundo no Waze. E o faz, de forma voluntária, porque acredita tratar-se de uma revolução.

"Ao antecipar como estará o caminho, o Waze permite reduzir o número de mortes nas ruas e estradas", avalia. "Além disso, permite economizar combustível, que as ambulâncias se planejem melhor e que sejam reduzidas as emissões de poluentes."

Segundo os estudos da empresa, o Waze permite economizar 15% do tempo que alguém passaria em um carro sem ele. Seria o equivalente a cinco minutos de um trajeto que normalmente tomaria 30 minutos.

"Se multiplicarmos isso pelos 260 dias úteis do ano, estes cinco minutos se transformam em 60 horas de economia de combustível e emissão de carbono", diz Garcia.

"Pense o que isso significa em uma cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro, onde as estimativas oficiais dão conta que os cidadãos passam 1h40 por dia em seus carros."

'Comunidade apaixonada'

Fundada em 2008 por dois israelenses e comprada pelo Google cinco anos depois, por US$ 1,1 bilhão (R$ 3,3 bilhões), a companhia depende da contribuição dos usuários.

Os dados enviados por cada um deles a partir das ruas criam um mapa interativo, no qual são sinalizados engarrafamentos, bloqueios, obras e quase tudo que pode estar no seu caminho.

E um aplicativo capaz de ajudar a descobrir caminhos e a aliviar congestionamentos é muito bem-vindo na América Latina, uma das regiões do mundo que mais utiliza o programa.

"Não temos apenas uma comunidade de usuários enorme e crescente na América Latina. É uma comunidade muito apaixonada e proativa",diz o porta-voz da companhia, Trak Lord.

"Em San José, na Costa Rica, o Waze tem sido uma ótima ferramenta para elucidar os complicados caminhos da cidade, que dependem de indicações como 'a sorveteria' ou 'o poste de luz'."

De fato, na capital deste país sul-americano, onde o Waze tem 400 mil membros, tornou-se comum que alguém envie um link fornecido pelo aplicativo para indicar um endereço ou o coloque em um convite para um evento.

"São exemplos da maneira como o Waze funciona em cidades que se expandem de maneira espontânea, como as latinoamericanas", diz Adrián Singer, administrador uruguaio da comunidade do Waze na região.

Milhões de usuários

É por causa do aplicativo que Mônica discute praticamente todos os dias com sua mãe. Trata-se de um dilema entre gerações: Inês, sua mãe, não acredita no Waze, porque diz conhecer melhores os caminhos da cidade que "esse robô".

Por sua vez, Mônica é praticamente viciada no serviço, que informa onde há engarrafamentos em Bogotá, capital da Colômbia, quais rotas alternativas pegas e quanto tempo levará para chegar a seu destino.

A cidade está entre as dez que mais usam o aplicativo na América Latina, junto com duas cidades brasileiras:

Cidade do México (México)San José (Costa Rica)Bogotá (Colômbia)São Paulo (Brasil)Rio de Janeiro (Brasil)Buenos Aires (Argentina)Santiago (Chile)Segundo o Waze, cada uma delas tem entre 1 milhão e 3 milhões de usuários ativos.

No Brasil, para a visita do papa Francisco e a Copa do Mundo, o governo do Estado do Rio fez uma parceria com a empresa para indicar as melhores rotas no trânsito.

Assim, as informações passadas por cidadãos são recolhidas pela Prefeitura do Rio, que os une às informações de câmeras, centro de operações e policiais, para atualizar os mapas.

Este tipo de cooperação está sendo feita entre o Waze e governantes em diversas partes do mundo.

Críticas e limitações

No entanto, isso gera uma preocupação comum entre analistas de tecnologia: como isso afeta nossa privacidade?

Porque os usuários indicam onde estão 24 horas por dia, sempre que mantêm o aplicativo ligado.

Mas o programa permite usar um estatus anônimo para as contribuições, e suas políticas de privacidade são bastante rigorosas.

Ao mesmo tempo, o Waze tem seus críticos e limitações. Qualquer um pode fazer um relato de um problema, e um usuário pode usá-lo para evitar a fiscalização - e multas;

Além disso, quando há um número limitado de usuários, sua eficácia fica prejudicada. O mesmo ocorre quando a conexão de internet móvel é ruim.

Em Caracas, capital da Venezuela, por exemplo, o Waze não funciona bem, porque a cidade tem uma conexão móvel lenta.

"Há muito lugares de Caracas onde o sinal de internet some. Às vezes, você se depara com um engarrafamento que não era informado no aplicativo", diz Enrique, um taxista da cidade.

Por isso, assim como a maioria dos habitantes da cidade, ele ainda prefere recorrer ao serviço de trânsito no rádio, que usa um helicóptero para dar informações do trânsito.

Este tipo de serviço ainda resiste na capital da Venezuela, mas, a julgar pelo que ocorreu em outras grandes cidades da América Latina, está com os dias contados. Nestas metrópoles, o rádio voltou a ser usado para escutar música, enquanto a popularidade do Waze não para de crescer.