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Bolsonaro, memes e conspirações viralizam nas redes após delação da JBS, diz pesquisa

29/05/2017 08h55

Um estudo da Universidade de São Paulo analisou 19 mil matérias online desde a divulgação da delação premiada da JBS e destaca que conteúdos envolvendo o deputado Jair Bolsonaro, memes e matérias humorísticas sobre os personagens da crise e teorias conspiratórias sobre o caso lideram os compartilhamentos nas redes sociais.

A pesquisa do Monitor de Debate Político no Meio Digital acompanha 120 sites de notícias políticas - incluindo imprensa tradicional, sites engajados e independentes -, além das 500 páginas sobre política mais relevantes do Facebook, para identificar o comportamento dos usuários.

Segundo o ranking, elaborado a pedido da BBC Brasil, o conteúdo mais compartilhado sobre política entre 18 e 24 de maio é uma reportagem de 2014 do portal InfoMoney com o título "Se eu não for candidato, quero ser vice de Aécio", diz Jair Bolsonaro. A reportagem teve 355.358 compartilhamentos nesse período.

O CONTEÚDO POLÍTICO MAIS COMPARTILHADO NAS REDES (18-25/05/2017)

1- InfoMoney: "Se eu não for candidato, quero ser vice de Aécio", diz Jair Bolsonaro (335.858 compartilhamentos)

2- Sensacionalista: Perícia diz que brilho na testa de Temer é óleo de peroba (300.242)

3- Giphy.com: Gif com presidente Temer (197.300)

4- Giphy.com: Gif personagens políticos (195.993)

5- Giphy.com: House of Cards Brasil (167.760)

6- Imprensa Viva: Derrubar Temer - O plano B da Friboi e Lula para que ele concorra à Presidência antes de ser condenado na Lava Jato (159.708)

7- Giphy.com: House of Cards Brasil (137.500)

8- Vice: Prestação de contas no site do TSE mostra que Bolsonaro recebeu doação da JBS (122.800)

9- Giphy.com: House of Cards Brasil (116.588)

10- Metropoles: Site do TSE mostra que Bolsonaro recebeu doação da JBS (115.267)

Fonte: Monitor de Debate Político no Meio Digital

Os dez conteúdos mais compartilhados relacionados à política incluem cinco gifs sobre a crise, que, juntos, somam 812 mil compartilhamentos. Para se ter uma ideia, dos outros cinco lugares, um ainda é sobre humor, do portal Sensacionalista, e somente quatro são reportagens ou textos jornalísticos de portais independentes ou da grande imprensa.

Além desta, outras reportagem contrária ao deputado, publicada na portal Metrópoles, teve 115 mil compartilhamentos e sugeria que "Bolsonaro recebeu doação da JBS". Outra matéria, do portal independente de notícias Vice, chegou a 122 mil compartilhamentos com o título "Prestação de contas no site do TSE mostra que Bolsonaro recebeu doação da JBS".

Humor

Outra tendência verificada nas redes nesse período de crise pós-delação da JBS é o interesse pelos conteúdos humorísticos, com destaque para aqueles produzidos por Sensacionalista e Buzzfeed. "Matérias de humor do Buzzfeed, Sensacionalista e memes ocupam quase metade das matérias mais compartilhadas sobre a delação. Até notícias de sites não humorísticos foram compartilhadas como piada", diz o pesquisador Pablo Ortellado, responsável pelo estudo.

Uma manchete de sátira do Sensacionalista - "Perícia diz que brilho na testa de Temer é óleo de peroba" - foi a segunda mais compartilhada do período, 300 mil vezes. Ela foi seguida por memes e gifs do portal giphy.com que se espalharam por meio de diversas páginas de Facebook e tiveram mais de 190 mil compartilhamentos - entre eles o mais popular foi uma paródia da série House of Cards aqui no Brasil.

Teorias da conspiração

As teorias de conspiração tentando explicar a complexidade do caso também apareceram com frequência entre os mais compartilhados na semana que se seguiu à divulgação da delação da JBS.

Sites de esquerda e direita sugeriram versões engajadas sobre o envolvimento dos executivos com a política.

O terceiro material sobre a crise mais compartilhado no período é um texto do portal Imprensa Viva sobre um suposto esquema do ex-presidente Lula com a Friboi para lançar sua candidatura, com o título: "Derrubar Temer: O plano B da Friboi e Lula para que ele concorra à Presidência antes de ser condenado pela Lava Jato". Teve mais de 159 mil compartilhamentos.

Do outro lado, o portal Plantão Brasil conquistou 39 mil compartilhamentos com a manchete "Por que a Globo (golpista) deu o furo que pode derrubar Temer? Entenda!" no mesmo período.

Polarização

O professor Pablo Ortellado, aponta ainda que a polarização se mantém no país, apesar de a crise atingir políticos de diversos partidos.

Segundo ele, uma análise detalhada do conteúdo compartilhado mostra que somente em um primeiro momento - nas 24 horas após a delação ter sido divulgada - o público compartilhou e demonstrou mais interesse por reportagens informativas e descritivas, que traziam informações mais precisas sobre os fatos envolvidos na delação e suas consequências e reações.

Logo depois, a tendência de polarização e do compartilhamento de conteúdo feito por portais engajados politicamente - de esquerda e direita - retomou fôlego.

"O que se percebe é que a polarização continua com o padrão: metade dos compartilhamentos é da grande imprensa e a imprensa alternativa de esquerda e direita divide a outra metade, com algumas variações. A tendência estrutural é essa, e ela voltou a se estruturar depois do primeiro impacto", avalia.

"A crise provocada pela delação da JBS só suspendeu a polarização momentaneamente".

Ele aponta, no entanto, outro comportamento de destaque nesse sentido desde a delação da JBS: a mudança de opinião dos portais mais de direita sobre as eleições diretas após os sites de esquerda incorporarem o discurso pedindo o pleito.

"Como essa polarização é um fenômeno relacional, tudo o que um lado quer, o outro nega. Nosso grupo tinha observado que o campo antipetista rechaçava o (presidente Michel) Temer e estava aberto à discussão sobre eleições diretas. Atualmente, no entanto, após a esquerda adotar a bandeira das diretas já, não há praticamente nenhuma menção sobre as diretas no conteúdo divulgado e compartilhado por esses grupos de direita, que passaram a considerar o pleito direto como um subterfúgio para uma eventual a eleição do Lula".