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Os óculos de reconhecimento facial da polícia chinesa que identificam suspeitos em tempo real

Através dos novos óculos inteligentes, polícia pode fotografar e acessar base de dados - AFP
Através dos novos óculos inteligentes, polícia pode fotografar e acessar base de dados Imagem: AFP

10/02/2018 10h21

A cada dia, dezenas de milhares de pessoas passam pela estação ferroviária de Zhengzhou, no leste da China. Agora, lentes de um óculos de última geração permitirão que policiais identifiquem, na multidão, os antecedentes criminais de quem desejarem - e em tempo real.

Com os óculos de reconhecimento facial, cujas lentes são compostas de um vidro colorido, o policial pode tirar uma foto ou ter acesso imediato a uma base de dados sobre suspeitos.

A ideia é permitir identificar mais rapidamente foragidos... e controlar mais, a nível estatal, cada uma das pessoas que transitam pelas megacidades do país.

Se alguma irregularidade é detectada, o agente pode checar informações como nome e endereço da pessoa e pedir reforço para a captura do suspeito.

O reconhecimento facial, tecnologia por trás dos óculos, só tem crescido nos últimos anos na China.

Os óculos de reconhecimento facial da polícia chinesa que identificam suspeitos em tempo real - AFP - AFP
Alguns temem que a China use novo sistema para perseguir dissidentes
Imagem: AFP

O sistema começou a ser usado no primeiro dia de fevereiro e, desde então, permitiu a captura de sete suspeitos de diferentes crimes, desde abusos a tráficos humanos, segundo veículos locais.

A polícia começou a usar o equipamento na estação de Zhengzhou, mas já ampliou a sua aplicação para outros pontos da cidade.

Através deste método - segundo um informe publicado pelo jornal oficial do Partido Comunista da China, o People's Daily -, as autoridades conseguiram identificar 26 pessoas que usavam documentos de identidade falsos.

Mas esta tecnologia não é perfeita.

Um dos maiores obstáculos dos softwares de reconhecimento facial é conseguir rastrear os rostos de pessoas em imagens em movimento filmadas por câmeras.

Mas Wu Fei, diretor executivo da LLVision Technology Co, empresa responsável pela fabricação dos óculos, garantiu à revista The Verge que o equipamento garante à polícia "capacidade de ter o controle desde qualquer lugar".

"Ao produzir óculos com inteligência artificial na parte da frente, se obtém informações instantâneas e precisas. Você pode decidir em seguida qual vai ser a sua próxima ação".

A LLVision diz que o equipamento é capaz de reconhecer indivíduos em uma base de dados de 10 mil suspeitos em apenas 100 milisegundos - mas adverte que os níveis de precisão podem variar devido ao "ruído ambiental".

Vigilância 'onipresente'

A China é líder mundial em reconhecimento facial e faz questão de lembrar constantemente a seus cidadãos que é impossível escapar dessa vigilância.

Na verdade, o país tem a maior rede de videovigilância do mundo: são 170 milhões de câmeras ativas em diversas cidades, com previsão de instalação de outras 400 milhões nos próximos anos. Muitas destas câmeras também são capazes de fazer reconhecimento facial.

Segundo as autoridades, o sistema de videovigilância serve não só para evitar crimes, mas também para prevê-los.

Mas alguns temem que o país use essas tecnologias para seguir dissidentes políticos ou determinadas minorias étnicas.

Muitas das câmeras nas ruas chinesas têm tecnologia de reconhecimento facial - AFP - AFP
Muitas das câmeras nas ruas chinesas têm tecnologia de reconhecimento facial
Imagem: AFP

"Há olhos invisíveis que sempre te seguem, não importa o que você faça", disse à BBC Ji Feng, um poeta crítico ao governo.

William Nee, pesquisador da Anistia Internacional para a China, disse ao jornal americano The Wall Street Journal que "o potencial de dar aos oficiais de polícia tecnologias de reconhecimento facial com óculos poderia fazer do estado de vigilância na China algo cada vez mais onipresente".

O governo chinês também está montando um "sistema de crédito social" para pontuar o compartamento dos seus 1,3 bilhão de habitantes - em uma espécie de ranking de confiança com base nas condutas dos cidadãos.

Por agora, se trata de um projeto piloto em que participam oito empresas chinesas, chanceladas pelo Estado.

Mas, para o ano de 2020, todos estarão obrigatoriamente incluídos nesta enorme base de dados.

Organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch dizem que o massivo sistema de coleta de dados pela polícia é "uma violação da privacidade" e visa "seguir e prever as atividades dos dissidentes".

A China não tem tribunais independentes e carece de leis que protejam a privacidade de seus cidadãos.