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Por que os robôs não vão assumir nossas tarefas domésticas tão rápido quanto gostaríamos

Robôs ajudando nas nossas tarefas domésticas, como a Rosie dos Jetsons, estão no imaginário popular - Reprodução
Robôs ajudando nas nossas tarefas domésticas, como a Rosie dos Jetsons, estão no imaginário popular Imagem: Reprodução

Helene Schumacher - BBC Future

20/08/2018 20h13

As tarefas domésticas são um fardo para muita gente.

Quem reclama que falta tempo e energia para se dedicar à manutenção da casa dificilmente recusaria uma ajudinha, por exemplo, para dobrar as roupas recém-lavadas, certo? Pois saiba que a tecnologia já permite que robôs dobrem calças e camisetas.

A versão hoje mais famosa é japonesa, uma máquina batizada de Laundroid. Ela recentemente ganhou uma concorrente americana, que funciona com um software desenhado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e hardware da empresa Rethink Robotics.

Mas não se empolgue muito. Enquanto os robôs têm grande capacidade de se concentrar nas tarefas para as quais foram desenhados, seu ritmo é às vezes angustiantemente lento. O Laundroid leva 4 minutos para dobrar uma peça. O ajudante da Rethink Robotics, quinze.

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Os robôs podem estar chegando, mas talvez demore até chegar ao ponto em que farão toda a faxina.

Desenvolver robôs para ajudar em casa é algo útil apenas para organizar o guarda-roupa - permite que pesquisadores entendam problemas centrais da inteligência artificial como um todo. Um robô capaz de dobrar roupas tem vocação para uma série de outras tarefas, mais críticas, como atuar em situações de emergência, em cenários de recuperação de desastres ou no cuidado de doentes e idosos.

Isso porque desenvolver assistentes para ajudar com tarefas domésticas é mais complicado do que parece. Enquanto esses afazeres são relativamente fáceis para os humanos, são surpreendentemente difíceis para um sistema autônomo.

Esse é o paradoxo, diz Mariana Pestana, cocuradora da mostra O Futuro Começa Aqui, no Museu Victoria & Albert em Londres, onde os robôs estão expostos até 4 de novembro deste ano. "(O robô desenvolvido pela Rethink Robotics) vem de um aprendizado profundo, com uma universidade que está na vanguarda da inteligência artificial, mas leva 15 minutos para realizar uma tarefa que fazemos inconscientemente em segundos".

Uma casa-padrão tem elementos que variam constantemente - como crianças que não necessariamente entendem o sistema do robô e que podem dar-lhe objetos aos quais não estão habituados (pense nos pedidos que Siri, da Apple, recebe).

"Um assistente autônomo, para funcionar bem nesse contexto, teria que ser versátil, adaptável a mudanças no ambiente e fácil de se trabalhar", diz Siddharth Srivastava, que ajudou a desenvolver o robô com uma equipe de cientistas em Berkeley.

Um dos desafios encontrados por ele e sua equipe era fazer o robô entender o nível de sofisticação das tarefa que lhe poderiam ser pedidas. "Assim como todo mundo que trabalha em equipe sabe, um assistente não ajuda muito se precisa de instruções a todo minuto", diz.

Os robôs obviamente não têm um conhecimento "inato". Por mais que gostássemos de dizer apenas "lave as roupas" ao assistente, o robô precisaria de muito mais informações, desde como mexer cada "articulação" até para onde olhar conforme realiza cada operação, além de como usar suas câmeras e sensores.

Essas dificuldades se complicam se queremos que o robô faça algo além de lavar as roupas.

Então um robô realmente útil precisa entender e desempenhar um leque variado de tarefas.

A questão, por outro lado, é que não é possível pré-programar o robô para que alterne automaticamente seus afazeres. "Em vez disso, precisamos desenvolver algoritmos para que ele faça um planejamento hierarquizado, com percepção e lógica que permitiram que ele detecte o que precisa fazer para realizar uma tarefa".

Isso está longe de ser um problema resolvido - é uma área ativa de pesquisa, com diversas equipes desenvolvendo e testando possíveis soluções.

Se Srivastava consegue visualizar um futuro em que robôs domésticos sejam comuns? Para ele, a mudança será gradual, acompanhando outras aplicações robóticas e de inteligência artifical autônomas, como carros que se dirigem sozinhos. Aspiradores de pó robóticos já existem. Assim como assistentes virtuais inteligentes, como Alexa, da Amazon, capaz de interagir por voz.

A complexidade, para a ciência da computação, do raciocínio e planejamento durante períodos longos de tempo, entretanto, é mais alta do que a da tecnologia hoje disponível - e envolve problemas que hoje não são críticos para os produtos já disponíveis.

Robôs precisam ser fáceis de usar e adaptáveis aos diferentes níveis de habilidade de quem eventualmente irá operá-los - pessoas que, na maioria dos casos, não terão um nível avançado de conhecimento de inteligência artificial ou robótica.

Além disso, eles precisam realizar tarefas que seus criadores possam não ter planejado.

"Diferentemente do domínio de operações dos robôs industriais e daqueles usados nos carros, os domésticos são muito menos estruturados e com uma expectativa de comportamento mais difícil de definir", diz Srivastava.

"Para colocar em prática o potencial do benefício social dos sistemas de assistência de inteligência artificial, precisamos desenvolver novos princípios para desenhá-los de uma maneira que os torne mais fáceis de se trabalhar, entender e manter".

Quando essas questões forem sanadas, porém, há uma série de possibilidades para outras aplicações: robôs podem ajudar a tratar ferimentos, a administrar de remédios e no preparo de comida para dietas especiais.

Muitos problemas precisam ser resolvidos antes que isso se torne uma realidade - mas pode haver um dia em que veremos os robôs que dobram roupas como o começo do fim das tarefas domésticas para a humanidade.