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Após Facebook e Netflix, novos esquemas para ações de tec se popularizam

Facebook, Amazon, Netflix e Google somam mais da metade do ganho do Nasdaq 100 - Zef Nikolla/AP
Facebook, Amazon, Netflix e Google somam mais da metade do ganho do Nasdaq 100 Imagem: Zef Nikolla/AP

Yakob Peterseil e Luke Kawa

26/07/2018 14h44

As ações da Netflix chegaram a desabar 15% na segunda-feira, após o serviço de streaming de vídeo divulgar número abaixo do esperado de novos usuários. O Facebook faturou US$ 13,2 bilhões (o equivalente a R$ 47,5 bilhões) entre abril e junho deste ano, um resultado 43% superior ao do mesmo período do ano passado. Ainda assim, o mercado não gostou nada do que viu no balanço da empresa, publicado ontem (25), e as ações já caíram 18% nesta quinta-feira (26).

Para quem teme o fim da bonança para ações de tecnologia após o tombo da Netflix e do Facebook, Wall Street acena com uma novidade: apostas nas empresas da sigla FANG em formato de notas estruturadas.

Os detentores desses instrumentos — títulos complexos atrelados ao desempenho de Facebook, Amazon.com, Netflix e Google, via controladora Alphabet (FANG) - geralmente abrem mão do potencial estratosférico de valorização. Em troca, podem suportar até que o valor das ações do grupo caia pela metade, embolsando cupom com taxa de dois dígitos e, eventualmente, o principal.

O quarteto é responsável por mais da metade do ganho do Nasdaq 100 neste ano.

A popularidade desses produtos está aumentando. Bancos de investimento venderam quase US$ 60 milhões em notas atreladas às FANG neste ano, contra US$ 45 milhões no mesmo período de 2017, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

"O ciclo já está adiantado, especialmente para essas ações", disse Guillaume Chatain, presidente da plataforma de notas estruturadas ResonanceX. "Tem gente que quer exposição, mas duvida que esses papéis voltarão a subir 80 a 100%. A esperança é que esses papéis sigam juntos e continuem se movendo em sincronia."

Posições compradas nessas ações —e nos papéis de Baidu, Alibaba e Tencent— são as mais concentradas do mercado acionário, segundo sondagem do Bank of America Merrill Lynch junto a gestores de fundos realizada neste mês.

O mercado de opções sinaliza preocupação com o avanço das ações do setor de tecnologia neste ano e os investidores se mostram dispostos a punir quem decepciona.

Risco extremo

O Royal Bank of Canada vendeu notas atreladas às FANG em 27 de junho.

Os instrumentos têm prazo de três anos e pagam cupom anual de 10,2% contanto que nenhuma das ações subjacentes caia mais de 50% a partir do nível inicial definido em datas trimestrais de observação.

No vencimento, se o produto não tiver sido resgatado, os detentores recuperam o principal, contanto que nenhuma das ações tenha perdido mais da metade do valor.

As notas são efetivamente uma estratégia de derivativo exótico que envolve opções de venda com barreiras —operação geralmente restrita a investidores sofisticados.

Os detentores enfrentam riscos de resgate e contraparte, pouca liquidez e abrem mão do direito sobre dividendos. Em troca, podem obter cupom de até 17%, no caso das notas vendidas pelo Credit Suisse Group em abril, com proteção contra queda de 40% na ação de qualquer uma dessas empresas. Se a variação for maior, os detentores podem perder o principal todo.

Presidente da Family Management, David Schawel não é fã de produtos estruturados atrelados às FANG. No entendimento dele, os detentores das notas estão basicamente "vendendo volatilidade muito barata".

"O problema não é que eles definitivamente vão perder dinheiro, mas estarem vendendo por pouco uma opção atrelada a um risco extremo", ele disse.

Os compradores dos papéis também enfrentam risco de correlação. Embora os produtos ofereçam proteção contra queda, eles também apostam que as ações continuarão se movimentando juntas, lembra Chatain, da ResonanceX.

"É um produto interessante, mas é preciso entender onde está o risco."