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Serviço de vídeo pela web da Amazon é bom e barato, mas ainda é inferior ao Netflix

David Pogue

Do "The New York Times"

05/09/2012 06h02

Nos velhos tempos, os brindes e pechinchas fornecidos por empresas tornavam a vida mais interessante. As pessoas podiam ganhar uma torradeira de pão ao abrirem uma nova conta bancária, ou um copo especial para colecionadores ao encherem o tanque do automóvel. Os consumidores mais antigos dizem até que, em determinada época, era possível saborear refeições gratuitas durante as viagens aéreas.

Mas quase tudo isso acabou. Porém, na área de pechinchas, ainda existem os planos de filmes transmitidos por streaming.

Por exemplo, o Netflix oferece uma enorme lista de filmes e programas de televisão sob demanda pela Internet. Você pode ver quantos quiser por um preço fixo de US$ 8 por mês. Por um preço inferior a uma entrada de cinema, o consumidor pode assistir aos filmes oferecidos pelo Netflix até que os seus globos oculares não aguentem mais.

É claro que para usufruir do plano é necessário que se tenha Internet de alta velocidade. E o consumidor não contará com DVDs extras, com “featurettes” (pequenos documentários sobre o filme) e comentários do diretor. A qualidade da imagem em geral não é tão boa quanto a de um DVD tradicional, e muito menos de um disco Blu-ray.

Mesmo assim, o serviço tornou-se extremamente popular. O exército de 27 milhões de assinantes de vídeo por streaming do Netflix eclipsa o seu universo de nove milhões de assinantes do programa de DVDs enviados pelo correio. Incrivelmente, os vídeos do Netflix representam um quarto do total de dados transmitidos pela Internet na América do Norte.

O serviço teve um enorme impacto cultural. Ele fez com que muita gente cancelasse os seus serviços de televisão a cabo (o Netflix oferece os programas “30 Rock,” “Lost,” “The Office,” “Mythbusters,” “Monk,” “Glee,” “South Park,” “Downton Abbey” e dezenas de outras séries completas).

E ele popularizou o fenômeno conhecido como “binge viewing”, no qual as pessoas assistem a episódios múltiplos de um determinado programa ou série de TV, ininterruptamente, sem propagandas comerciais, do começo ao fim, enquanto a correspondência se acumula nas suas caixas de correspondência e o mato invade os seus jardins.

Sendo assim, não demorou muito para que os rivais corporativos começassem a farejar este mesmo território. E rivais grandes, como a Amazon.

A concorrência da Amazon

Em vez de pagar uma mensalidade de US$ 8 ao Netflix, o consumidor obtém o serviço de filme por streaming da Amazon gratuitamente ao se tornar membro do Amazon Prime – mediante o pagamento de uma taxa anual de US$ 79 (isso representa US$ 6,58 por mês, embora não seja possível efetuar pagamentos mensais).

  • Reprodução

    Serviço Amazon Prime disponibiliza entrega mais rápida, serviço de streaming e aluguel de livro

A inscrição no Prime teve início como uma opção atraente para aquelas pessoas que compram muito na Amazon: por US$ 79 anuais, o cliente conta com remessa gratuita em um prazo de dois dias de qualquer mercadoria adquirida na Amazon (ou a remessa no dia seguinte por uma taxa de US$ 4). A seguir, a Amazon acrescentou os filmes por streaming ao pacote do Prime, e depois o aluguel gratuito de um livro eletrônico do Kindle por mês.

O sistema deles parece meio aleatório, não é mesmo? É como a inscrição no Fruit of the Month Club, que vem com trocas de óleo gratuitas, meias de esquiação e orientações relativas ao imposto de renda.

Mesmo assim, o Prime é um excelente negócio. Mesmo que o indivíduo não dê importância a remessas grátis e a downloads de livros eletrônicos, ele terá à sua disposição uma quantidade ilimitada de filmes por menos do que os US$ 8 mensais cobrados pelo Netflix.

Sendo assim, a Amazon teria transformado o plano de filmes por streaming do Netflix em uma dispendiosa relíquia de 2010?

Não, a não ser que o consumidor esteja obtendo o mesmo serviço por aquilo que está pagando. Para verificar se isso está ocorrendo, é necessário responder a três perguntas: o que o serviço da Amazon oferece? Onde é possível assistir aos filmes? E qual é a qualidade do serviço?

Amazon Prime x Netflix

Primeiramente é preciso acabar com certas expectativas. Os serviços de filme por streaming oferecem centenas de filmes bons – mas os catálogos se caracterizam bem mais pelos filmes que estão ausentes do que pelos que são oferecidos. Em outras palavras, o cliente sempre poderá achar algo de bom para assistir, mas ele não deve esperar encontrar filmes específicos.

Os filmes são em sua maioria velhos. No Netflix, por exemplo, há muita coisa boa: “Chinatown,” “The Big Lebowski,” “Office Space,” “The Graduate,” “Breakfast at Tiffany’s,” “Sling Blade,” “Being John Malkovich,” “Memento,” e vários outros.

Mas os filmes recentes são poucos. Há um punhado de filmes relativamente famosos e recentes – como “Thor,” “Captain America,” “Super 8,” “Limitless,” “The Rum Diary,” “The Lincoln Lawyer”- mas poucos são os títulos de 2011 ou 2012 dos quais nós ouvimos falar. O assinante tampouco encontrará os filmes das séries “Harry Potter,” “Pirates of the Caribbean,” “Mission: Impossible” ou “Twilight”. E também não existe nada da Pixar, apesar de o Netflix ter anunciado que a partir do ano que vem oferecerá filmes da DreamWorks Animation.

O Netflix costumava oferecer uma quantidade bem maior de filmes recentes, graças aos acordos com companhias como a Starz. Mas esses acordos já expiraram. Atualmente, a companhia passou a enfatizar os programas de televisão. Em quatro anos, a razão entre o número de programas de televisão e o de filmes oferecidos passou de 1/8 para 3/2. O Netflix firmou contratos exclusivos com a AMC (de forma que o assinante possa assistir a “Mad Men” e “Breaking Bad”) e a rede CW (“90210” e “The Vampire Diaries”).

  • Paul Sakuma/Arquivo/AP

    Serviço Netflix acaba saindo mais caro que o Amazon Prime, mas ainda conta com mais opções

O Netflix está até mesmo produzindo agora os seus próprios programas de televisão – por exemplo, a série de suspense político em 13 episódios “House of Cards”, dirigida por David Fincher, e uma continuação de “Arrested Development” (genial!). Só os assinantes do Netflix têm acesso a estas séries.

O catálogo oferecido pela Amazon é similar: sempre é possível encontrar filmes bons lá, mas nada de recente, e estes títulos de melhor qualidade estão rodeados por montanhas de filmes desconhecidos. Entre os nomes conhecidos estão os filmes da série “Matrix”, dois da série “Mission: Impossible”, e os maiores sucessos de décadas passadas (“Kramer Vs. Kramer,” “A Passage to India,” “L.A. Confidential,” “Last of the Mohicans” e outros).

Ambos os serviços permitem que o consumidor assista aos filmes em Mac, PC, Roku, Xbox, PlayStation 3, Nintendo 3DS ou tablet (iPad ou Kindle Fire). Geralmente é preciso primeiro instalar o software apropriado.

Dá também para assistir aos filmes em um televisor comum, caso se disponha de uma caixa de conversão apropriada, de um aparelho de Blu-ray ou de um televisor da Samsung, da Sony ou da LG. Mesmo assim, o Netflix fica na dianteira, já que o seu serviço está disponível também para TiVo, Apple TV, iPhone, Nintendo Wii, telefones celulares e tablets baseados no Android , e-book readers Nook a cores, Boxee Box, Windows Phones e um número maior de aparelhos de Blu-ray e televisores. Segundo a companhia, o total de modelos de aparelhos compatíveis chega a 900. Sim, é verdade. Nós vivemos em uma era na qual podemos assistir a filmes de verdade no nosso telefone celular. Na certa poderemos adquirir em breve veículos hovercraft que voam baixo.

Mesmo se compararmos duas telas colocadas lado a lado, é difícil afirmar quais desses serviços oferece imagens de melhor qualidade. Ambos contam com uma memória que marca o ponto em que a reprodução do filme é interrompida, caso você deseje continuar a assisti-lo em um outro aparelho.

Mais de 80% dos filmes do Netflix vêm atualmente com legendas. Já os filmes da Amazon não oferecem esse recurso. Tais legendas são ótimas para quem tem dificuldade para escutar, deseja assistir aos filmes sem som ou não entende o as frases balbuciadas por Sylvester Stallone. E quando se avança ou retrocede a imagem de um filme do Netflix, pequenos quadros estáticos aparecem sobre o cursor, de forma que o telespectador fica sabendo exatamente em que trecho do filme se encontra. Já na Amazon, o jeito é apelar para a adivinhação.

O website do Netflix e as tecnologias vinculadas ao serviço também são bem mais evoluídas do que os da Amazon. Por exemplo, os vídeos de preço adicional da Amazon frequentemente aparecem nos resultados de busca, fazendo com que o cliente acabe se decepcionando após experimentar um breve entusiasmo.

O site do Netflix é cheio de sugestões de filmes adicionais que você pode desejar assistir, o que é um resultado da famosa afinidade da empresa por algoritmos. Como não há títulos que só possam ser acessados mediante pagamentos extras, é bem mais fácil navegar por todo o processo.

Balanço do comparativo

A conclusão é que o Netflix supera o Prime em termos de oferta de títulos, clareza do website e recursos para a reprodução dos filmes. A companhia também oferece uma seleção muito maior. O Netflix não informa quantos filmes possui, mas certas estimativas confiáveis indicam que o catálogo da companhia traz mais do que o dobro de títulos oferecidos pela Amazon.

Ambas as companhias estão investindo centenas de milhões de dólares na aquisição de direitos para a exibição de mais vídeos (eu ouvi dizer que um contrato iminente firmado pela Amazon fará com que milhares de filmes adicionais passem a integrar o seu catálogo).

Isso é ótimo. Mesmo assim, no que diz respeito a ambos os serviços, no decorrer dos próximos anos é provável que o consumidor diga “Tenho certeza de que encontrarei algo que me agrade” do que “Tenho certeza de que encontrarei este filme específico”.

O Amazon Prime custa menos do que o Netflix. Para aqueles que se beneficiam com downloads do Kindle e remessas de encomendas gratuitos o custo total será bem menor. E para quem enxergar esses serviços mais como uma refeição trivial do que como um menu completo, talvez o fato de o catálogo ser menor não tenha tanta importância.

Felizmente, existe uma maneira fácil de descobrirmos o quanto a questão do preço e do tamanho do catálogo nos incomoda: basta fazer uma assinatura gratuita de um mês dos dois serviços. Afinal, só existe um negócio melhor do que pagarmos US$ 7 ou US$ 8 para assistirmos a quantos filmes quisermos: assistirmos a quantos filmes quisermos sem pagar nada.