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Após viagem com o pai, filha do presidente do Google relata 'esquisitices' sobre Coreia do Norte

Eric Schmidt (esq), presidente-executivo do Google, e Bill Richards, ex-governador do Novo México, fazem escala em aeroporto de Pequim (China) após voltarem da Coreia do Norte  - Alexander F. Yuan/AP
Eric Schmidt (esq), presidente-executivo do Google, e Bill Richards, ex-governador do Novo México, fazem escala em aeroporto de Pequim (China) após voltarem da Coreia do Norte Imagem: Alexander F. Yuan/AP

Do UOL, em São Paulo

22/01/2013 12h18

Após uma visita à Coreia do Norte, o presidente-executivo do Google, Eric Schmidt, publicou um texto na rede social Google+ com suas impressões sobre a viagem realizada neste mês. Segundo ele, o objetivo era discutir a internet livre com autoridades daquele país (leia abaixo). Na contramão do texto comedido, sua filha Sophie publicou um post na internet sobre essa mesma viagem em que descreve as “esquisitices” locais.

Eric Schmidt viajou a convite de Bill Richardson, ex-governador do Novo México, que levou uma delegação ao país asiático -- Sophie fazia parte do grupo. A jovem, que segundo o “Huffington Post” tem 19 anos, publicou na internet um texto sobre a viagem usando o título “Não deve ficar mais esquisito que isso” (em tradução livre). Segundo a “CNN”, o presidente do Google confirmou à publicação “Quartz” que aquela página era mesmo de sua filha.

Sophie relata, por exemplo, que os telefones e laptops das nove pessoas da delegação tiveram de ser deixados na China. Isso porque eles foram avisados que os eletrônicos seriam confiscado na Coreia do Norte e “provavelmente infectados com só Deus sabe qual malware”. Ainda assim, a jovem tirou fotos, que foram publicadas em um álbum do serviço Picasa.

Ela escreveu ter descoberto que compartilhava com Kim Jong-il (líder morto no final de 2011; sucedido por seu filho Kim Jong-un) o gosto por computadores: MacBook Pro de 15 polegadas. O comentário foi feito quando a jovem relatava que diversos objetos do falecido líder ficavam expostos: carros, compartimentos de trem, iate e até sapatos plataforma.

Sophie contou que o grupo não teve qualquer interação com pessoas que não fossem indicadas pelo governo e que dois oficiais estavam sempre com os norte-americanos. Apesar de recomendar a visita ao país “muito, muito estranho”, ela define o local como um "Show de Truman do tamanho de um país”.

“As pessoas comuns vivem como em uma bolha de informação [...]. Acredito que os norte-coreanos são ensinados a acreditar que eles têm sorte por estarem na Coreia do Norte, então por que desejariam sair de lá? São reféns em seu próprio país, sem qualquer consciência disso”.

Em um trecho sobre a biblioteca da Universidade Kim Il Sung, Sophie postou fotos do espaço com cerca de 90 computadores de mesa. “Parece ótimo, certo? Toda essa atividade, esses monitores [...]. Um problema: ninguém estava, de fato, fazendo nada [nos computadores]. Alguns rolavam as páginas ou clicavam, mas os demais apenas olhavam para a frente. Mais desconcertante: quando nosso grupo entrou [...] nenhum deles olhou além de suas mesas. Nenhuma virada de cabeça, nenhum contato visual, nenhuma reação. Eles poderiam muito bem ser figurantes”.

Abertura da internet
O texto de Schmidt foi mais comedido. “Assim que a internet começa em qualquer país, seus cidadãos constroem em cima dela. Mas o governo tem de fazer uma coisa: liberar a internet antes. Eles precisam possibilitar que as pessoas usem a internet, algo que o governo da Coreia do Norte ainda não fez. É uma escolha deles e, no meu ponto de vista, é hora de começar. Caso contrário, eles continuarão para trás”, escreveu.   

Schmidt descreveu a tecnologia no país como muito limitada. Segundo ele, a rede 3G oferecida em parceria com uma empresa egípcia chamada Orascom não permite o uso de smartphones. “Seria muito fácil oferecer internet usando essa rede 3G. A estimativa é de que exista cerca de 1,5 milhão de telefones na Coreia do Norte, com planos de crescimento no futuro”, contou. 

Ainda segundo Schmidt, existe no país uma internet supervisionada (há sempre alguém monitorando o uso) e também uma intranet, que é ligada às universidades. “Novamente, seria fácil conectar essas redes à internet global”, opinou. A maioria dos softwares são de código aberto, como Linux. O presidente do Google afirmou que o acesso a essas tecnologias é restrito ao governo, a militares, a universidades, não chegando ao público em geral.

“Conforme o mundo fica cada vez mais conectado, a decisão da Coreia do Norte em se manter virtualmente isolada vai afetar seu mundo material e também o crescimento econômico”, continuou.