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Entrega com drones é viável, mas esbarra em tecnologia e regulamentação

Amazon começa a testar entrega por meio de drones; o serviço, chamado Prime Air, deve começar a operar nos EUA em 2017 ou 2018, segundo Jeff Bezos, diretor-executivo da companhia - Divulgação
Amazon começa a testar entrega por meio de drones; o serviço, chamado Prime Air, deve começar a operar nos EUA em 2017 ou 2018, segundo Jeff Bezos, diretor-executivo da companhia Imagem: Divulgação

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

04/12/2013 06h01

Jeff Bezos, diretor-executivo da Amazon (empresa americana de comércio eletrônico), anunciou neste final de semana um sistema de entrega por meio de drones, que promete levar o produto para o comprador em até 30 minutos. Chamado do Prime Air, o sistema consegue carregar até 2,3 kg por um peso por uma distância de 16 km.

Amazon Prime Air

O que é: Sistema da Amazon que promete entregar produtos comprados em sua loja online de até 2,3 kg em até 30 minutos.
Como funcionaria: na hora da compra, o usuário deve escolher a opção Prime Air para receber o produto via drone.
Quando estará disponível: empresa estima que deve estar em operação até 2018.

De acordo com Bezos, 86% dos pacotes entregues pela companhia têm peso máximo de 2,3 kg – por isso, foi estabelecido esse limite. O Prime Air não deve ser lançado tão cedo. O diretor e fundador da companhia acredita que a iniciativa deve estar em operação em quatro ou cinco anos. Não há nem uma legislação que permita o uso de drone para propósitos comerciais nos Estados Unidos.

Apesar de a ideia parecer ter saído do desenho futurista “Os Jetsons”, há recursos técnicos para realizar esse tipo de entrega, segundo Geraldo Adabo, engenheiro eletrônico do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica e especialista em drones. “A dúvida fica se a operação comercial é viável, pois há muitos problemas a serem resolvidos e custos envolvidos”, afirmou.

Segundo ele, conforme o vídeo exibido pela Amazon, a companhia quer trabalhar com RPAS (aeronaves pilotadas remotamente). Porém, para isso, é necessário criar centros de controle e capacitar pessoas para essa função nova, que ele define como “bem diferente de aeromodelismo”.

Amazon mostra funcionamento do serviço de entrega com drones

Para Fernando Catalano, professor do departamento de engenharia aeronáutica da USP São Carlos, o problema está no tráfego aéreo. “A interação entre aeronaves deve ainda ser muito estudada. Ter veículos aéreos não tripulados ao lado de aviões comerciais pode ser problemático, sobretudo em altitudes mais baixas.”

Desafios a serem superados

Pouca estabilidade do drone.
Regras para voo em áreas habitadas.
Problemas ambientais (como as aves serão afetadas com o uso dessas naves?).
Segurança (e se a encomenda cair?).
Espectro de frequência para comunicação.

A regulamentação do uso de drones para atividades comerciais já está sendo discutida. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) está desenvolvendo uma proposta de regulamentação, que deve ser publicada apenas em 2014 e deve abranger áreas não habitadas. A princípio, a utilidade dessas regras será regular voos para análise de plantações e de linhas de transmissão de energia, por exemplo.

Nos Estados Unidos, a FAA (Administração Federal de Aviação) tem previsão para publicar em 2015 um conjunto de regras para o uso comercial de drones.

Apesar das intenções das agências, o uso de veículos não tripulados em áreas urbanas, como o sugerido pela Amazon no vídeo de apresentação, levanta questões práticas. Entre elas, a definição de um espectro de frequência para comunicação, aumento do nível de confiabilidade das tecnologias usadas em drones, regras para voo em áreas populosas, torná-los mais estáveis a tempestades, problemas ambientais (como as aves serão afetadas com o uso dessas naves?) e até de privacidade (o que será feita com as imagens captadas durante o voo?).

“Como é um projeto de  longo prazo tem um viés de jogada de marketing. Talvez, eles ainda não saibam direito como fazer, mas conseguiram ter a visão de que isso será uma realidade no futuro”, opina Adabo sobre a iniciativa da varejista americana.

Independente de ficar pronto ou não até 2018 (tempo estipulado pelo fundador da Amazon), o projeto tem chance de ser viabilizado, pelo menos na América, por questão de infraestrutura. “É uma iniciativa interessante para ser pensada em um país como os Estados Unidos. Lá existe uma rede de aeródromos, que facilitaria o tráfego de drones”, disse Catalano.