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ONG oferece SMS grátis e 0800 para unir refugiados sírios com suas famílias

  • A.McConell - 24.fev.2014/UNHCR/Reuters

    Atriz Angelina Jolie participa de missão da ONU para encontrar refugiados sírios; imagem mostra visita dela a sírios que vivem no Líbano

Ana Ikeda

Do UOL, em Barcelona (Espanha)*

27/02/2014 09h27

Cerca de 2,4 milhões de sírios teriam se mudado para áreas vizinhas por causa dos conflitos no país. Com o objetivo de restaurar a comunicação entre famílias que foram separadas, um projeto oferece uma linha do tipo “0800” e mensagens de texto grátis aos refugiados que vivem na Jordânia e Iraque – estima-se que sejam 800 mil. As ferramentas ficam disponíveis para eles registrarem seu paradeiro, facilitando a busca dos familiares.

A iniciativa com foco na Síria foi anunciada na feira de tecnologias móveis MWC 2014, em Barcelona (Espanha) – trata-se de uma parceria entre a ONG Refugees United, a Ericsson e operadoras móveis da Jordânia e Iraque. Ela foi inspirada em um programa semelhante que ajuda refugiados vivendo na Somália, Congo e Quênia. No total, 280 mil pessoas já foram beneficiadas com a oferta dessas ferramentas de comunicação, segundo a ONG criada em 2008.

  • Divulgação/Refugees United

    Foto de divulgação da iniciativa mostra refugiados do leste da África, que já têm acesso às ferramentas gratuitas

Com o projeto, operadoras enviam SMS para as pessoas que vivem em campos de refugiados ou áreas com grande concentração deles, informando a oportunidade de se registrarem no programa pelo 0800 ou SMS. Quando elas respondem com seus dados pessoais (sem pagar nada por isso), a Refugees United se encarrega de fazer os registros em um banco de dados para viabilizar o contato.

As famílias, por sua vez, podem cadastrar no site informações de alguém desaparecido, além de fazer buscas online nos registros da ONG. 

“As pessoas com as quais trabalhamos têm pouco ou nenhum conhecimento tecnológico. Mas com o programa elas usam meios simples e gratuitos, como ligações e SMS para se reconectarem às famílias”, destacou o dinamarquês Christopher Mikkelsen, que fundou a ONG com seu irmão (inicialmente, o objetivo dos dois era fazer ajudar um refugiado afegão e encontrar o irmão).

Segundo ele, o programa já ajudou a reunir duas irmãs na África que não se viam há 16 anos e, curiosamente, viviam a 16 km uma da outra. “A distância nesses casos não faz diferença, se você não conhece o paradeiro do seu familiar.”  

“190 da Internet”
Também no MWC 2014, o diretor-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg anunciou que tem trabalhado em parceria com outras companhias para fazer uma espécie de serviço 190 para a internet. “Um dos modelos que temos é a telefonia fixa. Ao ligar para o 911 [número de emergência nos Estados Unidos], você consegue falar gratuitamente com a polícia ou os bombeiros. Queremos fazer algo parecido com, por exemplo, serviços de mensagem, Wikipedia e talvez a previsão do tempo.”. Ele também citou o Facebook e WhatsApp entre os exemplos. 

A iniciativa faz parte do Internet.org, uma parceria global dedicada a popularizar o acesso à internet a dois terços da população mundial ainda desconectada. Entre os parceiros da rede social estão a Samsung, Qualcomm, Ericsson, MediaTek, Nokia e Opera Software. 

Nos próximos anos, o fundador do Facebook disse que quer trabalhar com mais operadoras dispostas a oferecer alguns serviços gratuitos para aumentar a inclusão digital. “Vamos perder dinheiro por um tempo [com essa iniciativa]. Não ligo, pois isso [o projeto] é importante. Se fizermos algo relevante para o mundo, em algum momento, saberemos como ganhar dinheiro”, disse.

No evento em Barcelona, Facebook e Ericsson também divulgaram a construção de um laboratório para simular os problemas de rede enfrentados em países emergentes - o espaço localizado no campus do Facebook (Menlo Park, Califórnia) deve ficar pronto em 2014. O objetivo é testar serviços e dispositivos de rede em ambientes com condições adversas. Dessa forma, as companhias poderão trabalhar em formas para otimizá-los.

Pacotes de dados 
Zuckerberg citou como exemplo da Internet.org uma ação nas Filipinas, onde a operadora Globe Telecom oferece acesso ilimitado ao Facebook para seus clientes. De acordo com o cofundador da rede social, a empresa de telefonia dobrou a quantidade de dados trafegados em sua rede no país em cerca de cinco meses (algo que gera lucros à operadora, além de fortalecer a presença do Facebook naquele mercado). 

Esse tipo de prática vai contra a neutralidade da rede (muito discutida no Brasil, por causa do Marco Civil da Internet), pois prioriza o acesso a determinado tipo de conteúdo – no caso, o Facebook. 

Segundo Zuckerberg, muitos potenciais usuários da internet móvel não sabem para que usariam pacotes de dados. “Mas eles conhecem o Facebook, o WhatsApp. Quando eles entenderem por que precisam dos dados [para acessar serviços que consideram relevantes], podem gastar seus limitados recursos financeiros com a internet”, afirmou. 

* A jornalista viajou a convite da Ericsson