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Em queda no mundo, tablets seguem em alta no Brasil com opções baratas

Marcas, como a mineira DL, atuam no segmento de tablets baratos; o modelo e-TV tem tela de 7 polegadas, 8 GB e TV digital. Dispositivo custa cerca de R$ 300 - Divulgação
Marcas, como a mineira DL, atuam no segmento de tablets baratos; o modelo e-TV tem tela de 7 polegadas, 8 GB e TV digital. Dispositivo custa cerca de R$ 300 Imagem: Divulgação

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

03/11/2014 06h01

O mercado mundial de tablets tem crescido menos, segundo a consultoria de mercado Gartner. Em 2013, aumentou 53%, enquanto em 2014, a previsão é de 11%. Somado a isso, em divulgação de resultados do 3º trimestre, a Apple disse que caiu em 13% a venda de iPads comparado ao período anterior. Enquanto há uma tendência de decréscimo nesse setor, o mercado brasileiro continua próspero graças a opções de baixo custo, com preço na casa dos R$ 400.

Após o lançamento do iPad em 2010, o segmento apresentou grande crescimento. No entanto, esse mercado, sobretudo em economias desenvolvidas, começa a apresentar leve retração.

“Os mercados onde houve crescimento nesses anos têm consumidores com rendimento disponível para adquirir esses produtos avançados (como iPads, da Apple, e alguns Galaxy, da Samsung). Além disso, as pessoas já têm tablets e não precisam comprar outro”, explicou Tuong Nguyen, analista do Gartner, em entrevista ao UOL Tecnologia por telefone.

A empresa estima que, em média, o tempo de vida útil desses portáteis é de três anos para esses aparelhos, o que dificulta a comercialização de novas unidades.

Por que ainda cresce no Brasil?

A grande demanda do mercado brasileiro é de dispositivos baratos. De acordo com a consultoria de mercado alemã GFK, houve crescimento de 103% no volume de vendas, comparando dados de julho deste ano com a mesma data de 2013.

A companhia, que trabalha monitorando varejistas no Brasil, detectou que há 392 modelos distintos de eletrônicos à disposição do público, vendidos por 71 marcas. A maioria deles segue um padrão de configuração: sistema Android, tela de 7 polegadas, conexão Wi-Fi e pouca memória interna.

No entanto, o importante mesmo é a redução do preço dos tablets, ocasionada pela desoneração de impostos no fim de 2011 para portáteis fabricados no Brasil e a grande concorrência.

Em janeiro de 2012, o preço médio de um tablet era de R$ 1.127. Em julho de 2014, o preço caiu para R$ 433.

“Essas características criaram todo um segmento de tablets simples. Tem muito potencial, pois quem compra esses aparelhos, com o tempo, vai querer algo mais elaborado. O setor tem crescido bastante por baixo e ainda tem potencial para crescer nos segmentos mais caros”, disse Oliver Römerscheidt, diretor de unidade de negócio da GFK.

“O consumidor brasileiro está desbravando e testando essa categoria de produto. O principal argumento é o preço. As pessoas levam mais em consideração o fator custo do produto que a marca em si.”

Consumidor consciente

Comparado com mercados desenvolvidos, o consumidor brasileiro tem uma característica peculiar, segundo Nguyen, do Gartner. Para ele, o brasileiro é consciente na compra e, dificilmente, “joga dinheiro fora”.

“A ideia de custo benefício é muito forte em vocês. Um iPhone, por exemplo, é muito caro. Porém, a maioria dos recursos do aparelho aparece em dispositivos mais acessíveis”, explica. Para ele, esse fenômeno deve começar a ser mais comum em tablets. 

Para explicar como o brasileiro é diferente, ele compara o consumidor com um norte-americano. “Quando estive no Rio, as pessoas falavam ‘minha conexão está com sinal 3G agora’ ou ‘agora está em 2G’. Isso é um fator interessante, pois elas não eram especialistas em tecnologia e ouvi poucas vezes esse tipo de conversa nos Estados Unidos”, disse.

“Os brasileiros não jogam dinheiro fora. Sabem o que querem e sempre buscam o melhor fator.”

Tablet como novo PC

A popularização de tablets começa a influenciar diretamente a venda de notebooks. Segundo a GFK, a venda dos PCs portáteis no Brasil caiu 9% e 14,5% em volume de venda, comparando julho desse ano com a mesma data no ano passado.

Um dos fatores para essa perda de apelo dos notebooks é a falta de inovação.  De acordo com a consultoria, em mercados em desenvolvimento há poucos aparelhos com tela sensível ao toque e dispositivos híbridos. Sem contar que esses computadores ainda são caros.

Para Nguyen, do Gartner, há ainda outro fator que leva o Brasil e outros países em desenvolvimento a preferirem os tablets aos PCs. “Alguns consumidores estão deixando de comprar computadores, pois eles atendem suas necessidades computacionais. Eles não veem necessidade de ter um laptop”, afirmou.

“No passado, os computadores eram ‘muita tecnologia’ para as pessoas. Porém, no fim das contas, a maioria só navegava na rede e usava o básico do pacote Office. Essas funções são exatamente as presentes em um tablet.”