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Sem WhatsApp, profissionais "apelaram" para ligações e SMS para comunicação

A empresária Gabriela Cavalcanti, que vende bijuterias pelo Whatsapp e outras redes sociais - Reprodução/Instagram
A empresária Gabriela Cavalcanti, que vende bijuterias pelo Whatsapp e outras redes sociais Imagem: Reprodução/Instagram

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

17/12/2015 17h53Atualizada em 28/07/2020 06h13

As cerca de 12 horas de bloqueio do aplicativo WhatsApp no Brasil por decisão judicial —que já foi revogada — não prejudicaram apenas os grupos de famílias que trocam imagens engraçadinhas. Muitos profissionais que adotaram o serviço como ferramenta de comunicação rápida tiveram que usar outras opções para manter contato.

Gabriela Cavalcanti, empresária da cidade paulista de Poá, usa diversas redes sociais como ferramentas de vendas, mas o Whatsapp é hoje seu principal "braço" no meio digital. É lá que ela tira dúvidas e dá sugestões às clientes à distância, de forma personalizada. Segundo ela, hoje 75% das vendas de suas bijuterias vêm do app e demais redes, e os 25% restantes, da loja física.

"Ao saber da notícia, usei meu Instagram para divulgar todos os meus outros contatos: Direct Instagram, Snapchat, página da loja e minha página pessoal no Facebook e e-mail. Para as vendas que estavam quase fechadas, resolvi detalhes do pagamento pelo SMS. Então não deu tempo de ser afetada", diz Gabriela, referindo-se à volta do serviço 13 horas depois de cair.

A lojista diz que o Whatsapp foi fundamental para ter expandido seus negócios para outros Estados e lamentou a decisão da Justiça. "Acho que prejudica bastante. Como somos dependentes de comunicação, e todos usam o WhatsApp hoje em dia, seria necessário correr para fazer todos se acostumarem de novo com outra rede se continuasse indisponível".

Outros lojistas enviaram ao UOL relatos de seus problemas. "Tive prejuízo de R$ 2.000. Perdi várias vendas na parte da manhã. Agora estou correndo atrás para recuperar na parte da tarde", disse Júnior Mota, microempresário de Belém (PA). "Fiquei sem trabalho por conta de não receber a tabela de horários", comentou Edivan Ferreira da Silva, que trabalha em uma fábrica de chocolate em Curitiba (PR).

O pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum, de São Paulo, há dois anos adotou o WhatsApp a pedido dos pais de seus pacientes. Além de dar dicas e orientações emergenciais aos pais, participa de grupos de médicos onde trocam novidades e conhecimentos na área médica.

"Sem o serviço, tive que ligar para a UTI de um berçário para saber a evolução de um recém-nascido em estado grave, e esperei por mais de 40 minutos pelo retorno", lamenta.

O fato de o aplicativo permitir troca de áudios, fotos e vídeos é crucial na qualidade do atendimento à distância. O médico relembra um dos casos mais sérios envolvendo o uso do WhatsApp. "A mãe de uma paciente mandou mensagem à noite, dizendo que o bebê tremia os olhos e movia a coluna. Pedi que enviasse um vídeo. Vi que era uma crise convulsiva e a mandei ir ao hospital medicá-lo. Se a gente tivesse demorado, teria sido muito ruim para o bebê".

Acordos no celular

Juízes começaram neste ano a reunir envolvidos em processos trabalhistas, mais os mediadores e o juiz, em grupos de WhatsApp para chegar a acordos de conciliação antes mesmo das audiências presenciais. Obtido o acordo, o processo termina bem antes do esperado.

Pioneira do gênero, a juíza Ana Cláudia Torres Vianna, diretora do Fórum Trabalhista de Campinas (SP), começou a tendência em junho. Desde então, já foram mais de 100 acordos realizados pelo WhatsApp. Funciona assim: é criado um grupo que terá como nome o número do processo; após a negociação, é expedida uma certidão com os detalhes do acordo; as partes confirmam o acerto nos autos físicos e eletrônicos; o reclamante ratificará para o juiz, e por fim, homologará o acordo.

"Nossa ideia nasceu porque não damos conta da quantidade de audiências marcadas. A opção atende principalmente quem mora fora da cidade. Nas audiências, a queda de energia era comum, o que atrasava o avanço do acordo", explica Ana Cláudia.

Também aderiu à tendência a juíza Tamara Gil Kemp, da Vara do Trabalho do Gama (DF). Inspirada pela iniciativa de Campinas, sua primeira negociação pelo celular durou cerca de cinco horas. No dia seguinte, as duas partes assinaram os papéis em uma audiência presencial. Em dez minutos, o processo estava finalizado.

"A conversa foi apenas para chegar no consenso. Se não fosse pelo WhatsApp, teríamos que esperar uns quatro meses pela audiência presencial. Mas o app facilita a comunicação, ele não serve para substituir a audiência", ressalta.

As duas juízas também criticaram o bloqueio do serviço. "Minha comunicação com os servidores ficou ruim. O juiz trabalha muito em casa, então tive de dar orientações e despachar com meu pessoal por telefone", reclama Tamara. "Quem acaba prejudicada [pela decisão] são as pessoas. Uso muito o aplicativo para trabalho e com ele gasto muito pouco. Se fosse pelo celular, o gasto seria muito maior".