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Siri, Google Now, Cortana: por que assistentes não funcionam bem no Brasil?

Assistentes de voz Siri (Apple), Google Now (Google) e Cortana (Microsoft) - Divulgação
Assistentes de voz Siri (Apple), Google Now (Google) e Cortana (Microsoft) Imagem: Divulgação

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

22/09/2016 06h00

Já faz uns anos que os iPhones contam com a Siri e os celulares Android com a Google Now. Recentemente os donos de PCs com Windows 10 ganharam a versão em português da assistente pessoal Cortana. Mas se você já usou algum desses programas há grandes chances de ter se decepcionado.

Segundo os especialistas ouvidos pelo UOL, os assistentes pessoais no Brasil deixam mesmo a desejar em relação às versões norte-americanas ou de países de língua inglesa. O que acontece é que, como há mais gente usando a plataforma em inglês, o sistema desenvolve-se mais rápido.

É possível identificar padrões de reações diferentes [comparando inglês e português]. Em um sistema nesse formato, há a necessidade da identificação prévia dos comandos, e eles foram inicialmente mapeados partindo de matriz em língua inglesa. 

Luiz Miguel Axcar, gestor de tecnologia do Instituto Soma

Axcar afirma isso baseado em testes --já que os códigos de programação desses assistentes são de propriedade da Apple, Google e Microsoft e, assim, são fechados.

As integrações com apps terceiros, também criados por quem fala inglês, funcionam melhor pelo mesmo motivo. Isso é evidente principalmente no Google Now. O recurso "on Tap" do assistente da Google consegue escanear e dar resultados dentro de apps do Google e de terceiros, como Spotify e iMDB.

Por exemplo: se você estiver usando o Spotify, um toque mais longo no botão Home do Android vai "ler" tudo que está na tela e trazer resultados de busca e conexões com outros apps, como sugestões de vídeos do artista no YouTube. Ou se perguntar com a voz "quem é o vocalista?", ele trará a resposta via resultado no Google.

"Lá fora existe uma cultura de voz muito grande porque os desenvolvedores fazem muitos apps para uso com voz. Um exemplo disso é o Waze. Ando muito de moto e coloquei um sistema de celular no capacete, mas o equipamento não reconhece minha voz direito. Como o Waze é feito lá fora, o 'On Tap' não integra tão bem com ele", comenta Celso Fortes, diretor-executivo da agência de marketing digital Novos Elementos.

Fortes também usa a Siri, da Apple, que nos testes do UOL se mostrou o mais preciso na compreensão de voz, mas ainda assim com falhas. Ele diz que uma solução temporária é usar a criatividade.

Na minha agenda mudo o nome da pessoa para a Siri entender. A minha filha se chama Luisa e a Siri não a reconhecia, então a identifiquei na agenda pelo apelido 'Lui' e aí passou a reconhecer

Celso Fortes

No caso do Brasil, o fato de telefones Android com hardware inferior serem maioria também teria influência negativa no desempenho dos assistentes de voz. Assim como a demora para ter resultados de buscas por conta má qualidade da internet móvel no país.

"A banda larga ruim atrapalha no retorno da informação [dos resultados] em buscas na internet. E a grande quantidade de celulares antigos é um problema no Android, pois nem todos aceitam o download do Google Now ou o têm como nativo. Já com a Siri isso não ocorre porque é uma tecnologia nativa em qualquer iPhone", explica Fortes. 

No entanto, nem todos os entrevistados consideraram esses pontos cruciais para resolver os problemas das assistentes pessoais. 

"Apesar de limitações de hardware ou de largura de banda também serem fatores importantes, eles estão em segundo plano quando comparados às tecnologias de fala que precisam ser desenvolvidas [no Brasil]", considera Aline Villacicêncio, professora do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A professora crê que o desenvolvimento de tecnologias de voz precisa acontecer em território nacional para evoluir mais rapidamente.

Mercado de interesse

Apesar de a língua portuguesa não ser uma das mais faladas no mundo, ela tem um potencial enorme de mercado ainda muito pouco explorado. Grandes empresas internacionais já estão investindo em pesquisa nesta área para o português do Brasil, como a Samsung, a Microsoft e a IBM. O futuro é promissor, mas para isto, como nos ensina os Estados Unidos, precisamos de investimento

Google, Apple e Microsoft, empresas responsáveis pelos assistentes pessoais Google Now, Siri e Cortana, foram procurados pela reportagem, mas apenas a Microsoft respondeu.

Sobre a qualidade do reconhecimento do idioma em português, a empresa disso que a Cortana foi produzida para o português com uma equipe de brasileiros para não só para que ela “falasse” a língua, mas para que tivesse "características brasileiras, no modo de interagir e responder aos usuários e também assimilando preferências comuns entre os brasileiros, como gostar de novelas e futebol".

A limitação tecnológica dos aparelhos é sentida de forma apenas parcial na Cortana, segundo a Microsoft. "Ela certamente pode ser melhorada através de dispositivos mais atuais que contam com microfones e alto-falantes de maior qualidade, porém usuários com dispositivos mais antigos atualizados para o Windows 10 ainda poderão ter uma boa experiência com ela."

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