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Novo sistema consegue barrar quase 100% da pornografia de sua TV e celular

Sistema promete barrar pornografia indesejada em vários dispositivos - Getty Images
Sistema promete barrar pornografia indesejada em vários dispositivos Imagem: Getty Images

Da Agência Fapesp

04/04/2017 11h43

A universalização do uso do celular e da internet trouxe um problema para parte dos usuários: o acesso indiscriminado a sites e vídeos com conteúdo pornográfico, que pode ser voluntário ou involuntário --por exemplo, quando você recebe mensagens indesejadas, que contêm anúncios obsceno. Uma tecnologia nova, contudo, pretende acabar com esse problema.

Os pesquisadores do Samsung Research Institute Brazil procuraram, em 2012, o Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para tentar desenvolver um filtro em tempo real para o conteúdo indesejado.

O resultado foi publicado agora no periódico Neurocomputing: um sistema de learning machine (máquina de aprendizado) que mistura inteligência artificial, informações estáticas e de movimento, neurociência e deep learning (metodologia que busca representações melhores em cada nível do aprendizado, normalmente na forma de diversas camadas).

Ele é capaz de reconhecer e barrar quase todo o conteúdo pornográfico em um dispositivo. 

“Eles [da Samsung] estavam em busca de uma solução para ser instalada no sistema operacional de celulares, tevês e computadores que permitisse aos consumidores com filhos a possibilidade de bloquear previamente, no momento da compra de um aparelho, por exemplo, o acesso a conteúdo sensível”, disse Anderson Rocha, professor do IC-Unicamp e coordenador da pesquisa.

Temos hoje um filtro bastante eficaz, capaz de identificar mais de 97% do conteúdo pornográfico em geral. Trata-se de um patamar superior às soluções atualmente consideradas como estado da arte, cuja eficácia, muitas vezes, oscila de 87% até 94%

A nova tecnologia foi patenteada em copropriedade entre a Samsung e a Unicamp.

Como determinar o que é sexo?

Os sistemas pioneiros de detecção de pornografia consistem em primeiro tentar detectar cenas de nudez para, em seguida, definir qual o limite de exposição física aceitável, além do qual se configuraria a pornografia, que passaria então a ser filtrada. Essas soluções costumam usar como base de comparação características da pele humana como a cor e a textura, além de dados da geometria corporal humana.

O problema é que nem todas as imagens com grande exposição de pele humana têm a ver com sexo, como é o caso de gente se bronzeando ou nadando ou cenas de lutadores de MMA ou de luta greco-romana, por exemplo.

Uma solução mais avançada envolve a filtragem de conteúdo adulto feita com base em uma lista de palavras classificadas conforme descrições do que é permitido e do que é pornográfico. Entretanto, esse método ainda seria incapaz de distinguir a diferença entre cenas ambíguas. Como diferenciar, por exemplo, um exame médico de pornografia?

No caso de vídeos, os pesquisadores da Unicamp acreditam que dá para reduzir os casos de ambiguidade ao se adicionar outro elemento de classificação: informações de movimento extraídas ao longo do tempo. Dependendo do tipo de movimento, o vídeo é bloqueado.

Segundo Rocha, o método foi testado em um conjunto de dados contendo aproximadamente 140 horas com mil vídeos pornográficos e mil vídeos não pornográficos que variavam de 6 segundos a 33 minutos. Os vídeos pornográficos envolviam atores de etnias diversas e também foram considerados desenhos animados. 

Entre os vídeos não pornográficos havia cenas de banhistas na praia e em clubes, ou combates de lutas. Foi usando essa metodologia que a equipe do Instituto de Computação da Unicamp conseguiu elevar o nível de filtragem de pornografia aos 97%.

Outras aplicações

A nova tecnologia de análise dos movimentos pode ser usada em muitas outras coisas. “Já é possível rastrear um indivíduo no meio de uma multidão pelo seu modo de andar. É impressionante o que se consegue aprender hoje a partir da análise de dados”, disse Rocha.