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Não basta roubar celular: ladrões também mudam senhas de Facebook e e-mail

Roubo de celular pode se transtornar em dor de cabeça ainda maior - Getty Images/iStockphoto
Roubo de celular pode se transtornar em dor de cabeça ainda maior Imagem: Getty Images/iStockphoto

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

29/05/2017 04h00

Ninguém, lógico, gosta de ter o telefone celular roubado - as consequências financeiras e as dores de cabeça de configurar um novo aparelho são enormes. Contudo, uma prática feita por criminosos torna o processo ainda mais estressante: não basta perder o aparelho, as vítimas se deparam muitas vezes com senhas do Facebook, e-mail e outras contas trocadas.

A situação não é novidade, mas cada vez mais usuários passam por esse tormento. Foi o caso de Amanda Pereira, historiadora de 21 anos, que teve o celular furtado em maio de 2016 na região da avenida Paulista, em São Paulo, e notou invasões em sua conta do Facebook.

"Estava dormindo em um ônibus e, quando fui ver as horas, percebi que o bolso da frente da minha mochila estava aberto, e o celular tinha sumido. Não tinha certeza se tinha perdido o celular, então entrei pelo computador no Facebook e comecei a mandar mensagem para amigos para ver se tinha esquecido em algum lugar. Logo depois a pessoa começou a mudar minhas senhas no Facebook e eu não conseguia mais acessar", relata.

No desespero, a historiadora travou o Facebook por 24 horas para evitar o uso dele pelo ladrão e passou a trocar senhas de outras contas, como do e-mail, por prevenção.

A história não acontece só com ela e muitas pessoas relatam procedimentos semelhantes em redes sociais:


Como os ladrões conseguem fazer isso?

A troca de senha pelos ladrões pode surpreender muitas vítimas, mas em alguns casos não demanda tanto conhecimento dos criminosos. Principalmente se o celular já estiver desbloqueado quando for roubado.

Como as pessoas deixam os apps logados, basta o bandido entrar nessas contas e trocar senhas - a troca normalmente ocorre com confirmações no e-mail do usuário, normalmente já logado no aparelho, ou no celular cadastrado no serviço, que estará em posse do ladrão.

Tem usuário que deixa a situação ainda mais fácil para o ladrão, quando mantém senhas em arquivos no celular ou no e-mail.

Mas nem mesmo o bloqueio do celular com senha é capaz de barrar certos criminosos. Para Marco DeMello, CEO da PSafe, quem roubou pode ter alguns conhecimentos hackers.

"Depende do nível de sofisticação do ladrão. Existem várias técnicas e dispositivos que você pode conectar para fazer isso. Reiniciar o celular no modo debug e abrir o celular pulando as etapas de senhas, ataques ao sistema operacional, reiniciar o celular em modo de conserto e reparo, acoplar um dispositivo USB...", explicou.

Estar bloqueado não significa que está 100% protegido

Por que fazem isso?

A outra dúvida que fica é: o cara já roubou meu celular, me deu um baita prejuízo, precisa me prejudicar mais mudando a senha da minha rede social ou do meu e-mail?

Isso depende da finalidade do ladrão e de quais crimes mais está disposto a cometer - sendo que o furto e a invasão digital já são dois crimes.

Ele pode fazer isso só para atrasar qualquer contato com a polícia ou comunicado a amigos sobre o furto - como pode ter acontecido no caso de Amanda, que tentava conversar com amigos justamente sobre o celular perdido. As notificações apareciam no celular roubado.

Ou então é para pedir um resgate para devolver o acesso às contas

DeMello

Ás vezes, o criminoso usa as redes sociais da vítima para cometer um crime ou assumir a identidade do usuário para espalhar vírus, diz o especialista.

Professor da Unesp de Bauru, Eduardo Morgado diz que o ladrão pode também tentar dar golpes nos seus contatos do Facebook, e-mail ou do próprio celular em busca de dinheiro.

"Ele busca contatos que cairiam em algum tipo de golpe, do tipo 'estou ferido'. Vai descobrir um contato com quem você fala muito, daí manda uma mensagem pedindo R$ 10 mil para salvar você, que é o dono do celular", afirma.

Como se proteger?

Segundo Morgado, uma maneira de se proteger é sempre manter as contas deslogadas do celular, à espera de senhas que não podem estar escritas em nenhum local do aparelho. Mas é claro que ninguém - nem o professor - faz isso, porque não é nada prático.

"Vida digital segura é como viver em uma casa ou apartamento seguro. É um saco: tem porteiro, crachá, identificação. As pessoas que usam o celular dia e noite não querem perder tempo", compara.

Há outros caminhos, no entanto, que ajudam a atrasar a vida do criminoso. Um deles é colocar senhas em aplicativos ou em pastas do aparelho, que só podem ser abertas com a senha do usuário ou a impressão digital - há celulares ou apps por aí que fazem isso, como um da própria PSafe.

Mais uma recomendação: troque suas senhas, mesmo que não tenha sido roubado. "Perdeu, passou um dia? Troque todas as suas senhas", recomenda DeMello.