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Editor da imagem tem que saber o limite, diz pai do Photoshop sobre excesso

Thomas Knoll, criador do Photoshop, está com exposição de fotos no MIS - Divulgação
Thomas Knoll, criador do Photoshop, está com exposição de fotos no MIS Imagem: Divulgação

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

14/08/2017 13h54

Criado para ser apenas um editor divertido e prático de imagens, o Photoshop ainda é alvo de inúmeras polêmicas ligadas à manipulação de fotos. De uma cicatriz apagada a multiplicação de pessoas dentro de um mesmo espaço. O fato é que com a evolução do programa ficou muito mais fácil e rápido modificar imagens.

Diante da polêmica, o “pai” do programa Thomas Knoll considera que o foco da discussão deve ir além. Para ele, a questão fundamental é que o programa não pode ser visto como o culpado por modificações indiscriminadas sendo feitas por aí.

“O retoque já existe há muito mais [tempo] do que o Photoshop. Os fotógrafos faziam retoques, especialmente de retratos, há mais de cem anos antes do lançamento do Photoshop. Ele tornou o processo mais fácil, mais conhecido e também tornou mais difícil detectar os efeitos disso. Mas não criou nada novo”, afirmou Knoll em entrevista para o UOL. O criador do programa visitou o Brasil na última semana para inaugurar sua exposição de fotos no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.

Segundo o fotógrafo, é preciso reforçar que o mérito (ou não) sobre o resultado final é de quem faz o trabalho de manipulação.

"O criador da imagem tem a responsabilidade de descobrir onde é esse limite - e permanecer dentro dele".

“O Photoshop é uma ferramenta como qualquer outra. Assim como um martelo, você pode construir uma casa ou fazer coisas más. Ou mesmo para coisas estúpidas, como bater em seu polegar”, acrescentou.

A confiança na fonte da qual se recebe a imagem também é fundamental para o fotógrafo. “Você precisa confiar na fonte. E o trabalho dessas organizações [que produzem, editam e oferecem imagens] é obter uma reputação e manter essa reputação”, acrescenta.

Cultura da perfeição

Quando perguntado sobre a polêmica de o Photoshop servir para reforçar a cultura da perfeição -- em que corpos são modificados para seguirem certos padrões de beleza --, o criador da ferramenta respondeu que é preciso haver um equilíbrio.

Fazer pequenos retoques e modificações para que as imagens fiquem melhores não prejudica o resultado, de acordo com Knoll. O problema é quando excessos são cometidos. “Certamente é possível ir para os extremos e você cria imagens não realistas. Acho que isso é desagradável”, afirmou.

Para ele, o retoque em imagens de pessoas é feito em busca de restaurar um sentimento de proximidade entre as pessoas e de estar perto de uma experiência real. “Na vida você olha as pessoas e não tem tempo de olhar cada ruga, cada poro e todo o corpo”, destacou.

Thomas Knoll, criador do Photoshop. Exposição no MIS - foto 3 - Adobe Systems Brasil / Divulgação - Adobe Systems Brasil / Divulgação
Knoll durante abertura da exposição Infinitude
Imagem: Adobe Systems Brasil / Divulgação

Largou doutorado para desenvolver o programa

Knoll contou ainda sobre o processo de criação do Photoshop, lá no final da década de 80. Enquanto tentava terminar seu doutorado, foi convencido pelo irmão John de que seria legal (e útil) desenvolver uma ferramenta capaz de ajudar na edição de imagens.

Como a fotografia já era uma paixão desde criança e Knoll já havia criado alguns programas para o uso pessoal, o estudante começou então a pesquisar e a desenvolver algo com a perspectiva de torná-lo mais comercial.

“Comecei a desenvolver o Photoshop no outono de 1987 e a primeira versão saiu em fevereiro de 1990. O primeiro usuário realmente foi meu irmão John e ele teve que criar um monte de demos para vender [o programa]. Foi ideia dele que poderíamos converter isso de um projeto divertido para nós dois em algo que poderíamos vender”, lembrou.

O trabalho dos irmãos deu tão certo que Knoll largou o doutorado para se dedicar exclusivamente ao editor de imagens, principalmente depois que ele foi adquirido pela Adobe.

“Meu trabalho real naquela época era terminar o doutorado. Só que era algo que eu realmente odiava fazer. Então eu gastava meu tempo trabalhando no Photoshop, o que eu achava muito mais divertido. A primeira versão do Photoshop decolou quase imediatamente e aconteceu que nunca voltei [aos estudos do doutorado]”, contou.

Sobre um balanço dos 27 anos de existência do programa, Knoll ressaltou que tem sido uma “experiência maravilhosa”. Até hoje o fotógrafo atua em pesquisas da Adobe relacionadas ao desenvolvimento da ferramenta e parece que não irá abrir mão disso tão cedo.

"Sempre que estou assistindo um programa de TV ou um filme e eles usam a palavra Photoshop como um verbo penso: ‘nós fizemos isso e tudo é bastante surpreendente’”, disse.

Se quiser dar uma olhada nas fotografias feitas por Knoll durante suas viagens pelo mundo, a exposição Infinitude fica aberta até 20 de agosto, em São Paulo. Veja a seguir os detalhes:

Serviço

Data: Até 20 de agosto de 2017
Horário: 11h às 20h (terça a sexta-feira/permanência até às 21h); 10h às 21h (sábados/ permanência até às 22h); e 10h às 19h (domingos e feriados/ permanência até às 20h). A bilheteria abre uma hora antes da visitação
Local: MIS - Av. Europa, 158, Jd. Europa, São Paulo.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Terças-feiras gratuitas.