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Projeção de uso de energia pelo bitcoin pode ser otimista demais

Valorização do bitcoin pode leva a alto consumo de energia por mineradores - Getty Images/iStockphoto/Baloon111
Valorização do bitcoin pode leva a alto consumo de energia por mineradores Imagem: Getty Images/iStockphoto/Baloon111

Tim Loh

Da Bloomberg

17/01/2018 19h10

Há um debate crescente a respeito de quanta energia será absorvida pelos grupos crescentes de mineradores de criptomoedas do mundo.

Na semana passada, analistas do Morgan Stanley afirmaram que os mineradores de bitcoins podem vir a usar até 140 terawatts-hora de eletricidade em 2018. O volume representa quase 1% da demanda global e é suficiente para desviar a atenção dos carros elétricos como nova e explosiva fonte de consumo de energia.

Na terça-feira, o Credit Suisse Group jogou um balde de água fria na ideia de que o bitcoin criaria um "crescimento descontrolado" da demanda por energia. Os analistas do banco lembraram previsões excessivamente otimistas sobre a demanda de produtores de maconha e operadores de centros de dados, que posteriormente encontraram formas de reduzir o consumo de eletricidade. O Credit Suisse prevê um fenômeno similar com as criptomoedas.

"Está muito distante da energia e do Armagedom ambiental que alguns temiam", escreveram os analistas, liderados por Michael Weinstein, no relatório.

O debate mostra a dificuldade de projetar a demanda da mania das criptomoedas, que já está motivando distribuidoras e desenvolvedoras de energia renovável de todo o mundo a fazerem propaganda de suas ofertas para o setor.

Quando o bitcoin disparou, em 2017, a demanda por eletricidade associada à moeda digital subiu para cerca de 20,5 terawatts-hora por ano, segundo relatório da Bloomberg New Energy Finance. Os mineradores ganham recompensas denominadas em bitcoin por realizar cálculos complexos e de alto consumo de energia necessários para confirmar transações na criptomoeda.

Apesar de os preços mais elevados terem estimulado mais mineração, é impossível saber para onde vai o mercado, disse Isabelle Edwards, analista da BNEF. Se os preços permanecerem elevados, o mesmo ocorrerá com o consumo de energia.

Mas a quantidade de eletricidade necessária para a mineração de bitcoins pode cair se houver melhorias na tecnologia de computação. Por outro lado, se os preços caírem, é "quase inevitável que alguns mineradores saiam do mercado", disse Edwards.

O Morgan Stanley advertiu que as projeções de demanda "claramente não são uma ciência exata", mas sugeriu que a mineração de bitcoins poderia estimular o crescimento das energias renováveis dos EUA à China.

Uma distribuidora de energia canadense mostrou entusiasmo. A Hydro-Quebec anunciou que está em negociações "bastante avançadas" com mineradores para realocação para a província e prevê que os mineradores consumirão cerca de 5 terawatts-hora de energia por ano -- o equivalente a cerca de 300.000 residências do Quebec -- do excedente gerado pelas hidrelétricas da região.

Pedido de cautela

O Credit Suisse pediu cautela aos investidores que esperam "se beneficiar significativamente" com o crescimento da demanda por eletricidade. Apesar de os mineradores de bitcoins atualmente usarem tanta eletricidade quanto a Irlanda, é "muito pouco provável" que atinjam o limite "ultraelevado" de 350 terawatts-hora por ano -- nível que equivaleria a 1,4 por cento da demanda global, segundo os analistas.

Pelos preços atuais do bitcoin e da eletricidade, os fornecedores de energia e combustível podem ter até US$ 5 bilhões em "oportunidade de receita anual global". O número pode ser comparado com os mais de US$ 6 trilhões de despesas globais com energia todos os anos.

--Com a colaboração de Michael Bellusci