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5 empresas de tecnologia que devem abrir capital e agitar o mercado em 2018

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Imagem: Getty Images/iStockphoto

Breno França

Colaboração para o UOL

04/03/2018 04h00

Já é oficial: o Spotify vai mesmo abrir capital em 2018. A empresa deu entrada nas papeladas para negociar suas ações na bolsa de valores, e desde dezembro vinha tentando manter o processo em sigilo. Na última quarta (28), porém, a companhia oficializou a intenção ao pedir listagem para a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA para uma operação que está avaliada em US$ 1 bilhão.

A confirmação da transição pública da empresa veio junto com o anúncio de bons números para animar os potenciais investidores. A maior empresa global de streaming de músicas opera em mais de 60 países e conta com 159 milhões de usuários mensais, dos quais 71 milhões pagam pelo serviço premium.

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Mas a abertura de capital da empresa que atenderá pelo ticker “SPOT” na bolsa de Nova Iorque também vem chamando atenção pelo tipo de operação escolhida. Diferente do tradicional IPO, sigla em inglês para oferta pública inicial, o Spotify escolheu fazer um DPO, sigla para oferta pública direta em inglês.

Essa escolha traz benefícios para a empresa já que trata-se de um processo mais barato e rápido para quem oferta uma vez que não há necessidade de contratar grandes bancos para intermediar a operação, mas também apresenta alguns riscos como por exemplo ficar suscetível à volatilidade do mercado desde o primeiro dia, dado que não há acordos com instituições financeiras nem investidores de longo prazo.

Nesse caso, porém, o Spotify parece ter calculado muito bem os prós e contras da operação que só foi liberada para empresas com valor acima de US$ 1 bilhão em junho do ano passado e que portanto será inédita nessas dimensões. Isto porque a decisão e o planejamento partiu do diretor financeiro Barry McCarty, o mesmo que foi responsável pela abertura muito bem-sucedida de capital do Netflix em 2002: quem investiu US$ 1 mil em ações da empresa no seu IPO poderia vendê-las por US$ 131,9 mil exatos quinze anos depois.

Para os usuários do aplicativo, a abertura de capital do Spotify pode representar duas coisas distintas. Os otimistas esperam que o valor arrecadado seja suficiente para fazer a empresa dar um sonhado próximo passo: produzir conteúdo original, reduzindo sua dependência das gravadoras e aumentando as opções disponíveis na plataforma. Já os pessimistas acreditam que uma boa arrecadação no mercado financeiro poderá despertar um motim de artistas e produtoras contra a empresa já que eles andam constantemente insatisfeitos com os valores praticados, o que poderia, em última instância, diminuir o cardápio musical disponível. A ver.

De qualquer forma, a entrada do Spotify não deve ser o única nem a maior do ramo neste ano. Outras firmas tecnológicas seguirão esse mesmo caminho em 2018. Assim, listamos abaixo outras cinco empresas que prometem agitar o mercado financeiro comercializando suas ações pela primeira vez.

Dropbox
Dropbox decidiu abrir a venda de ações - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Dropbox também decidiu abrir a venda de ações da empresa
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Na semana passada, quem anunciou seu IPO foi o Dropbox. Com o processo de abertura de capital mais avançado do que o do Spotify, o serviço de compartilhamento e armazenamento de dados na nuvem deverá ser o maior lançamento público de uma empresa de tecnologia desde o Snapchat em março de 2017 que arrecadou US$ 3,4 bilhões.

Atualmente, a companhia fundada em 2007 conta com 500 milhões de usuários ativos, dos quais 11 milhões pagam pela versão premium que permite armazenamento de até 1 terabyte de dados. Com isso, a empresa espera arrecadar US$ 500 milhões que devem impulsionar também uma mudança na balança de seus usuários. Isso porque os investidores certamente pressionarão para que a empresa mostre como pretende converter mais usuários de versão gratuita em assinantes.

Ao que tudo indica, porém, o foco inicial da startup deverá ser em alavancar o número de usuários corporativos, investir em infraestrutura técnica e elaborar novos produtos ou serviços que possam ampliar o portfólio do Dropbox. Ninguém sabe ao certo, porém, quais produtos ou serviços seriam esses. O que se sabe é que a companhia que usará a sigla DPX na bolsa de Nova Iorque já está contratando novos funcionários para sua equipe de engenharia, produção e design.

Xiaomi 
Xiaomi pode abrir a venda de ações em 2018 - Jason Lee/Reuters - Jason Lee/Reuters
A Xiaomi também pode abrir a venda de ações visando mercados ocidentais
Imagem: Jason Lee/Reuters

O IPO que deve realmente fazer barulho em 2018 é o da gigante chinesa Xiaomi. Ela já teria contratado os bancos Goldman Sachs, Morgan Stanley, Credit Suisse e Deutsche Bank para trabalhar neste que pode ser o maior IPO de tecnologia do mundo. O valor da empresa está estimado em mais de US$ 100 bilhões.

Embora a Xiaomi tenha sido ultrapassada recentemente pela Huawei como maior fornecedora de smartphones da China, conta a seu favor o excelente desempenho na Índia e na Rússia, o que tornou a empresa menos dependente do mercado doméstico. 

Ainda sem ter definição sobre a abertura de capital na bolsa de Hong Kong ou em Wall Street, o certo é que a empresa terá capital suficiente para expandir definitivamente para mercados desenvolvidos como Europa e Estados Unidos.

Além disso, uma operação bem-sucedida por parte da gigante fundada em 2011 e ainda hoje comandada por um de seus criadores, Lei Jun, pode ser o incentivo derradeiro para que outras empresas de tecnologia chinesas comecem a levar para valer seus smartphones de baixo custo e boas especificações para mercados ocidentais, incluindo o Brasil (já que a passagem da Xiaomi por aqui não foi o sucesso que fãs da marca esperavam).

A expectativa é de que o IPO da Xiaomi aconteça apenas no segundo semestre.  

Dell
Dell pode voltar ao mercado de ações - Paul Sakuma/Associated Press	 - Paul Sakuma/Associated Press
Depois de fechar o capital, a Dell pode estar se preparando para voltar a vender ações
Imagem: Paul Sakuma/Associated Press

A americana Dell fechou seu capital há cinco anos num negócio de US$ 24,9 bilhões e está considerando voltar atrás no momento em que enfrenta graves problemas financeiros. A maior empresa de tecnologia de capital fechado do mundo acumula uma dívida estimada em US$ 46 bilhões e sofre pressão para aumentar os lucros, sobretudo depois que a aquisição do provedor de armazenamento de dados EMC Corp por US$ 67 bilhões em 2016 não rendeu os resultados esperados.

O insucesso da operação se soma a concorrência cada vez maior no seu principal negócio de hardware e no de serviços baseados na nuvem. Esse último setor, inclusive, deve ser priorizado em relação a investimentos após um eventual IPO, uma vez que a empresa encontrar sérias dificuldades para aumentar sua fatia no mercado de hardware, o que inclui notebooks e desktops.

Apesar das negativas da companhia, o futuro deverá ser discutido pelos membros do conselho numa reunião no final deste mês. As possibilidades de um IPO, da venda de ativos ou mesmo de uma fusão com a produtora de software VMware – sua subsidiária de capital aberto – não estão descartadas. De um jeito ou de outro, as ações da Dell devem voltar a agitar o mercado até o fim do ano num movimento de fechamento e abertura de capital raro se considerarmos o intervalo de apenas quatro anos. Dependendo da solução escolhida e dos resultados alcançados, os consumidores podem se acostumar a ver uma das principais marcas de eletrônicos do mundo sair pouco a pouco do jogo dos PCs.

O interessante é observar que na época do fechamento do capital da empresa em 2014, muito se falava da necessidade de inovação por parte da Dell que já vinha perdendo espaço no mercado e que teoricamente poderia fazê-lo agora que não precisava mais prestar contas ao mercado. Agora, em 2018, apostas erradas podem obrigar a companhia a voltar a prestar contas para o mercado. 

Toshiba
logo Toshiba - Issei Kato/Reuters - Issei Kato/Reuters
A Toshiba pode colocar à vendas ações da sua divisão de chips
Imagem: Issei Kato/Reuters

A japonesa Toshiba está considerando fazer uma oferta pública de ações para sua unidade de chips de memória também em 2018. Esse IPO, porém, está condicionado ao fracasso da operação de venda estimada em US$ 18 bilhões dessa mesma unidade para um consórcio liderado pela Bain Capital, que pode não receber a aprovação antitruste.

A hipótese de abandonar o acordo existente e optar por um IPO vem ganhando força. Isto porque a empresa levantou US$ 5,4 bilhões no final do ano passado com uma nova oferta de ações para fundos estrangeiros e conseguiu a liquidez que buscava para cobrir os passivos. Sendo assim, o acordo feito num momento em que a Toshiba precisava do dinheiro já não é mais tão interessante para a companhia japonesa e seus acionistas. Especialistas agora indicam que não só a Toshiba poderia arrecadar muito mais dinheiro optando por um IPO como poderia manter o controle sobre um importante e promissor ramo de suas operações.

A unidade de chips é vista com bons olhos por empresários e investidores e um IPO poderia trazer competitividade para a companhia e representar um barateamento em smartphones e aplicativos de empresas que utilizam os microchips da Toshiba. A Apple, por exemplo, é uma dessas empresas. Já uma operação mal-sucedida, poderia ter o impacto contrário, já que os japoneses são uma das poucas opções disponíveis no mercado de produção de microchips em larga escala.

Docusign
Docusign - Divulgação - Divulgação
Avaliada em US$ 3 bilhões, a Docusign tem IPO previsto para o primeiro semestre
Imagem: Divulgação

Outra empresa que tem IPO previsto ainda para o primeiro semestre do ano é a DocuSign, uma empresa avaliada em US$ 3 bilhões que oferece serviços de assinatura digital e gerenciamento de documentos digitais. Entre seus 300 mil clientes estão bancos, seguradoras, indústrias farmacêuticas, empresas de telecomunicações e imobiliárias.

Dona de 40% do mercado de assinaturas digitais, a empresa tem boa penetração tanto no corporativo quanto no varejo, e isso faz com que ela seja avaliada como um potencial gigantesco pelo mercado. Ainda assim, especialistas dizem que justamente pelo papel vital que os serviços oferecidos pela DocuSign têm, o natural é que uma empresa maior acabe adquirindo 100% da companhia.

Esse, porém, não parece ser o plano do CEO Daniel Springer, que já declarou esperar aumentar os investimentos e consequentemente sua fatia de mercado no gerenciamento de documentos, incluindo o rastreamento e a autenticação desses arquivos, além da integração com processadores de pagamento. Tudo isso pode representar para o consumidor final um incentivo à digitalização de processos que exigem troca de documentos e dinheiro, incluindo burocracias do setor público. Já imaginou não ter mais que ir ao cartório?