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Como o Twitter quer melhorar o conteúdo de seus posts

CEO do Twitter, Jack Dorsey quer medir o nível de "saúde" das conversas dos usuários. - Divulgação
CEO do Twitter, Jack Dorsey quer medir o nível de "saúde" das conversas dos usuários. Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

08/04/2018 04h00

Redes sociais como o Twitter e o Facebook deveriam aproximar as pessoas, mas com tantos discursos de ódio e perseguições, não são poucos os que enxergam o papel dessas plataformas como parte de um problema. O próprio executivo-chefe do Twitter, Jack Dorsey, questiona se as pessoas têm conversas saudáveis em sua rede e se, na verdade, o Twitter faz mal para a sociedade.

Jack publicou uma série de mensagens no Twitter, primeiro se desculpando pelo conteúdo abusivo e agressivo que se tornou comum na rede social.

"Temos testemunhado abuso, perseguição, exércitos de 'trolls', manipulação através de bots e de usuários humanos, campanhas de desinformação e câmaras de eco cada vez mais divisórias", escreveu Dorsey. "Nós não temos orgulho de como as pessoas se aproveitam do nosso serviço, e nossa falta de habilidade para resolver rápido o bastante".

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O executivo foi além de pedir desculpas e anunciou que vai mensurar a "saúde" das conversas no Twitter.

"Nós amamos comunicação global, pública e instantânea. É para isso que o Twitter existe e estamos aqui. Mas não previmos ou entendemos completamente as consequências negativas no mundo real. Nós compreendemos isso agora e estamos determinados a encontrar soluções justas e holísticas".

Dorsey diz que para melhorar o Twitter, é preciso ser capaz de medir a qualidade das conversas. O executivo diz que vai encontrar uma forma de mensurar a "saúde da interação humana" dentro do Twitter e, assim, desenvolver métodos para balancear a toxicidade da comunicação na rede social.

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O Twitter permite a comunicação instantânea e global, mas é utilizado para fins nem um pouco saudáveis, como desinformação e perseguições online.
Imagem: Divulgação

Indicadores de saúde

O executivo citou, em suas mensagens, a Cortico, uma organização não lucrativa que tem como missão "nutrir uma esfera pública saudável" e que o trabalho deles é uma inspiração para o Twitter.

A Cortico tem quatro indicadores para medir a saúde das conversas:

  • Atenção compartilhada: há sobreposição nos assuntos que estamos discutindo?
  • Realidade compartilhada: estamos usando os mesmos fatos?
  • Variedade: estamos expostos a diferentes opiniões baseadas na realidade compartilhada?
  • Receptividade: estamos abertos, de maneira civilizada, a ouvir opiniões diferentes?

Dorsey também pediu aos usuários sugestões dos usuários para a tarefa.

"Nós não temos como fazer isso sozinhos", disse o executivo. "Então, nós estamos buscando ajuda e abrimos um processo para buscar ótimas ideias e implementações".

A empresa vai procurar especialistas para definir "o que significa saúde para o Twitter", com propostas para estudos. Pesquisadores interessados poderão enviar suas sugestões até o dia 13 de abril e os escolhidos receberão "financiamento significativo" e acesso aos dados dos usuários da rede social. Veja como participar na publicação feita no blog do Twitter.

No meio acadêmico, estudos sobre o tema não são raros. Segundo Susan Herring, professora de Ciência da Informação da Universidade de Indiana, nos EUA, a qualidade das interações online é um tópico de muitas discussões e estudos nos últimos 20 anos.

"Desejo sorte a eles, porque podem até descobrir muitas informações, mas tentar implementar mudanças e criar um ambiente saudável é muito mais desafiador", disse Herring sobre os planos do Twitter.

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O Twitter foi utilizado por bots russos para disseminar informações falsas e provocar discórdia entre eleitores nos EUA.
Imagem: Divulgação

Primeira medida

Na última sexta (6), Dorsey anunciou uma parceria entre Twitter e os pesquisadores Susan  Benesch e J. Nathan Matias. Segundo eles, quanto mais as regras de um serviço são claras e acessíveis, mais forte é a tendência dos usuários segui-las. Assim, a rede social vai tentar deixar as regras mais ao alcance de seus usuários para ver se o nível das conversas melhora.

Como isso será feito não foi revelado. Os pesquisadores dizem que não podem revelar o método, pois isso poderia atrapalhar os resultados. Eles receberam a aprovação de comitês de ética de duas universidades diferentes e vão trabalhar com dados anônimos. 

Os resultados da pesquisa serão registrados numa publicação acadêmica. "Esperamos que esse estudo possa prevenir abuso online", escreveram os pesquisadores

Abuso, manipulação e perseguições online

O Twitter permite a comunicação livre e instantânea entre usuários em qualquer lugar do mundo e, infelizmente, é usado para fins nada saudáveis - perseguição online, bullying e conflitos se tornaram comuns na rede social nos últimos anos.

Em novembro de 2017, a empresa parou de emitir certificados de verificação para os usuários do Twitter, afirmando que o sistema estava "quebrado" e que funcionava como uma forma de aprovação para trolls, supremacistas brancos e outros grupos que disseminam ódio na internet. O Twitter modificou suas regras de uso e começou a bloquear perfis de bots. Recentemente, a empresa passou a punir usuários abusivos bem conhecidos, inclusive banindo alguns para sempre.

Embora Dorsey não cite o caso diretamente, o interesse do Twitter em mensurar a qualidade das interações está relacionado também aos bots russos que usaram a plataforma para provocar discórdia entre os eleitores norte-americanos durante a corrida presidencial dos EUA em 2016. O caso chamou a atenção do Congresso norte-americano, que pode vir a intervir nos negócios da empresa, assim como dos rivais Google e Facebook.

Falando ao Congresso dos EUA, representantes do Twitter disseram que bots russos publicaram mais de meio milhão de vezes na rede social nos últimos meses das eleições presidenciais do país. Segundo a companhia, foi verificado que mais de 50 mil contas no Twitter estavam relacionadas ao esforço de propaganda russo.

Desde fevereiro, o Twitter tem monitorado, bloqueado e banido perfis que demonstram comportamento "automatizado". Quando um perfil desses é detectado, ele é bloqueado temporariamente e a empresa pede por um número de telefone para contatar o usuário e verificar se é um ser humano, antes de banir a conta. Não foi divulgado quantos bots já foram eliminados da rede social desde então.