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O futuro da Apple é produzir séries de TV e lançar discos?

A apresentadora Oprah Winfrey, nova contratada da Apple para produzir programas de TV - Getty Images
A apresentadora Oprah Winfrey, nova contratada da Apple para produzir programas de TV Imagem: Getty Images

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

25/06/2018 04h00

A Apple é a empresa mais valiosa do mundo há oito anos, de acordo com o ranking da revista de economia "Forbes". A empresa vale US$ 182,8 bilhões, 8% a mais do que em 2017. Nada mal, mas parece que a vontade de crescer é ainda maior, pois a tradicional fabricante de celulares e computadores agora quer entrar no ramo do conteúdo.

A aposta mais alta da empresa nesse sentido ocorreu há poucos dias, com o anúncio de que a apresentadora de TV mais badalada dos EUA, Oprah Winfrey, produzirá programas nos próximos anos para a Apple Music, plataforma que surgiu em 2015 como uma resposta ao Spotify.

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A Apple Music começou a valer o investimento há pouco tempo, após a notícia de que o serviço encostou no Spotify em número de assinantes nos EUA. Globalmente, tem 40 milhões de usuários em 115 países. Com uma confortável posição no mercado de streaming, o passo seguinte será encarar outro peixe grande: a Netflix.

Ainda que não saibamos muitos detalhes do acordo com Oprah, ela não foi a primeira e nem será a única estrela do portfólio exclusivo. Já tivemos cinco séries na plataforma e outras foram anunciadas.

Das atuais, há "Planet of the Apps", uma competição de criadores de apps com jurados como Gwyneth Paltrow e Jessica Alba; e "Carpool Karaoke", popular quadro em que o inglês James Corden entrevista e canta com famosos em um passeio de carro.

Das futuras, está previsto ainda o remake da série sobrenatural de Steven Spielberg "Amazing Stories", além de projetos ainda sem nome de gente de peso como a humorista Kristen Wiig, a atriz Reese Witherspoon e o diretor M. Night Shyamalan.

Não podemos esquecer ainda que a Apple Music em maio anunciou que terá uma divisão de editora de música, o que na prática equivale a se tornar um selo musical, lançando discos e artistas por conta própria.

Elton John participa do Carpool Karaoke com James Corden - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Elton John participa do "Carpool Karaoke" com James Corden; programa está no catálogo da Apple Music
Imagem: Reprodução/YouTube

"Totalmente dentro"

Quem está por trás disso tudo é Eddy Cue, vice-presidente sênior da Apple que responde pela Apple Music. Ele mexeu internamente para que a Apple começasse sua expansão em conteúdo, além de estar por trás dos grandes nomes de conteúdo citados aqui.

No ano passado, Cue contratou os veteranos da indústria de TV Jamie Erlicht e Zack Van Amburg para construir um estúdio interno. Os dois executivos conseguiram um orçamento de pelo menos US$ 1 bilhão para gastar em um ano, segundo a "Bloomberg".

Além disso, pôs recentemente Oliver Schusser e Elena Segal nos respectivos cargos de chefe global da Apple Music e chefe de publicação musical da Apple Music. Schusser é funcionário da Apple há 14 anos, contratado pelo próprio Cue; e Elena é bem conhecida entre os altos escalões da comunidade de editoras musicais.

"Não sabemos como criar programas", disse Cue no festival de tecnologia South by Southwest deste ano. "Reconhecemos isso". No mesmo evento, Cue disse que agora com as contratações e mudanças, a Apple agora está "totalmente dentro" do negócio de conteúdo.

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Tim Cook na WWDC, conferência da Apple
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O bonde do conteúdo próprio

A nova investida também pode ser uma virada na história da Apple, que nasceu nos anos 70 como uma empresa que fabricava computadores e seguiu criando outros aparelhos que icônicos no mundo tecnológico, como o iPod, o iPhone e o iPad, tendo Steve Jobs à frente das invenções.

Com a morte de Jobs em 2011, Tim Cook assumiu a empresa e imprimiu um ritmo diferente do de Jobs, com menos lançamentos bombásticos, porém mantendo lucros assombrosos.

Mas Cook também é criticado por uma suposta falta de inovação; por aparentemente copiar tendências da concorrência; por lançar produtos novos que venderam aquém do esperado, como o Apple Watch e o alto-falante Homepod; e por estar perdendo terreno onde era forte, como nos laptops.

Assim, embora não dê para dizer que os fãs da Apple sente-se frustrada com os rumos atuais da empresa, fato é que há um leve movimento de migração para celulares com o sistema Android, do Google.

Se a Apple parece não inovar mais tanto no hardware, e seu software não pode ir longe por causa da autoimposta política de exclusividade (com exceção do iTunes, quase todo programa da Apple só roda em seus próprios dispositivos), a geração de conteúdo se mostra uma terceira via importante.

O caminho, porém, não é exclusivo da Apple. Outras gigantes de tecnologia estão cientes de que atualmente é importante ir além de hardware e software, e por isso serviços em nuvem e/ou produção de conteúdo original já parecem ser o futuro para Microsoft e Amazon.

Claro, isso pode não dar certo, como já aconteceu com a Microsoft (apesar de desenvolver seus próprios jogos para Xbox com tranquilidade, ela foi mal com seu estúdio de programas de TV em 2014. Mas como pode ser o caminho da Apple?

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Especialistas acreditam no potencial

De acordo com Dan Ives, da GBH Insights, a contratação de Oprah pode ser apenas a ponta do iceberg em uma batalha de conteúdo da Apple contra Spotify, Netflix e outras grandes do conteúdo. Ives vê a Apple elevando seu gasto em conteúdo para US$ 4 bilhões no próximo ano.

Embora essa quantia ainda seja menos da metade do que a Netflix deve gastar, a decisão de assinar com Oprah foi um sinal "agressivo" de que a Apple está disposta a expandir significativamente seu orçamento, disse Ives.

Para Adam Levy, analista da conselheira de ações Motley Fool, o sucesso da Apple no streaming de música prova a capacidade da empresa de criar uma ótima experiência de usuário e lhe permite arriscar-se em conteúdo em vídeo.

Com o crescimento do conteúdo original em plataformas como Netflix e Amazon Prime Video, os consumidores estão encontrando motivos para se inscrever em mais de um serviço. E a Apple tem o dinheiro para investir em fazer um serviço diferenciado de qualidade

Adam Levy, analista da Motley Fool

Já a empresa de pesquisa de investimentos Zacks é um pouco mais cética. A análise da companhia, publicada em seu site oficial, ressalta que Netflix e Amazon também estão com bons acordos de exclusividade com Barack Obama e os direitos do Campeonato Inglês de futebol no Reino Unido.

"Por isso, acreditamos que a Apple não vai encontrar moleza no mercado de serviços de streaming, apesar de ter um invejável portfólio de conteúdo original", conclui a Zacks.

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