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Homens estão usando casas inteligentes para trancar e intimidar mulheres

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Imagem: Getty Images

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

27/06/2018 13h17

As casas inteligentes, nas quais máquinas e acessórios "conversam" entre si por internet e realizam funções remotamente via celular, são uma tendência em ascensão principalmente nos EUA e Europa. Mas uma reportagem do jornal "The New York Times" publicada no último domingo (23) relata uma face terrível dessa realidade: abuso doméstico à distância.

A reportagem entrevistou 30 vítimas de abuso e pessoas ligadas ao tema, como advogados e equipes de atendimento a emergências nos EUA, para saber como isso acontecia.

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Alguns dos exemplos relatados foram ar-condicionado desligado, senhas de fechaduras digitais trocadas todos os dias, câmeras de vigilância seguindo cada passo da vítima e campainhas tocando com frequência mesmo sem ninguém na porta.

Usando apps em seus smartphones, os abusadores controlariam remotamente os objetos: às vezes para vigiar e ouvir, outras vezes para intimidar e confundir, ou assustar ou demonstrar poder.

Normalmente, uma pessoa do casal se encarrega de instalar o novo aparelho, sabe como funciona e tem todas as senhas. Isso dá a essa pessoa o poder de voltar essa tecnologia contra a outra pessoa do relacionamento.

Os aparelhos domésticos conectados são em grande parte instalados por homens, segundo Melissa Gregg, diretora de pesquisa da Intel, que trabalha com tecnologia de casa inteligente. Além disso, membros de equipes de resposta a emergências disseram que muitas vítimas de abuso em casas inteligente eram mulheres.

Muitas mulheres sequer têm os aplicativos de gerenciamento desses aparelhos em seus telefones, disse Jenny Kennedy, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade RMIT em Melbourne, na Austrália, que está pesquisando famílias que instalam a tecnologia de casa inteligente.

Graciela Rodriguez, que administra um abrigo de emergência em San Rafael, Califórnia, disse que algumas pessoas trouxeram histórias de "coisas malucas", como termostatos que de repente chegam a 100 graus ou alto-falantes inteligentes que ligam a música no último volume.

"Elas sentem que estão perdendo o controle de sua casa", disse Graciela. "Depois de passarem alguns dias aqui, percebem que estão sendo abusadas".

Uma das mulheres, uma médica do Vale do Silício que não quis se identificar, disse que o marido, um engenheiro, "controla o termostato. Ele controla as luzes. Ele controla a música". Ela disse: "Relacionamentos abusivos são sobre poder e controle, e ele usa a tecnologia."

Como casa conectada e internet das coisas são algo relativamente novo, não há ainda uma organização ou pesquisas sólidas de quantas pessoas sofrem esse tipo de abuso nos EUA ou no resto do mundo. Mas smart home certamente está crescendo nos EUA: em 2017, 29 milhões de lares americanos tinham alguma tecnologia inteligente --um aumento de 31% em relação ao ano anterior, de acordo com a McKinsey.

Fabricantes ouvidos pela reportagem, como Amazon e Nest, disseram ao jornal que não receberam relatos de seus produtos sendo usados em situações de abuso, e que eles podem ser desativados por meio de botões de reset e pela alteração da senha de Wi-Fi da casa.

Em todo caso, se sua casa tem algo do tipo, certifique-se de que todas as pessoas adultas da família tenham controle igualitário dos aparelhos. Nunca se sabe se o (a) parceiro (a) de relacionamento poderá voltar isso contra você.

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