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Descubra como candidatos chegam até você no Facebook com essa ferramenta

Plug-in mostra como políticos direcionam propagandas no Facebook  - Arte/UOL
Plug-in mostra como políticos direcionam propagandas no Facebook Imagem: Arte/UOL

Paula Soprana

Colaboração para o UOL Tecnologia

06/07/2018 04h00

A partir do dia 16 de agosto, está aberta a temporada de campanha eleitoral. Pela primeira vez, partidos políticos e candidatos poderão impulsionar com dinheiro conteúdo direcionado na internet. O Facebook, um dos principais campos de batalha desde 2014, deve ser um dos focos de marketeiros dos mais de 20 pré-candidatos à Presidência da República anunciados até agora.

De olho na transparência dessas campanhas, o Internet Lab, centro de pesquisa independente de direito e tecnologia, lançou o Você na Mira, uma ferramenta de monitoramento de anúncios políticos que usuários do Facebook recebem. A instalação do plug-in no navegador (que só funciona para Google Chrome) é gratuita e permitirá uma série de apontamentos, como:

  • Qual partido lhe direciona mais anúncio;?
  • Por que você recebe determinado anúncio;?
  • Em qual grupo de audiência você se encaixa;?
  • Qual candidato direciona mais propaganda;?
  • Como os candidatos separam os eleitores;?
  • Por que o mesmo candidato manda propagandas diferentes.

Além da noção particular que cada eleitor terá dos conteúdos que recebe, será possível comparar dados entre os usuários, o que permitirá uma visão mais ampla de como os candidatos separam as pessoas em diferentes grupos comportamentais e/ou socioeconômicos.

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"Poderemos entender qual é a estratégia das campanhas hoje, se eventualmente os partidos produzirão peças contraditórias para públicos diferentes, e se essas peças levam em conta interesses específicos que nunca pensamos que fariam parte de uma campanha eleitoral", diz Francisco Brito Cruz, diretor do Internet Lab.

O escândalo entre o Facebook e a Cambridge Analytica este ano evidenciou o tipo de classificação que agências de marketing conseguem elaborar para direcionar com maior eficácia a propaganda política. Com um farto banco de dados, a empresa que fez campanha para Donald Trump conseguia distribuir diferentes tipos de conteúdo para diferentes grupos. Essas pessoas não eram apenas divididas por classe social, gênero e inclinação política, mas por características psicológicas, como neurose e ansiedade.

A partir da coleta de dados do Você na Mira, cidadãos e imprensa poderão se debruçar sobre intenções nem sempre óbvias sobre o microdirecionamento. Por exemplo: qual seria o intuito de um candidato altamente conservador querer atingir o público que curte páginas sobre descriminalização das drogas no Facebook? Ou qual o motivo de um candidato ligado a direitos LGBT focar em eleitores que interagem com páginas como Orgulho Hetero?

Os cidadãos poderão entender os marcadores que são utilizados para que recebam determinadas propagandas, e o cruzamento de dados ainda permitirá entender quais os maiores focos entre os candidatos. Num exemplo hipotético, a pessoa A poderá descobrir que recebeu um anúncio da Manuela D'Ávila, candidata do PCdoB, porque curtiu uma página sobre comunismo, enquanto a pessoa B pode verificar que recebeu o mesmo anúncio porque tem interesse em questões de gênero.

A ferramenta coletará outras propagandas que recebem impulsionamento no Facebook, não apenas as políticas. "Isso nos ajudará a mapear outras páginas que estão participando do debate eleitoral e que não pertencem a candidatos. Poderemos lançar essas informações no debate público para questionar se os conteúdos podem ou não ser considerados propagandas eleitorais", diz Brito Cruz.

O plug-in funciona por meio de dois tipos de coleta. A primeira é opcional: o usuário decide se quer fornecer dados como visão política, gênero e sexo. A segunda é a partir do próprio Facebook - hoje já é possível clicar em cima do anúncio e entender por que recebemos determinado anúncio.

O projeto é parceiro da iniciativa europeia Who Targets Me. Por isso, as regras para a coleta de dados seguem regras mais severas do que as do Brasil. O plug-in é adequado a normas da GDPR, a Lei Geral de Proteção de Dados europeia. Para que seja possível extrair informações relevantes, o Internet Lab espera alcançar uma base de centenas de pessoas.

Diante de processos democráticos conturbados (como o Brexit e as eleições americanas), o Facebook também se esforça para minimizar possíveis problemas nas eleições brasileiras. A rede social anunciou uma nova função, chamada de "Categorização de Anúncios Políticos", que deve informar os eleitores sobre peças publicitárias financiadas por candidatos.