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Como o Google quer levar internet e celulares a países em desenvolvimento

Com aplicativos para celulares modestos e pontos de w-fi, empresa quer conectar bilhões - Getty Images
Com aplicativos para celulares modestos e pontos de w-fi, empresa quer conectar bilhões Imagem: Getty Images

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

13/07/2018 11h53

Com a popularização de smartphones, o número de usuários de internet cresceu exponencialmente em todo o mundo. Atualmente, mais de 4 bilhões de pessoas, ou 54,4% da população global, são consideradas conectadas à web, de acordo com dados compilados pelo Internet World Stats.

Os países desenvolvidos possuem altos índices de conexão, superiores a 80% segundo levantamento de 2016 da Internacional Telecommunications Union. Como em diversos outros índices, os países em desenvolvimento são os mais atrasados nesse sentido, inclusive locais populosos como a Índia, que tem menos de 30% de sua população de 1,3 bilhão sem acesso à internet.

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De olho na possibilidade de expandir o número de usuários, o Google vem implementando diversas medidas para levar internet e telefones celulares para países em desenvolvimento.

Na Índia, por exemplo, a companhia estabeleceu uma parceria com o governo local para a implementação de wi-fi público em 400 estações de trem de todo o país. A primeira delas começou a operar em janeiro de 2016. A 400ª foi concluída no último dia 7, levando o Google a comemorar o fato de que mais de 8 milhões de pessoas ficaram online graças a esse programa.

Chamado Google Station, esse método foi expandido para Indonésia e México, e a empresa diz que o implementará em outros países no futuro - nada de Brasil, por enquanto. A companhia também está comprometida a continuar a expansão dos pontos de wi-fi na Índia, sem que elas estejam necessariamente ligadas a estações de trem. Só que em locais não urbanizados, esse tipo de abordagem pode não ser eficiente.

Balões para levar internet a locais remotos

Se na semana passada a 400ª estação de trem indiana recebeu wi-fi, nesta o Google passou a ter como irmão a Loon. Antes só um projeto de distribuição wi-fi por meio de balões, a Loon agora faz parte da Alphabet, a empresa-mãe do Google.

Com o avanço da Loon, moradores de regiões remotas poderão ganhar acesso de internet por um meio alternativo, sem depender de uma operadora de internet banda larga (que possivelmente não chegaria até sua residência) ou de celular.

Sistemas leves

Só que o Google também quer aprimorar a experiência daqueles que já têm algum tipo de acesso à rede, mas sofrem com limitações de pacotes de dados, baixas velocidades ou até celulares pouco potentes, daqueles que têm pouca memória interna.

"Desde o início do Google, nossa missão de 'organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis' sempre nos incentivou a criar uma internet mais inclusiva. Em 2014, demos novos passos para progredir nessa missão ao começar uma iniciativa clara para tornar nossos produtos e recursos ainda mais relevantes para o 'Próximo Bilhão de Usuários', em países como Brasil, Índia, Indonésia e Filipinas. Por serem mobile first e por terem acesso restrito à internet, essas pessoas precisam de uma experiência de produto diferente", explicou Flavio Ferreira, diretor de parcerias do Google para a América Latina.

Essa é a motivação por trás do Android Go e de toda a linha de apps que leva “Go” no nome. A versão do sistema operacional chegou com o Android 8.1, permitindo que os smartphones mais modestos usassem uma versão leve do programa. Em testes feitos pelo UOL Tecnologia, aparelhos com 32 GB de memória e o Android Go perdiam 4,1 GB com o sistema, enquanto o Android 7 ocupava quase 10 GB em dispositivos com a mesma memória.

Em casos de celulares com ainda menos memória, como 8 GB, o Android Go era ainda mais compacto: de 2,1 a 2,9 GB. Sem a versão leve do sistema operacional, o espaço perdido era de 3,9 GB – metade da capacidade de armazenamento do dispositivo.

Quanto aos apps, serviços populares como YouTube e Gmail ganharam versões que visam gastar menos da franquia. O YouTube Go, por exemplo, permite que certos vídeos sejam baixados com antecedência para serem assistidos enquanto o usuário está sem conexão ou não quer usar os dados para essa finalidade. Se quiser, o aplicativo possibilita que a qualidade das imagens seja variável, a fim de gastar menos ou mais do plano mensal.

"O interessante é que nossos esforços para o 'Próximo Bilhão de Usuários' estão, na verdade, criando oportunidades para pessoas no mundo todo. Ao criar aplicativos para as condições de internet mais difíceis e limitadas, você cria aplicativos que funcionam muito bem para todos, em qualquer lugar. Isso já aconteceu com o Maps Offline: um produto criado para a Índia, mas agora usado globalmente", comentou Flavio, citando a funcionalidade de baixar mapas no Google Maps, para uso quando não há sinal.

O próprio Google Play ganhou um setor de apps recomendados para o sistema operacional compacto, como Facebook, Messenger e Instagram Lite.

Um passo além do Android

Se no Brasil os celulares mais modestos rodam Android, outros países dependem de aparelhos ainda mais simples, não “smart”. De olho nesses usuários, o Google investiu US$ 22 milhões no KaiOS, um sistema operacional que capacita celulares como o Nokia 8110 – aquele com visual de banana.

“Google e KaiOS combinaram de trabalhar juntos para tornar o Google Assistente, Google Maps, YouTube e a busca do Google disponíveis a usuários do KaiOS”, disse Sebastien Codeville, executivo-chefe da KaiOS.

O Google não é bobo, já que o mercado dos celulares simples moveu entre 450 e 500 milhões de unidades em 2017, segundo o TechCrunch. O KaiOS está instalado em 40 milhões destes, o que significa milhões de usuários, em potencial, dos serviços de busca.

O projeto

Todos esses passos fazem parte de um projeto iniciado em setembro de 2015, quando o gigante das buscas deu o primeiro passo em um programa que hoje é chamado Next Billion Users, ou “o próximo bilhão de usuários”. Na ocasião, o executivo-chefe Sundar Pichai lembrou de seus tempos de estudante na Índia, quando viajava diariamente pelas ferrovias do país.

Pichai disse que mais de 100 milhões de indianos passaram a usar internet naquele último ano. “Mas o que é realmente impressionante é o fato que há quase um bilhão de pessoas na Índia que não estão online”, escreveu o executivo-chefe, dando o pontapé inicial do programa ousado, que já impactou países em desenvolvimento – e ainda tem muito mais espaço para avançar.