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A Tesla caiu nas graças de rappers e isso é bom para os carros elétricos

Jaden Smith fez o clipe de "Icon" com o seu Model X, da Tesla, ao mundo  - Reprodução
Jaden Smith fez o clipe de "Icon" com o seu Model X, da Tesla, ao mundo Imagem: Reprodução

Lucas Panoni

Colaboração para o UOL Tecnologia

21/09/2018 04h00

Em 2018, os carros da Tesla chegaram ao espaço, mas não foi só isso. Eles também caíram no gosto das estrelas do rap nos EUA, o que pode ser o empurrão que faltava para não apenas a companhia emplacar, mas para que o carro elétrico se popularize de maneira geral.   

São notórios os rappers que passeiam de Tesla por aí. A lista é grande e inclui veteranos, como Snoop Dogg, Dr. Dre e Jay Z, e gente da nova geração como Tyler The Creator e Jaden Smith. Não é difícil encontrar menções à marca em suas composições ou em suas redes sociais.

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Enquanto alguns se resumem a citar funções dos carros ou simplesmente rodar por aí em suas naves, outros rasgam seda para Elon Musk e seus brinquedos.

Na letra de “911”, Tyler The Creator menciona Elon Musk e ainda diz que, depois de bater sua McLaren, comprou um Tesla. Segundo o site "Genius", que reúne informações de letras de músicas, Tyler teria sido influenciado por Jaden Smith. O filho do ator Will Smith tem um clipe todo filmado em torno de seu Model X, de portas que abrem pra cima, no melhor estilo ostentação

Aliás, o karate kid do novo milênio não cansa de tuitar sobre esse assunto e deu uma entrevista em fevereiro deste ano dizendo que quer ser o próximo Elon Musk. A postura de devoção é parecia com a de Kanye West, que vive mencionando Musk e a Tesla no Twitter. 

Minha marca, minha vida

Tanto burburinho, claro, pode ser bom para a Tesla. Para Gisele Jordão, pesquisadora e coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), isto se dá por causa de uma estratégia chamada de comunicação associativa.

“Quando uma marca aparece em um universo criativo onde as convicções e valores de um artista estão bem estabelecidos, o público automaticamente associa a marca a este determinado contexto, e portanto esta marca ganha os mesmos valores deste contexto”, diz.

Jordão explica que este é um movimento de marketing comum, e que dá certo há muito tempo. Pense como a marca de motos Harley-Davidson não é nome consolidado só como marca, mas como estilo de vida. 

Tyler The Creator e Tesla  - Lucy Nicholson/Reuters - Lucy Nicholson/Reuters
Tyler the Creator incluiu a Tesla e Elon Musk na letra de uma de suas músicas
Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

“As motos da Harley-Davidson não faziam muito sucesso por serem robustas e com mais potência que velocidade. Por isso, durante a Segunda Guerra, a marca foi associada a uma estética militar, graças a um movimento do governo americano para promover uma propaganda patriota por meio dos veículos de comunicação. Este foi o fator primordial para o sucesso da marca", diz.

Então, assim como a Harley-Davidson pegou carona num movimento cultural, a Tesla pode se beneficiar do fato de que o rap ser um dos estilos musicais mais populares dos tempos atuais. 

E tem um detalhe importante: aparentemente a adesão dos rappers é espontânea. Musk já disse algumas vezes, incluindo no seu Twitter, que não paga por anúncios comerciais ou pelo apoio de celebridades. Todo o barulho em torno da Tesla seria orgânico

Claro, isso não exclui o fato de que o bilionário tem certa proximidade com as estrelas. Ele já demonstrou publicamente sua admiração por Kanye West. Isso sem contar o namoro com a cantora Grimes - que abre as portas para situações inusitadas, como o barraco com a rapper Azealia Banks.

Também nada inédito no mundo da tecnologia. Vale lembrar a amizade entre Steve Jobs e Bono Vox, do U2, que ajudou a promover o iPod na década passada. A banda tocou em eventos da Apple, teve música em comercial e chegou até a incluir à força o disco "Songs for Innocence" no iTunes de todos os usuários do serviço. 

Ajuda bem-vinda

O empurrão vindo dos rappers é muito bem-vindo, já que os números da Tesla não são tão expressivos. No primeiro semestre de 2018, o Model 3, modelo mais “popular” da Tesla, ficou em 20º lugar no ranking geral de vendas dos EUA, segundo o site especializado "GoodCarBadCar".

Acredita-se que esta posição não se dá só por conta do preço (um Model 3 pode custar US$ 35 mil, o equivalente a mais de 120 mil reais hoje), mas também por um curioso problema que aflige toda a indústria de carros elétricos: o preconceito.

Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), as pessoas tem “ansiedade de autonomia”. Ou seja, elas acreditam que carros elétricos não tem a mesma autonomia que carros movidos a combustão interna, e que sempre vão precisar interromper suas viagens para recarregar as baterias, demorando muito mais tempo para chegar em seus destinos.

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Snoop Dog (à direita) ao lado de Elon Musk 

Resultado, as vendas ficam bem abaixo dos veículos convencionais. Em 2017, a produção global de veículos foi de mais 97 milhões de unidades. No mesmo período, foram vendidos em todo o mundo apenas 1 milhão de carros elétricos. No Brasil, as vendas foram de meras 360 unidades. 

Assim, associar a Tesla a rappers é uma tentativa de não discutir as questões de autonomia, e transformar os carros em objetos de desejo. No passado o estilo de vida puramente ostentativo destes músicos promoveu bens de consumo como celulares, computadores, acessórios e, claro, carrões.

"Musk tem um perfil polêmico, mas também é visto hoje como exemplo de empreendedorismo, como muitas personalidades do rap. Isso traz uma associação da conduta do fundador da marca a um ambiente que responde com afinidade a isso. O resultado é naturalmente um bom negócio", diz Jordão. 

Dá para crescer mais 

A relação da Tesla com o rap está só no começo - os carros de marcas tradicionais ainda recebem atenção. Segundo estatísticas do site Genius, a Mercedez-Benz é a marca de carros que mais recebe menções em músicas. São 105,3 menções para cada 1 milhão de palavras. A Tesla tem só 5,5 menções. A fabricante perde até para o serviço de transportes Uber, que tem 60 menções para milhão de palavras. 

Mas se depender de Jaden Smith, Tyler the Creator e outros tantos, isso é só uma questão de tempo. Os carros elétricos agradecem.