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Robô que explora cavernas é o novo objetivo do governo dos EUA

Cavernas e outros ambientes subterrâneos apresentam desafios para exploração humana - Getty Images/iStockphoto
Cavernas e outros ambientes subterrâneos apresentam desafios para exploração humana Imagem: Getty Images/iStockphoto

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

03/10/2018 04h00

O resgate de pessoas em locais inóspitos, como foi o caso do time de futebol que ficou preso em uma caverna por três semanas na Tailândia, é um desafio para a humanidade mesmo com os avanços tecnológicos existentes nos dias de hoje. Foi necessário uma equipe de mergulhadores e uma estratégia elaborada para que os 12 meninos e seu técnico fossem retirados do local no último dia 10 de julho. No processo, todos correram risco de morte, dada a dificuldade da operação.

Isso pode mudar em breve, se um desafio da Darpa (Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa americana, da sigla em inglês) tiver um vencedor. A agência do departamento de defesa americano lançou na última semana o “Desafio subterrâneo”, que colocará frente a frente o trabalho de pesquisadores de robótica de universidades e empresas para a criação de robôs capazes de se deslocarem em um circuito variado e repleto de complicações - tudo debaixo da terra.

Gráfico da darpa - Divulgação - Divulgação
Gráfico mostra as diferentes "modalidades" do desafio de robótica
Imagem: Divulgação

“O mundo sob nós deixa muito a ser descoberto. Esses ambientes apresentam desafios imensos a militares e agentes de resgate, quando estes respondem a ameaças de adversários e desastres naturais”, explica a agência em sua convocação. Entre os selecionados para participar da competição estão a universidade Carnegie Mellon, o California Institute of Techonlogy e a empresa Endeavor Robotics.

O “torneio” elaborado pela Darpa engloba três modalidades diferentes: um sistema de túneis, uma rede natural de cavernas e o subterrâneo de uma região urbana. Haverá provas para cada um dos cenários, além de uma disputa final, que irá misturar elementos dos três ambientes distintos.

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O objetivo é que, deste desafio, surjam ideias que tornem a exploração de locais subterrâneos mais segura a partir do uso de robôs controlados remotamente – ou até com certa autonomia, caso o sinal entre o controle remoto e a máquina seja perdido. Não é o primeiro evento do gênero criado pela Darpa, que em 2007 organizou o Grand Challenge e o Urban Challenge, que serviram como pontapé para o avanço no desenvolvimento de carros autônomos.

O Robotics Challenge, por outro lado, mostrou as dificuldades da criação de robôs autônomos capazes de realizar tarefas humanas, como andar em ambientes irregulares.

Cobra-robô modular - CMU/Divulgação - CMU/Divulgação
Robô da Carnegie Mellon é todo articulado
Imagem: CMU/Divulgação

O novo desafio pode encarar problemas semelhantes, mas deve apresentar uma grande variedade de robôs – quem sabe inspirados pela natureza. A universidade Carnegie Mellon, por exemplo, já criou um robô que copia uma cobra, capaz de se enfiar em buracos pequenos e escuros ou até escalar árvores. Este foi usado na investigação de escombros de prédios na busca de sobreviventes após o terremoto que atingiu a Cidade do México em 2017.

Este cenário, assim como o do resgate aos tailandeses que ficaram presos na caverna, são dois dos usos civis do que pode vir a ser desenvolvido no desafio da Darpa. Mas a agência é, antes de mais nada, de defesa. Por trás do desejo de resgatar pessoas em desastres, também há o interesse em criar máquinas capazes de atuar em campos de batalha.

“O SubT Challenge vai garantir que nossos combatentes e socorristas estejam equipados com as tecnologias e capacidades que eles precisam para executar eficientemente missões futuras”, diz o texto de apresentação da competição, cuja final está planejada para 2021, com um prêmio de US$ 2 milhões ao vencedor. Ainda há uma categoria secundária, que tratará de simulações virtuais, com uma premiação de US$ 750 mil.

O que precisa melhorar

Já existem tecnologias avançadas no ramo da robótica, principalmente de dispositivos controlados remotamente. No entanto, os contextos em que as máquinas serão colocadas nesse desafio são mais elaborados do que os usos tradicionais.

Para terem sucesso na disputa, os pesquisadores precisarão inovar. Novas formas de robôs são um caminho, já que um simples humanoide ou quadrúpede não será, necessariamente, o melhor modelo para se enfiar em pequenos buracos ou em locais com pouca iluminação e um solo irregular.

Controlar remotamente os robôs que vão para o subterrâneo também é um problema que precisa ser resolvido. É possível que aconteça uma perda de contato com as máquinas, que podem precisar de um nível de autonomia para dar sequência a uma missão, seja até o contato ser restabelecido ou mesmo concluí-la sozinho.

Por fim, os robôs andarão por ambientes escuros, com sujeira e terreno irregular. Sensores espaciais como os usados em carros autônomos, se adotados nessas situações, podem ser inutilizados pelo contexto em que as máquinas estarão. Para esse desafio, não bastará criar "só" um cachorro robótico que sabe abrir portas.