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Cientistas desenvolvem avião capaz de voar sem motor, hélices ou turbinas

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/11/2018 17h14

Quando pensamos em um avião, logo imaginamos um veículo com asas, movido por um motor que movimenta hélices ou atua no funcionamento de turbinas. Pois cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) criaram um avião que dispensa essas três últimas partes.

Por mais absurdo que possa parecer, a criação está longe de ser um devaneio: ela foi colocada a prova com sucesso em um teste cujos resultados foram publicados em um artigo na revista Nature em 21 de novembro. O avião de 2,45 kg, que ainda não tem um nome de batismo, foi capaz de voar com propulsão própria por um ginásio sem qualquer vento.

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O segredo está em um processo que chama propulsão eletrodinâmica. Basicamente, um par de eletrodos que funcionam com uma tensão altíssima (40 mil volts) criam um campo elétrico entre si, criando um fluxo de íons entre o eletrodo menor - que fica mais à frente no avião -  e o maior - localizado na asa do aparelho.

Os íons desse fluxo acabam colidindo com as moléculas de ar enquanto se movimentam, criando o chamado "vento iônico" que é "soprado" sobre as asas e fazem com que o avião se movimente para a frente e tenha sustentação para ficar no ar. 

O conceito dessa tecnologia data dos anos 1960, mas, até então, nenhuma maneira de gerar uma quantidade de vento iônico suficiente para sustentar um voo fora descoberta. Até mesmo o projeto do MIT, coordenado pelo professor de aeronáutica do instituto, Steven Barrett, demorou nove anos entre testes e falhas para gerar um resultado funcional. 

Mesmo com o sucesso do experimento, ainda há um longo caminho para que a tecnologia seja usada comercialmente em aviões tripulados. 

Um dos obstáculos para isso é o peso: a tensão elétrica necessária para gerar vento iônico suficiente para manter um avião de grande porte no ar exigiria baterias enormes, que teriam um impacto direto no peso dos aviões, um dos pontos mais críticos desse tipo de veículo. 

O que pode ocorrer é um processo similar ao visto nos automóveis, com muitos modelos usando soluções híbridas envolvendo motores a combustão e elétricos, ao invés de apostar apenas na propulsão elétrica.

É isso que Barrett acredita que pode ocorrer em um primeiro momento. Para ele, a tecnologia de eletrodos poderia atuar em conjunto com os motores tradicionais, ajudando a direcionar e empurrar o ar que passa pela fuselagem do avião de maneira que determinadas partes do arrasto aerodinâmico sejam eliminadas. 

Uma consequência direta dessa aplicação seria tornar os voos mais eficientes, já que os motores gastariam menos combustível para manter os aviões em velocidade de cruzeiro. Eles poderiam, inclusive, funcionar a potências menores nessa situação, melhorando o conforto dos passageiros.