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Governo quer acelerar votação de marco civil da internet após denúncia de espionagem

08/07/2013 16h39

Após denúncias de uma suposta espionagem de comunicações eletrônicas e telefônicas de empresas e cidadãos brasileiros pela NSA (Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, na sigla em inglês), a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse nesta segunda-feira (8) que o governo quer acelerar a votação do marco civil da internet no Congresso.

Para entender o marco civil

O que é o marco civil?
Projeto de lei que estabelece "princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil". As determinações do projeto dizem respeito aos usuários de internet, os provedores de conexão, provadores de conteúdo e o governo.
Quais são dos direitos e garantias estabelecidos pelo marco civil?
Os destaques do projeto são: o direito à privacidade, o sigilo das comunicações (salvo em casos de ordem judicial), direito a não suspensão da conexão, a manutenção da qualidade contratada da conexão e informações claras e completas sobre coleta, uso, tratamento e proteção de dados pessoais

Essa é mais uma reação do governo depois da denúncia. No fim de semana, a presidente Dilma Rousseff acionou o governo norte-americano pelos canais diplomáticos pedindo explicações sobre a atuação da NSA.

O marco civil da internet está sendo debatido há anos no Congresso e, no ano passado, chegou a entrar na pauta do plenário da Câmara, mas acabou tendo sua votação adiada.
"Talvez nós tenhamos algum aprimoramento [no projeto], porque o fato que vem agora a público talvez demande algumas alterações. Talvez o ponto primordial nesse projeto seja exatamente a guarda dos dados, o trânsito pela rede", disse Ideli a jornalistas no Palácio do Planalto.

Armazenamento de dados
O relator da proposta na Câmara, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), explicou à Reuters que o novo marco civil deixa claro que dados de navegação não podem ser armazenados pelos provedores de rede. Hoje, não há legislação específica sobre isso e, segundo o parlamentar, os provedores estão guardando irrestritamente os dados de navegação de todos os usuários brasileiros.

"Esse episódio só mostra como minha preocupação com a privacidade dos internautas brasileiros estava correta", disse Molon, que está analisando novamente o texto para checar se há brechas que precisam ser fechadas para impedir o acesso externo aos dados de internautas brasileiros.

Segundo ele, os dados de navegação só podem ser armazenados pelos provedores de rede com autorização judicial.

"Os provedores de rede estão guardando os dados para fins comerciais", afirmou o parlamentar. Como não há lei específica, diz ele, o usuário não tem como impedir esse procedimento.

O projeto também impede que as empresas de redes sociais e provedores de e-mail repassem os dados do usuário sem sua expressa autorização.

Resistências
Questionada sobre as resistências ao marco civil da internet no Congresso, a ministra disse que a denúncia ajudará a vencê-las. "Hoje está absolutamente claro que a soberania do país e a privacidade do cidadão brasileiro estão em xeque. Todo conflito de interesse fica em segundo, terceiro, quarto plano", afirmou.

Edward Snowden
A divulgação dos programas secretos de espionagem do governo norte-americano foi feita pelo ex-prestador de serviço da NSA Edward Snowden, que estaria escondido numa área de trânsito do aeroporto de Moscou.

Acusado nos EUA por espionagem e após ter seu passaporte revogado, Snowden pediu asilo a vários países, sendo que Venezuela, Bolívia e Nicarágua se manifestaram a favor de concedê-lo.

No domingo, o jornal “O Globo” informou que a NSA monitorou as atividades telefônicas e os e-mails de empresas brasileiras e indivíduos na última década, como parte das atividades norte-americanas de espionagem.