Vudu vive (fora da caixa)
David PogueNós gostamos de pensar em nós mesmos como sendo criaturas racionais. Mas se isso é verdade, por que comemos coisas que sabemos que não nos fazem bem, nos apaixonamos por pessoas que nos tratam mal e mandamos mensagens de texto enquanto estamos dirigindo? E, minha nossa, por que a indústria cinematográfica está tão determinada a não ganhar dinheiro? Os executivos de Hollywood parecem determinados a não vender o que o mundo realmente quer: qualquer filme a qualquer momento.
Os DVDs são “qualquer filme”, mas não a “qualquer momento”. Filmes pela Internet são “a qualquer momento”, mas não “qualquer filme”, graças ao sistema furado da indústria de direitos e janelas de disponibilidade. (Sabe como é: o filme primeiro passa nos quartos de hotel, depois no pay-per-view, depois no aviões, depois em DVD.)
A Netflix oferece uma solução em duas metades: filmes recentes por correio, filmes mais velhos pela Internet. Mas se você quiser filmes recentes por demanda (legalmente) a melhor aposta tem sido o Vudu, um módulo que conecta à Internet. Você pode assistir qualquer um de seus 16 mil filmes e episódios de séries instantaneamente em sua TV.
O Vudu oferece os filmes no mesmo dia em que chegam ao DVD. A qualidade é muito melhor do que a do Netflix, do pay-per-view ou de qualquer outro serviço de Internet; você pode ter alta definição –do tipo 1080p– e até som surround. E não há taxa mensal; você só paga quando assiste ao filme (US$ 1 a US$ 7, dependendo da idade e nível de qualidade que você escolher). Para pessoas ocupadas, isso é bem mais econômico a longo prazo.
Mas havia um pequeno problema com o módulo Vudu: ninguém sabia dele, ninguém o comprava e o futuro parecia sombrio.
No mês passado, o Vudu revelou seu novo plano de negócios, que se resume a isto: é uma função, não um módulo.
O Vudu deixou de fabricar módulos individuais. Em vez disso, o mesmo serviço (na verdade, um melhor) vem inserido nos televisores e aparelhos de Blu-ray de outras empresas: LG e Mitsubishi no momento; Samsung, Sanyo, Sharp, Toshiba e Vizio na metade do ano. (Estas últimas também oferecerão aplicativos Vudu: uma suíte de 100 serviços gratuitos de Internet como Pandora, Picasa, Flickr, The New York Times e The Associated Press.)
Esta abordagem é a última moda, é claro. Os fabricantes de televisores estão alegremente adicionando serviços de Internet como Netflix, Amazon, YouTube, Cinema Now e Vudu. E por que não? É apenas software. Todo mundo ganha: o fabricante de televisores ganha funções sem a adição de novo hardware; os serviços de cinema ganham milhões de clientes potenciais; e você se livra de um punhado de módulos e controles remotos.
Eu experimentei o primeiro tocador de Blu-ray da LG equipado com Vudu, o BD390. Ele está disponível desde maio, mas ele adquiriu o serviço Vudu em uma atualização gratuita do software.
É um excelente aparelho. Painel frontal baixo, elegante, espelhado-esfumaçado. Wi-Fi embutido, de forma que não há necessidade de cabos feios atravessando sua sala de estar.
O controle remoto não é iluminado, mas os botões não são amontoados. Infelizmente, você sentirá falta do disco de rolagem (como aquele do mouse) que havia no controle remoto original do Vudu –um toque brilhante em um aparelho cuja interface consiste basicamente de listas.
A imagem de Blu-ray do BD390 é excelente. Ele também pode servir como modelo para serviços de Internet embutidos; além do Vudu, este aqui oferece Netflix, YouTube and CinemaNow. Ele também exibe filmes a partir de um drive pela porta USB (este é para vocês, fãs de Divx).
Mas lá está o Vudu, com o mesmo design de software limpo e claro que o módulo costumava ter. Você pode escolher filmes por data de lançamento, gênero e assim por diante; pode procurar filmes pelo nome, ator ou diretor e assistir trechos e trailers.
O Vudu se gaba de que sua interface não está inserida no BD390; em vez disso, ela é baixada rapidamente toda vez que você clica no botão Vudu na tela. Dessa forma, ela muda constantemente, como uma página de Internet.
E, é claro, o Vudu já usou este truque para adicionar novas funções. Por exemplo, quando você está considerando um filme, você pode ler as críticas dos principais críticos (cortesia da RottenTomatoes.com). Você pode assistir mais filmes semelhantes, ou mesmo acessar a página do filme na Wikipedia. (“Whip It”, nos é informado, “arrecadou US$ 13.043.363 na América do Norte”.) Esta coisa é um verdadeiro banco de dados de filmes na Internet.
Como prometido, quase todos os lançamentos recentes em DVD estão disponíveis no Vudu: “Encontro de Casais”, “Te Amarei para Sempre”, “Tá Chovendo Hambúrguer”, “This Is It” e assim por diante. (Isto é, disponíveis para comprar, por cerca de US$ 20 por novo lançamento. A maioria dos filmes não está disponível para alugar até 30 dias depois, uma restrição imbecil dos estúdios que, segundo o Vudu, está lentamente melhorando.)
Em geral há a opção de três níveis de qualidade no Vudu: padrão, alta definição e algo chamado HDX, que é alta definição superior (uma imagem melhor que a de um DVD, mas não tão boa quanto de um Blu-ray) mais som surround Dolby 5.1. Um lançamento recente pode custar US$ 4 para aluguel em definição padrão, US$ 5 para alta definição e US$ 7 para HDX.
Em uma curiosidade deliciosa, o Vudu diz contar com mais filmes em HDX (3 mil) do que o que existe disponível em Blu-ray.
As funções “trick play” do Vudu também são impressionantes. Lembre-se, estes vídeos são enviados por “streaming” para sua TV (em outras palavras, são transmitidos pela Internet enquanto você assiste), de forma que avançar e retroceder é um problema. A parte do filme para a qual você quer avançar ainda não chegou à sua casa.
A Netflix foi pioneira de uma solução inteligente: quando você aperta a tecla de seta direita, pequenas miniaturas das próximas cenas são exibidas, representando intervalos de 10 segundos. Você aguarda cerca de 15 segundos para a Netflix retomar a reprodução a partir daquele novo ponto.
O Vudu usa um sistema semelhante, exceto que graças a um inteligente de engenharia vodu do Vudu, a retomada da reprodução leva apenas três segundos em vez de 15.
Apesar de todo esse progresso, o Vudu ainda não é o paraíso perfeito dos filmes, por muitos motivos. A velocidade de Internet pode ser um problema; o Vudu recomenda um serviço de Internet de 2 megabits por segundo (pergunta ao seu provedor de Internet o que você tem) para filmes em definição padrão; HDX exige pelo menos 4,5 megabits.
Quando o tocador da LG estava conectado sem fio, eu vi algumas mensagens “por favor espere” enquanto assistia versões HDX dos filmes; o Vudu diz que não é incomum isso acontecer em conexões Wi-Fi. Note que o Vudu ainda continua sendo vítima do sistema maluco de “janela” de Hollywood. Os filmes de todos os sete grandes estúdios aparecem no Vudu no dia em que sai o DVD. Mas filmes da Warner, Universal e Fox podem posteriormente desaparecer no “buraco HBO” –os estúdios está amarrados a acordos de exclusividade com os canais de filmes, o que torna alguns indisponíveis para streaming após já estarem disponíveis online. Bizarro e frustrante.
Você precisa terminar de ver um filme 24 horas após começá-lo, o que é ridículo. Por que você tem apenas um dia de aluguel pela Internet, mas três ou cinco dias para um aluguel de DVD? O Vudu diz que está pressionando os estúdios a dobrarem o período. Mas, enquanto isso, infelizmente o Vudu eliminou a opção “pague US$ 1 por mais um dia” apresentada no ano passado.
É claro, todos os filmes pela Internet carecem de comentários do diretor, legendas, extras do DVD e assim por diante.
Finalmente, é bacana como o tempo decorrido dos filmes em streaming do Vudu aparece no painel frontal do BD390. Não tão bacana: você tem a opção de três velocidades de retrocesso/avanço, mas os botões de pular capítulo não funcionam. No geral, entretanto, o Vudu como serviço supera o Vudu como módulo. Entre outras coisas, você não precisa comprar o módulo de US$ 150. Em outras palavras, ter acesso ao Vudu não custa nada além do preço de sua nova TV ou tocador de Blu-ray. Se você assiste apenas um filme de US$ 4 a cada 10 anos, ótimo –você pagará apenas isso.
E o que era bom no Vudu continua: não há taxa mensal, disponibilidade no mesmo dia que os lançamentos em DVD e qualidade muito melhor do que qualquer outro serviço por Internet. Não, ainda não é qualquer filme a qualquer momento –mas é um vislumbre provocante de como o futuro feliz poderá ser.
Tradução: George El Khouri Andolfato