O Final Cut Pro da Apple é o principal programa de edição de vídeo. É um aplicativo profissional de US$ 1.000 (em torno de R$ 1.600). Foi usado para fazer “A Rede Social”, “Bravura Indômita” e “Comer, Rezar e Amar” e milhares de filmes estudantis, independentes e programas de televisão. De acordo com a firma de pesquisa Scri, o programa tem 54% do mercado de edição de vídeo, muito mais do que seus rivais da Adobe e Avid.
Eu usei os verbos no presente? Desculpe-me. O Final Cut era o líder da indústria. Ele custava US$ 1.000. Mas tudo isso acabou.
Na terça-feira (21/6), a Apple fez uma das suas: matou o Final Cut 7 de dois anos de idade, no auge de sua popularidade.
Em seu lugar, a Apple agora oferece algo chamado Final Cut Pro X (pronuncia-se “10”). Mas não se deixe enganar pelo nome. É um programa novo, todo reescrito. A Apple diz que um recomeço era exigido para acomodar as enormes mudanças no cenário tecnológico.
Os veteranos da Apple podem, nesta altura, estar tendo uma sensação assustadora de déjà vu. Você já viu este filme antes. A Apple também não matou o iMovie em 2008, substituindo-o por uma versão nova e menos capaz, sem dezenas de características importantes? Foram precisos três anos de upgrades antes do novo iMovie finalmente superar seu predecessor em coerência e ferramentas. Se a Apple fizesse algo similar com o Final Cut Pro, seria dar um enorme tiro no pé.
Felizmente, a Apple não esqueceu. Se algo importante ficou fora do novo Final Cut, eu não consegui encontrar. E as novas ferramentas e melhorias são tão gigantescas que o novo programa é uma escolha certa – especialmente por causa do preço – de US$ 300, em vez de US$ 1.000.
(Todos os programas antes chamados Final Cut Studio foram inseridos no Final Cut, exceto o Motion e o Compressor, que são vendidos separadamente na App Store. O Final Cut Express morreu inteiramente.)
Características
O Final Cut é o primeiro programa da Apple que não está disponível nas lojas de computadores e tampouco em DVD. Só é possível comprá-lo na loja online Mac App Store.
É um sistema maravilhoso, porém. Você não tem que se preocupar com números de série, vírus, imagens de disco e instalações. Você sempre recebe a versão mais recente. Você nunca tem que caçar o seu DVD quando quer reinstalar. O programa se instala automaticamente, como fazem os aplicativos do iPhone; você nem tem que digitar sua senha de Mac.
O novo Final Cut foi totalmente refeito. De fato, tem uma aparência e funcionamento muitos parecidos com o iMovie, todo cinza escuro, com “skimming”; para tocar um vídeo, é só passar o cursor, sem pressionar o botão do mouse.
Melhorias
Uma vez que você vence o choque do novo layout, a primeira coisa que você vai observar é que a Apple livrou-se da maior parte dos problemas antigos do velho Final Cut.
Primeiro – e isso é gigantesco - não é preciso mais esperar para “renderizar”. Você não precisa ficar lá sentado, morto, enquanto o programa computa as mudanças, trancando todo o programa toda vez que você acrescenta um efeito ou insere um vídeo que está em formato diferente. O Final Cut X renderiza no background, então você pode continuar editando. Contudo, você não pode organizar seus arquivos ou deletar clipes durante a renderização.
Segundo, no velho Final Cut, era fácil demais arrastar o áudio ou o vídeo de um clipe e deixá-lo acidentalmente fora de sync; pequenos indicadores “-1” ou “+10”, mostravam quantos quadros você atrasou ou adiantou e eram uma dor de cabeça crônica. Mas no novo Final Cut, o “sync é sagrado”, como diz a Apple. O som e o vídeo primários estão sempre sincronizados, e você pode até trancar outros clipes junto para que todos se mexam como um só.
De fato, uma ferramenta inteligente chamada Compound Clips permite que você colapse uma pilha de áudios e vídeos em uma faixa única, fundida na linha de tempo (timeline). Você pode ajustá-la, movê-la e aplicar efeitos como se fosse uma unidade única, e depois separar as faixas quando quiser. Compound Clips torna fácil administrar uma composição complicada sem ficar louco.
No velho Final Cut, se você arrastasse o Clipe A de forma que cobrisse parte do Clipe B, mesmo que brevemente, você acabava cortando fora a parte coberta do Clipe B., mas agora, a timeline gera “trilhas” paralelas suficientes para manter os dois clipes que se sobrepõem. Nada é cortado a não ser que você queira.
Novidades do Final Cut X
Há também características novas. A Auditions deixa você comparar alternativas na timeline, testando-as sem ter que substituí-las individualmente. Isso é ótimo se você estiver junto de um cliente ou diretor para saber sua opinião. A Color Match faz um trabalho impressionante tornando a cor geral de um clipe (por exemplo, de uma imagem gravada à luz do sol) parecida com a luz de outro (digamos uma cena de pôr-do-sol).
Você pode ajustar a velocidade de um clipe –câmera lenta, câmera rápida, o que quiser- simplesmente pressionando uma tecla e arrastando a beirada direita do clipe para que ocupe um pedaço maior ou menor da timeline. É visual, imediato e sem renderização.
A nova ferramenta Timeline Índex apresenta uma lista cronológica organizada de tudo que tem em seu filme: nomes dos clipes, marcadores, palavras-chave e assim por diante.
Como o iMovie, o Final Cut pode analisar um vídeo recém importado e entender quais cenas têm pessoas –uma pessoa, duas pessoas, grupos de pessoas- e depois colocá-las automaticamente em arquivos virtuais. Você também pode aplicar palavras-chave para qualquer parte de qualquer clipe –“Close”, “Avó”, o que for; o programa coloca os clipes com palavras-chave em arquivos apropriados também. O Final Cut também pode estabilizar cenas tremidas durante o processo de importação e até eliminar suspiros e tropeços do áudio.
Ou seja: o Final Cut reescrito é muito, mas muito mais fácil de usar do que o antigo, o que permite que sua criatividade continue fluindo.
Sim, ele tem problemas
Mas nem todos vão se apaixonar. Sair do antigo Final Cut para o novo é como chegar em casa da escola e descobrir que seus pais reformaram seu quarto. Os adeptos antigos do Final Cut, em particular, talvez reclamem por alguns dias – e não apenas porque terão que pagar US$ 300 pelo “upgrade” como quem está comprando pela primeira vez.
Por exemplo, a nova “timeline magnética” funciona como a do iMovie’s: seus clipes sempre pulam para a esquerda, sem deixar vãos. Você não pode mais deixar os clipes temporariamente lá para a direita, usando a timeline como espaço de trabalho.
Também o fato do Final Cut ser muito menos intimidador pode ser uma pílula amarga de engolir para profissionais que suaram sangue para dominar a versão antiga. Alguns dos primeiros usuários já estão xingando, dizendo que o novo programa parece feito para “consumo”.
A edição de vídeos grita por muitos cavalos de força. O Final Cut hoje é um programa de 64 bits, o que significa que pode explorar Macs com mais de 4 Gigabytes de memória para ter ainda maior velocidade. E você vai precisar disso; até mesmo em Macs médios, as operações de arrastar ou rolar podem ficar lentas.
Eu também encontrei vários bugs típicos de primeiras edições. Não confie o próximo filme que você vai enviar a Cannes a este programa até que a Apple produza o inevitável pacote de conserto de bugs.
O maior desapontamento é que o Final Cut X não pode abrir projetos do Final Cut antigo. Agora estão órfãos, presos para sempre no programa antigo. A Apple diz que a arquitetura do programa novo é diferente demais do antigo. Bem, ok, mas que chatice ter que manter seus projetos antigos em duas coleções separadas: aX (antes de X) e dX.
É claro, é assim que a Apple funciona. Esta é mais uma migração imposta pela Apple para uma plataforma nova e muito diferente.
Felizmente, desta vez, a nova plataforma é enfaticamente superior à antiga; apesar das notas de rodapé, o Final Cut X é intuitivo, poderoso e muito doce. Talvez seja uma migração forçada, mas cedo ou tarde, você ficará feliz em tê-la feito.