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Principal trunfo para Google+ superar o Facebook são os 'círculos' da nova rede

DAVID POGUE

15/07/2011 13h25

O Google, o site mais popular da Terra, está preocupado com o segundo site mais popular. Este, é claro, é o Facebook.

Por qual outro motivo o Google continuaria tentando, repetidamente, criar uma rede social do mesmo tipo? Orkut, Jaiku, Wave, Buzz -- o Google lançou um fracasso atrás do outro. E agora chegou o Google+ (em inglês, Google plus). É o mais recente projeto do Google do tipo “queremos ser Facebook”. A diferença é que este tem uma verdadeira chance de atingir o objetivo.

Em vez de escancarar as portas com uma grande fanfarra, como fez com o terrivelmente confuso Wave e com o Buzz, que tinha problemas de privacidade, o Google está deixando o Google+ ser absorvido de forma viral pelo mundo. Ainda não é possível apenas se inscrever; você tem de ser convidado por alguém que já é membro.

Mesmo assim, o Google+ já tem 10 milhões de membros. Não são os 750 milhões que o Facebook tem atualmente, mas o efeito da rede não pode ser subestimado.

A princípio, o Google+ parece uma cópia desavergonhada do Facebook. Há um lugar para você compartilhar (seus pensamentos e notícias, como o mural do Facebook); há um Stream (uma página interminável com as notícias de seus amigos, como a Página Inicial do Facebook); e tem até um botão +1 (um clone do botão de Curtir do Facebook), que pode ser de onde vem o nome peculiar do Google+.

Mas há uma diferença brilhante: os círculos.

No Google+, você coloca as pessoas dos diferentes círculos sociais da sua vida em, bem, círculos. Ou seja, grupos. Categorias. O Google começa com círculos vazios chamados Amigos, Conhecidos, Família e Seguidores (pessoas que você não conhece, mas quer acompanhar, como faria no Twitter). É facílimo acrescentar outros. Eles podem ser círculos minúsculos (“vovó e vovô”) ou grandes (“familiares”), com base em organizações (“colegas da liga de fantasia”) ou arbitrários (“pessoas irritantes”).

Criá-los é divertido: há uma série de blocos representando seus conhecidos online, obtidos de sua conta de Gmail ou outras. Você arrasta cada bloco para um círculo na tela, onde ele cai em seu lugar. Você pode arrastar uma pessoa para mais de um círculo, é claro. O amigo sortudo saberá que você o adicionou a um círculo, mas não a qual, graças a Deus.

Deste momento em diante, toda vez que você compartilhar algo –uma notícia, um pensamento, uma foto, um convite- você poderá especificar exatamente quais círculos devem receber sua publicação. De uma tacada, o Google resolveu o problema das camadas de privacidade que aflige o Facebook há anos.

São senadores envergonhados com as fotos de seus filhos bêbados em festas. Empregadores potenciais lendo sobre sua vida noturna frenética. Namoradas sabendo acidentalmente sobre os planos de seus amados. Tudo isso some com os círculos. Você compartilha cada item apenas com as pessoas que merecem estar por dentro daquele assunto. E simultaneamente, você poupa as massas das notícias que não as interessa; por que o mundo todo deve saber de sua discussão no boliche nesta sexta?

Você também é poupado. Você pode clicar no nome de um círculo para filtrar as coisas que aparecem na página de notícias. Você pode ver apenas as publicações relacionadas ao trabalho, somente as publicações de seus amigos de faculdade ou apenas os de seus avós, com apenas um clique.

O Facebook tem algo similar, chamado Grupos. Mas comparado com os círculos, é preciso muito mais esforço para se usar. No Google+, você tem de especificar quem recebe cada coisa que você escreve ou publica (apesar do programa lembrar suas últimas seleções). Isso de fato é um pouco irritante – você não pode apenas digitar uma mensagem e pressionar o “Enter” – mas no final, os benefícios valem o esforço.

Além deste controle de privacidade inteligente, o Google+ tem algumas atrações a mais. Tem o Sparks, que é uma espécie de serviço pessoal de clipping da imprensa (parecido com o Google Alerts). Você pode digitar um tópico de seu interesse, como “carros elétricos”, “cavaleiros de Cleveland” ou “bolo de milho”. O Google+ enche a tela com artigos, notícias e vídeos de toda a Web sobre o assunto. Talvez seja a forma mais fácil e menos ameaçadora de ler notícias na história.

Videoconferência  
A característica mais impressionante que o “Facebook não faz”, porém, é a Hangout. Tecnicamente, é uma videoconferência. Permite que até dez pessoas entrem em um chat simultaneamente, usando suas câmeras.

Uma série de janelas de uma polegada, cada uma com o vídeo de um participante, aparece abaixo da tela grande. O Google+ se esforça para deixar na tela grande quem está falando no momento e para alterar de câmera automaticamente (você também pode clicar na janela da pessoa manualmente). Uma janelinha fina aparece ao lado para as observações digitadas, e um botão do YouTube permite que todos assistam vídeos do YouTube simultaneamente na tela grande. Maneiro.

Pode parecer o Skype ou o iChat (ou o chat comparativamente tosco que o Facebook acaba de anunciar, com vídeo de uma pessoa por vez). Mas sua integração com o resto do Google+ o torna ainda melhor. Você pode ver quando um de seus amigos está em uma sala de vídeo, então você pode “dar uma passadinha”. Igualmente, quando você está se sentindo sociável, você pode clicar em Iniciar Hangout, anunciar sua disponibilidade para um Círculo de amigos particular e depois deixar que apareçam para te visitar. Ou seja, a conversa por vídeo não tem que ser algo formal, um evento marcado com antecedência.

O programa está sempre na internet, então você não precisa instalá-lo. E está disponível para os seus círculos, o que permite que você reúna rapidamente os amigos para organizar uma festa ou uma partida de tênis. E pode servir muito bem para muitas reuniões de trabalho (ou até viagens de negócios).

Você pode compartilhar fotos facilmente, arrastando-as de seu computador diretamente para a caixa onde você compartilha suas notícias mais recentes. E você vê as fotos das outras pessoas em uma bela galeria de background preto, com comentários à direita.

Se você tiver um telefone Android, ainda há mais diversão. Tem os Huddles (conversas de grupo instantâneas entre telefones dentro dos seus círculos). E quando você tira uma foto com seu telefone, ela é automaticamente carregada para uma área privada de sua página de Google+. Mais tarde, você pode compartilhá-la com seus círculos sociais apropriados.

Lado B
É claro, porém, que o Google+ tem algumas desvantagens.

Talvez por ser novo, o serviço dá a sensação de limpeza e tranquilidade, especialmente quando comparado com o frenético Facebook, que parece a Times Square. Mas o Google+ ainda é, de seu jeito, igualmente confuso.

Você fica se perguntando: e se as pessoas naquele círculo compartilham minhas publicações privadas com os seus círculos? E o que acontece se eu removo alguém de um círculo? Essa pessoa ainda verá as coisas que eu compartilhei no passado? Você vai passar um bom tempo revirando essas coisas.

Nenhum outro serviço (como o Twitter ou, é claro, o Facebook) ainda está associado ao Google+. Nenhum jogo ou aplicativo. Os membros até agora são basicamente os viciados em computação.

Há também alguns defeitos e falhas, apesar de ser injusto mencioná-los; afinal, o serviço ainda não é publico.

Provavelmente também podemos fazer vista grossa para os vídeos tutoriais/promocionais bizarros do Google, cujos narradores parecem ter sido contratados da Sociedade Americana para o Avanço dos Inarticulados (transcrevo: “E os amigos que você tem são como os que você tem, que permitem que você fale das coisas pelas quais você é absolutamente apaixonado. E esta é a razão para você ficar amigo deles, não é porque você está falando de coisas que os interessam, é porque interessam a você, e você é absolutamente apaixonado sobre aquilo e eles têm suficiente senso comum para permitir que você explore o assunto.”).

O Google, porém, chama o Google+ de projeto, e é isso o que é: um início. Está online, então o Google pode constantemente melhorá-lo, acrescentar atributos e reforçar os mecanismos de ajuda.

Até agora, o Facebook e o Twitter têm sido o duo dominante das redes sociais. Mas o serviço menos agressivo, mais centrado em vídeo e mais bem controlado do Google já é bom demais para ser ignorado. Agora, é o duo dominante ...+1.