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Leitores Kindle são ótimas alternativas, mas tablet de mesmo nome ainda deixa a desejar

Kindle Fire é aposta de vendas da Amazon para o fim de ano nos EUA; tablet custa US$ 200 - AP
Kindle Fire é aposta de vendas da Amazon para o fim de ano nos EUA; tablet custa US$ 200 Imagem: AP

David Pogue

17/11/2011 14h51

Se você acha que o ritmo do progresso tecnológico já está rápido demais, é melhor não olhar para os leitores de livros eletrônicos. Isso causaria vertigem. As empresas de livros eletrônicos estão inundando o mercado com novos modelos simultaneamente. Você até acharia que algum grande período de compras de presentes está prestes a começar.

O maior destaque entre os leitores de livros eletrônicos é, sem dúvida, o novo tablet de tela de toque colorida da Amazon, chamado Kindle Fire (Kindle a Fire? “Acender um fogo”?) Na verdade, a grande notícia não é o tablet, é o preço: US$ 200 (cerca de R$ 353). Enquanto a maioria dos tablets custa US$ 500 (cerca de R$ 883), um tablet de US$ 200 é um grande negócio. Mais falaremos sobre isso em um instante.

Ao todo, a Amazon tem três novos modelos de Kindle. Os dois mais baratos certamente se perderão em meio à fumaça do Fire, mas é uma pena: eles são espetaculares.

Kindle
O Kindle padrão, chamado apenas de Kindle, tem uma versão aprimorada de sua tela habitual e- Ink de seis polegadas, que mostra fotos nítidas, com preto claro e tons de cinza em uma “página” levemente cinza. O incômodo flash branco preto branco ao virar uma página e-Ink agora ocorre apenas a cada seis viradas de página. A e-Ink está incrivelmente próxima de parecer papel. E, como papel, ela não brilha. Você precisará de luz para lê-la.

Esse novo Kindle agora é tão pequeno que cabe no bolso da calça. Mas, de novo, a notícia aqui é o preço: US$ 80 (cerca de R$ 141).

Você tem ideia de quão incrível é esse número? O primeiro Kindle, nascido há quatro anos neste mês, custava US$ 400 (cerca de R$ 707). Este modelo pesa 40% menos, ocupa um terço do espaço e guarda sete vezes mais livros – a 20% do preço.

Nesse ritmo, no ano que vem a Amazon pagará para que você compre um Kindle.

Você pode pagar um pouco mais por vários acréscimos. Por exemplo, o modelo de US$ 80 exibe propagandas. Nunca enquanto você está lendo – apenas na tela “sleep” e em uma faixa na parte inferior da tela Home. A maioria delas são ofertas de descontos, o que as torna mais suportáveis. Mas você pode ter este Kindle sem as propagandas por US$ 110 (cerca de R$ 194).

 

Kindle Touch
O segundo novo modelo, o Kindle Touch, é quase idêntico – mas em vez de navegar clicando o controle de quatro direções, você pode simplesmente tocar a tela. É excelente. Esse modelo também está disponível com propagandas (US$ 100; cerca de R$ 177) ou sem (US$ 140; cerca de R$ 247).

 

Todos os leitores de livros eletrônicos se conectam em hotspots Wi-Fi – para baixar novos livros, por exemplo. Mas o 3G Kindle Touch também pode se conectar online por sinal de celular, onde quer que você esteja (custa US$ 150 com propagandas, US$ 190 sem). Ainda não há cobrança por este serviço de internet e este Kindle Touch é o único leitor de livros eletrônicos no mercado que o oferece.

Kindle Fire
Agora vamos a ele. O Kindle Fire é um tablet espesso, reluzente, de sete polegadas. Ele roda Android, o programa do Google instalado em muitos celulares e tablets de outras empresas, mas você nunca perceberia. A Amazon cobriu todo o design do Google até não aparecer nenhum vestígio dele.

A tela home colorida mostra uma atraente estante de madeira. A rolagem do conteúdo consiste de cartazes em miniatura de seus livros eletrônicos, álbuns de música, programas de TV, filmes, documentos PDF, aplicativos e endereços favoritos na internet. Também há uma prateleira inferior onde você pode colocar os itens que usa com mais frequência.

Seu coração dispara. “Isso é incrível!” você diz, contemplando as perspectivas. “É como um iPad – por US$ 200!”

Mas essa é uma comparação perigosa.

O Fire não é nem de perto tão versátil quanto um tablet real. Ele é projetado quase exclusivamente para consumo de coisas, particularmente material que você compra na Amazon, como livros, jornais e vídeos. Ele não tem câmera, microfone, função GPS, Bluetooth ou entrada para cartão de memória. Há um programa de e-mail útil, mas não calendário ou bloco de notas.

Mais problemático, o Fire não conta com o mesmo acabamento ou velocidade de um iPad. Você sente o preço de US$ 200 a cada toque de seu dedo. As animações são lentas e trepidantes – até mesmo as viradas de página que você pensaria que seriam o orgulho da equipe do Kindle. Os toques às vezes não registram. Não há indicadores de progresso ou espera, de modo que você frequentemente não sabe se a máquina registrou seus toques de comando. O momento das animações não foi calculado corretamente, de modo que a coisa toda parece tosca.

As revistas supostamente estariam entre as melhores novas funções. A maioria oferece dois modos de visualização. Há a “Visão da Página”, que mostra o layout original da revista – mas pequeno demais para ser lido e o zoom é limitado. E há a “Visão de Texto”: texto simples em um fundo branco. Ele é ótimo para leitura, mas é claro que você perde o desenho e layout, que é metade do prazer de ler uma revista. E a “Visão de Texto” às vezes perde palavras, legendas dos desenhos e assim por diante.

Os livros infantis, com sua dependência de cor, nunca foram possíveis nos tablets e-Ink, de modo que fazem sua primeira aparição em um Kindle com o Fire. A contribuição da Amazon aqui é que você pode tocar um bloco de texto para aumentar o tamanho do tipo – uma opção peculiar, já que os livros infantis já costumam ter fontes enormes.

Os vídeos são bem exibidos, apesar de nem filmes e nem programas de televisão se enquadrarem nas proporções da tela, e você não pode dar um zoom para eliminar as barras laterais. O brilho na tela também é um problema.

Seu navegador supostamente deveria acelerar a exibição das páginas ao transferir parte das tarefas de processamento para os computadores online da própria Amazon. Além disso, quando você está, digamos, na página do “The New York Times”, a Amazon tenta adivinhar qual link você clicará em seguida, com base em sua popularidade. Ele pré-carrega a página que apareceria, visando economizar ainda mais tempo.

Na prática, não está claro que vantagem você leva: o nytimes.com leva dez segundos para carregar, o eBay.com leva 17 segundos, o Amazon.com leva oito segundos. O iPad leva metade desses tempos. Por outro lado, o Fire pode exibir vídeos Flash (mesmo que um pouco trepidantes), enquanto o iPad não.

Os aplicativos criados para os tablets Android comuns exigem alguma adaptação para rodar no Fire. Os essenciais já estão disponíveis – Angry Birds, Netflix, rádio Pandora, Facebook, Twitter, ESPN, Hulu Plus– e a Amazon promete que outros milhares virão.

Como escolher?
Agora, escolher um leitor de livros eletrônicos é uma grande decisão. Os livros de cada empresa estão em seu próprio formato e você nunca poderá vendê-los ou doá-los. Assim, se você escolher, por exemplo, o Kindle em vez do Nook da Barnes & Noble, o preço de uma mudança de ideia será bem caro.

O argumento a favor da Amazon é que ela domina o setor. Ela conta com loja própria de música e filmes. Você pode pegar livros Kindle emprestados em 11 mil bibliotecas públicas.

Tudo o que você compra fica guardado no armário online da Amazon, de modo que sempre há backup e disponibilidade para seus outros aparelhos Amazon. Comece a assistir um filme em seu Fire e seu receptor Roku ou TiVo em casa lembrará em que ponto você parou.

Uma assinatura Amazon Prime de US$ 80 (cerca de R$ 141) por ano lhe dá acesso ilimitado para streaming de 13 mil filmes e programas de TV, entrega gratuita em dois dias de suas compras na Amazon e pegar emprestado gratuitamente um livro Kindle por mês (de uma biblioteca um tanto limitada).

A Barnes & Noble, por sua vez, oferece a conveniência de suporte técnico humano em suas 700 lojas. Ela também tem preparado um tablet baseado em Android.

Seu principal interesse em um leitor de livros eletrônicos é ler? Então os refinados e absurdamente baratos Kindle e Kindle Touch da Amazon são as opções óbvias.

O Fire merece ser uma força gigante e perturbadora –é um cruzamento entre um Kindle e um iPad, um player mais compacto de internet e vídeo por um ótimo preço. Mas no momento, ele precisa melhorar muito mais. Se você estiver acostumado com um iPad ou um tablet Android “real”, seus problemas de software vão incomodar muito.

Mas a Amazon tende a continuar entalhando suas desajeitadas criações 1.0 até chegar a uma escultura. Ou, como dizem no setor de tecnologia: “Se você não gosta da atual safra de leitores de livros eletrônicos, aguarde só um minuto”.