O estado do Acre, na extremidade mais oeste do Brasil, é tão remoto que uma piada nacional diz que ele não existe. Mas, para o geoquímico Foster Brown, o Acre é o centro do universo, um lugar que pode ajudar a salvar o mundo.
"Isso aqui é um exemplo de esperança", ele diz, nos fundos de seu escritório na Universidade Federal do Acre, cujo campus está rodeado pela floresta Amazônica. Brown coloca suas mãos no tronco fino de uma árvore e me diz para fazer o mesmo. "Existe um fluxo de água subindo por esse caule e um fluxo de seiva descendo, trazendo consigo compostos de carbono", diz. "Você está sentindo?"
Eu não senti nada. Mas esse processo invisível é a chave para um grande fluxo de dinheiro para o Brasil, assim como uma oportunidade essencial para países que estão tentando evitar as mudanças climáticas sem atrapalhar suas economias. Se o carbono nessas árvores pudesse ser quantificado, o Acre poderia vender seus créditos para poluidores que emitem nuvens de CO2. Qualquer quantidade que eles emitissem seria compensada ou anulada, em teoria, pela floresta.
A oito mil quilômetros dali, na Califórnia, políticos, cientistas, magnatas do petróleo e bichos-grilo estão extremamente empolgados com a ideia. O estado é o segundo maior poluidor dos Estados Unidos: o setor de óleo e gás emite cerca de 50 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano. E se a Chevron, a Shell ou a Phillips 66 pudessem compensar parte do dano ambiental pagando o Brasil para não desmatar?
O apetite por créditos de carbono é global. Da indústria da aviação a países industrializados signatários do acordo climático de Paris, a compensação de emissões poderia ser uma alternativa mais barata do que realmente reduzir o uso de combustíveis fósseis.
Mas a corrida desesperada por esses planos de crédito de carbono parece estar fazendo muitos dos seus defensores fecharem os olhos para evidências cada vez maiores de que não tivemos - nem teremos - os benefícios prometidos.
Eu pesquisei projetos de crédito de carbono implementados nas últimas duas décadas por todo o mundo e revisei pesquisas acadêmicas realizadas em florestas remotas, estudos pouco divulgados, relatórios de governos estrangeiros e documentos técnicos complicados. Contei com a ajuda de uma empresa de análise de imagens de satélite para saber o quanto de cobertura florestal havia sobrado de um projeto que começou a vender créditos em 2013. Quatro anos depois, apenas metade das áreas ainda tinha floresta.
Caso após caso, descobri que os créditos de carbono não tinham compensado a quantidade de poluição que eles prometiam, ou que os ganhos que trouxeram foram rapidamente perdidos ou não podiam nem ser mensurados. No final, os poluidores ganharam passe livre para continuar emitindo CO2, mas a preservação florestal que deveria equilibrar a balança ambiental nunca aconteceu ou não durou.