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Um ano após isenção de tablets, 'ilegais' também crescem e comem 25% do mercado brasileiro

A presidente Dilma Rousseff manuseia tablet ao lado de Gleisi Hoffmanm, da Casa Civil; desoneração incentivou que novas fabricantes entrassem no mercado brasileiro produzindo modelos acessíveis - Sergio Lima/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff manuseia tablet ao lado de Gleisi Hoffmanm, da Casa Civil; desoneração incentivou que novas fabricantes entrassem no mercado brasileiro produzindo modelos acessíveis Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

11/10/2012 14h00

Há um ano, a presidente Dilma Rousseff assinou o decreto que estabelece a desoneração de tributos para empresas que fabricam tablets no Brasil. No entanto, durante este período, quem apresentou mais crescimento não foram os aparelhos produzidos localmente, mas sim o mercado cinza (tablets trazidos do exterior por brasileiros, sem declaração de entrada no país, e modelos chineses não homologados). Segundo a consultoria IDC, no primeiro semestre de 2012 eles já respondiam por um quarto do mercado brasileiro.

Tablets no Brasil

Mercado de tablets20112012*
Unidades vendidas800 mil1 milhão
Mercado cinza8%25%
Produção brasileira20%40%
Importação72%35%
  • * Dados do IDC de 2012 contabilizados até o 1º semestre deste ano

O decreto assinado pela presidente em 11 de outubro de 2011 define que tablets produzidos no Brasil e que cumpram algumas especificações (como o fabricante investir em desenvolvimento tecnológico) sejam enquadrados na Lei do Bem. Ela faz com que o dispositivo tenha uma redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de 15% para 3% e zera o PIS/Cofins.

No entanto, a redução do preço para o consumidor final foi tímida. “Houve uma baixa em função dos avanços tecnológicos na casa dos 10%. Porém, o Custo Brasil [conjunto de obstáculos estruturais e burocráticos do país] ainda pesa para que os fabricantes cheguem a descontos maiores”, pontuou Átila Belavary, analista da consultoria IDC.

Em 2011, de acordo com o IDC, o Brasil fechou o ano com 800 mil tablets vendidos, sendo 8% mercado cinza, 20% fabricação nacional e 72% importados e homologados. Só o primeiro semestre de 2012 já superou todo o ano passado. Foram contabilizados 1 milhão de tablets, sendo 25% mercado cinza, 40% fabricados no Brasil e 35% importados e homologados. Até o final do ano, o número de ultraportáteis no país deve chegar a 2,5 milhões.

A razão para o crescimento desta categoria é o preço, muito mais acessível do que aquele cobrado por grandes fabricantes. Ainda de acordo com a consultoria IDC, os tablets feitos na China custam menos que R$ 1.000 sendo que muitos variam entre R$ 200 e R$ 500. Em comparação, uma busca em sites de varejistas mostra que portáteis de marcas conhecidas custam de R$ 800 a R$ 2.300.

No país, empresas como Samsung, Motorola, Apple e Positivo receberam os incentivos do governo. É possível notar preços menores, mas nada comparado aos 30% de desconto sugerido pelo governo na época. O iPad 2 (Wi-Fi e 16 GB) lançado no Brasil em maio de 2011 custava R$ 1.650. Já o novo iPad (Wi-Fi e 16 GB), que chegou em maio de 2012 ao país, é vendido por R$ 1.549.

Segundo a consultoria de consumo GFK, a variedade reduziu consideravelmente a média de preço dos aparelhos. Em agosto de 2011, o valor médio de portátil era R$ 1.700. Já neste ano, a média é de R$ 968. Porém, segundo a empresa, a média foi puxada pelo enxugamento de configurações do tablet. A maioria dos portáteis adquiridos pelos consumidores tem tela menor que 8 polegadas, conta com capacidade de armazenamento de 16 GB e funciona apenas em redes Wi-Fi.

Quanto vale?

Esse movimento de privilegiar o preço pela qualidade é algo comum no mercado brasileiro, segundo Tuong Nguyen, analista da consultoria Gartner. “Aconteceu a mesma coisa com o mercado de smartphones. Há três ou quatro anos, as pessoas começaram a comprar telefones baratos. No entanto, quando as fabricantes tradicionais conseguiram baixar o preço, o mercado de aparelhos feitos na Ásia apresentou grande redução”, disse.

Perfil do tablet médio vendido no Brasil*

Tela abaixo de 8 polegadas
16 GB para armazenamento
Só tem conexão Wi-Fi
  • *Dados da consultoria GFK de ago/12

O problema desse tipo de aparelho “genérico” é que ele pode frustrar o usuário. É comum essas alternativas tenham baixo processamento e tela com sensibilidade e definição ruim – muitos deles nem são homologados pela Anatel. “A tendência é que, com o tempo, o usuário perceba que o produto não é bom e parta para um melhor”, analisa Belavary, do IDC. O primeiro tablet, mesmo sendo de baixa qualidade, serve para o usuário saber a utilidade do dispositivo.

Leva tempo para popularizar

O problema de uma categoria nova no mercado de tecnologia é que sempre os produtos são lançados a preços elevados. E com o tablet não foi diferente. Talvez o único fator que destaque o ultraportátil dos outros produtos é o fato de ele ter entrado em uma lei de incentivo fiscal quase um ano após o lançamento do primeiro aparelho no Brasil (fim de 2010). Com outros eletrônicos, o processo foi mais demorado.

Os desktops (computador de mesa) e os laptops, por exemplo, levaram quase uma década para se tornarem mais acessíveis. “Há dez anos era muito caro comprar computadores no Brasil. Com a Lei da Informática, os preços baixaram consideravelmente. Depois, o governo fez uma lei adicional que ajudou a reduzir mais ainda o preço”, falou Tuong Nguyen, da consultoria Gartner. Para ele, deve acontecer o mesmo com os tablets, só que em três ou quatro anos.

De 2011 para 2012, o consumidor também passou a ter diferentes tipos de tablets. A redução de impostos fez com que muitas empresas passassem a investir nesta categoria. Segundo dados da consultoria GFK, em agosto de 2011 havia quatro marcas disponíveis no varejo, vendendo 16 versões de tablets. Em agosto de 2012, foram contabilizadas 22 marcas, comercializando 74 versões.