Eleições e algoritmos: como saber o que está em jogo

Stefanie Silveira

Stefanie Silveira

  • Reprodução/ International Elections Advisory Council

    Campanha eleitoral permite posts patroinados e campanha no WhatsApp

    Campanha eleitoral permite posts patroinados e campanha no WhatsApp

Nas eleições norte-americanas de 2008, uma grande novidade tomou conta do cenário e chamou a atenção de diversos pesquisadores. Barack Obama havia feito, na época, um uso interessante do Twitter enquanto ferramenta para chamar a atenção dos eleitores e também angariar fundos para sua campanha. O que na época foi chamado de tática de guerrilha, revolução no cenário eleitoral, mudança de paradigmas, dez anos depois é parte básica do planejamento de qualquer marqueteiro que se preze.

O que está em jogo nas eleições de 2018 e na tecnologia envolvida nela tem mais nuances e complexidades do que o que podíamos prever há uma década. Um destes pontos está nos nossos velhos conhecidos algoritmos e em suas atuações dentro da campanha eleitoral.

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A legislação brasileira para as eleições de 2018 permite o seguinte:

Os candidatos podem fazer propaganda nos seguintes locais:

  • plataformas online (assim mesmo, nesta "definição" bem ampla);
  • sites próprio, do partido ou da coligação;
  • emails;
  • blogs;
  • plataformas de redes sociais;
  • "sites" de mensagens instantâneas (sim, podemos incluir aqui o WhatsApp).

Todos esses lugares permitidos acima estão entre os locais onde candidatos e seus comitês podem publicar e distribuir conteúdo, sem restrição para todos aqueles que julgarem relevantes. No entanto, é importante nos atentarmos para algumas novidades.

Os candidatos podem "impulsionar" posts tanto no Facebook quanto no Instagram. Também é permitido pagar por anúncios, comprar palavras-chave, ou posicionamento prioritário em resultados de busca nas plataformas de busca, como o Google, por exemplo.

Ou seja, a sua timeline já deve ter sido invadida pela propaganda de candidatos. Muitos desses posts impulsionados podem passar despercebidos, sem que o usuário perceba efetivamente a diferença entre ele (que foi pago) e outro distribuído automaticamente pelo algoritmo.

Importante ficar atento que os posts pagos dentro das campanhas eleitorais normalmente terão a descrição "Propaganda Eleitoral – CPF/CNPJ da campanha" logo abaixo do nome do perfil responsável. O Facebook disponibilizou uma ferramenta onde o usuário pode buscar pelos anúncios feitos pelos candidatos sempre que tiver dúvida sobre se uma mensagem ser ou não patrocinada.

Além disso, ao pesquisar por determinados termos em ferramentas de busca, você também podem se deparar com resultados inesperados, que levam a informações sobre candidatos ou campanhas que você não tinha interesse em acessar.

Para quem pensava que a "invasão" diária na TV e no rádio já era demasiada, pode começar a se preocupar também com o que pode chegar nos aplicativos de mensagem instantânea que usamos no celular, ou ainda, com os apps nos quais antes costumávamos ver somente as imagens mais legais das pessoas que seguimos.

Isso tudo, no entanto, está perfeitamente dentro da lei, ainda que seja questionável. A legislação veta que sejam utilizados robôs para propagação de informações e também perfis falsos para difamar outros candidatos. Além disso, também não é permitido pagar para que outras pessoas façam propaganda de um candidato A ou B. O apoio de terceiros só pode ser divulgado na rede se for espontâneo. Não fica claro, no entanto, como é feita a fiscalização pela Justiça Eleitoral para determinar quais campanhas estão utilizando essas táticas duvidosas.

Ainda assim, a possibilidade do uso de posts pagos e também do patrocínio de palavras-chave abre para os candidatos um espaço gigantesco para a campanha deste ano. Todo o poder que a mídia social oferece a marcas e anunciantes tradicionalmente pode agora ser utilizado por uma pessoa que planeja participar dos poderes centrais de governo da nação.

Há possibilidade de alcançar um enorme número de pessoas que podem ser organizadas em diferentes perfis de eleitores, abrindo espaço para que os candidatos cheguem ao maior número de pessoas diferentes possíveis. É possível definir uma infinidade de detalhes ao compor a amostra que receberá o post patrocinado em sua timeline, incluindo gênero, interesses pessoais, identificação com páginas, entre outros.

As consequências desses novos espaços de conquista do usuário ainda são desconhecidas. Sabemos do que ocorreu em 2016 nos Estados Unidos, mas depois daquele momento, plataformas como Facebook e Twitter buscaram tomar algumas atitudes a fim de evitar o gigantesco impacto promovido por robôs e exércitos de "fake news". O ano de 2018 talvez seja aquele no qual saberemos o quanto dessas ações feitas pelas empresas foram ou não efetivas e o quanto ainda precisamos nos preocupar e trabalhar para os próximos anos.

De qualquer maneira, redobre o cuidado com o que chega até você pela rede, pelo celular ou por aplicativos nos próximos meses. Todo cuidado é pouco para não cair em armadilhas falsas nesta época.

Stefanie Silveira

Stefanie Silveira é jornalista, professora da UFSC e doutora em Comunicação pela USP. Sua atuação profissional inclui passagens pela Folha de São Paulo, Editora Abril, Agência de Notícias EFE, jornal Zero Hora e universidades do Sul e Sudeste do país. Atua também como pesquisadora de mídias digitais nos grupos COM+ na USP e Nephi-Jor na UFSC.

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