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Kindle Fire é um dos tablets mais baratos no mercado, mas tem limitações e defeitos

David Pogue

Do New York Times

17/09/2012 06h00

Eu não sei o que está se infiltrando na água dos escritórios da Amazon em Seattle, mas está deixando os executivos um pouco débeis.

Eles estão saudando o novo tablet da Amazon, o Kindle Fire HD, como “o melhor tablet para qualquer faixa de preço”.

Bem, vamos ver. O Fire HD não tem câmera na traseira, não tem navegação por GPS, não tem reconhecimento de fala, não tem lista de coisas a fazer e nem aplicativos de anotações. Ele fica atrás do iPad em espessura, tamanho de tela, nitidez, velocidade de Internet, desempenho do software e disponibilidade de aplicativos. Ele só pode sonhar com o universo de acessórios, estojos e bases do iPad.

Agora, leia meus lábios: o Kindle Fire HD não é uma decepção. Não é! Ou melhor, não será, assim que Amazon concluir as correções do software.

Os preços são os mais baixos de todos; US$ 200 por uma tela de 7 polegadas, US$ 300 pela de 8,9 polegadas, US$ 500 pela de 8,9 polegadas com Internet por celular (US$ 50 pelo primeiro ano, US$ 15 por mês depois). O preço sobe em US$ 15 se você quiser eliminar as propagandas de livros e filmes que aparecem na proteção de tela.

De qualquer forma, isso é muito menos caro do que os rivais semelhantes, ou muito melhor equipado do que os rivais da mesma faixa de preço.


Prós

O Fire HD de 7 polegadas, o que eu testei, estará disponível em 24 de setembro; os modelos maiores chegarão ao mercado no final de novembro.

Esses Fires têm muitas qualidades fulgurantes. O maior é a “HD” – as telas são melhores do que dos Fires de primeira geração, muito brilhantes e muito nítidas. A Amazon também diz que possuem um maior ângulo de visão do que antes. Ótimo, mas quem se queixa de ângulos de visão em uma tela de 7 polegadas que você segura bem à sua frente?

Mas apesar do nome “HD”, a tela não exibe filmes em alta definição. Ele pode contar com o número necessário de pixels, mas a maioria deles está dedicada às faixas pretas; a tela tem o formato errado para filmes. E você não pode aumentar a reprodução para preencher a tela, como pode em um iPad.

Estes Fires também têm conexões mini-HDMI. Com o cabo apropriado (não incluso), você pode conectar o tablet à TV, para excelente imagem e som. Funciona muito bem. (Você também pode enviar uma imagem de iPad para a TV –sem fio– mas apenas se comprar uma Apple TV por US$ 100.)

Lançamento

  • Joe Klamar/AFP

    O CEO da Amazon, Jeff Bezos, comandou o evento da empresa norte-americana, segura novo Kindle Fire durante lançamento do tablet no início de setembro


O som do Fire é excelente. Seus alto-falantes em estéreo (“com Dolby”) oferecem um som muito melhor e mais rico do que qualquer um dos alto-falantes mono de seus concorrentes. A duração da bateria é boa – mais de oito horas, segundo o Consumer Reports. A maioria dos modelos vem com 16 gigabytes de memória – o dobro do que nos rivais Google Nexus ou Nook da Barnes & Noble, apesar do Nook ter um slot para cartão de memória para expansão.

A Amazon consertou os problemas que atormentavam o software de primeira geração do Kindle Fire. A tela home –um “carrossel” de rolagem de ícones representando os vídeos, livros, aplicativos e outros vistos mais recentemente– agora se move com fluidez, com a quantidade certa de animação. Os toques costumam ser registrados na primeira tentativa.

E ler revistas, que antes parecia uma queda de braço com os programadores, agora é uma experiência graciosa, sem esforço. Na maioria das revistas, você pode dar zoom para tipos mais legíveis, ou dar um toque duplo para apenas texto com rolagem vertical. (Infelizmente, algumas revistas, como “The New Yorker”, usam seus próprios sistemas de navegação; você acaba tendo que aprender diferentes sistemas de leitura.)

Os Fires também querem explorar o ecossistema de lojas de música, filmes, TV e livros eletrônicos da Amazon –o que fazem muito bem. Os filmes, livros e até mesmo certos games se lembram de onde você parou ao passar de um aparelho para outro. Qualquer coisa que você comprar na Amazon fica armazenado online, para baixar sempre que você quiser. E ao assinar o serviço Prime da Amazon (US$ 79 por ano), você tem direito a um livro gratuito por mês, 5 mil filmes gratuitos por streaming e frete gratuito para entrega em dois dias na maioria das compras na Amazon.

Os filmes da Amazon não oferecem legendas. Mas alguns agora oferecem algo chamado raio X: você pode acessar as biografias de qualquer ator que esteja na cena. Bacana, ocasionalmente.

Contras

Essas são algumas das centelhas fulgurantes. Mas também há muita fuligem.

Por exemplo, a Amazon anuncia a antena Wi-Fi dual – a primeira em um tablet – que supostamente propicia um sinal melhor e mais rápido de Internet.

Bom, mas mesmo assim o Fire ainda fica atrás do iPad em navegação na Internet. Meu Fire precisou de um segundo a mais do que o iPad para carregar a página nytimes.com ou ESPN.com (7 segundos contra 6), quatro segundo a mais para a People.com, três segundos a mais para a Cracked.com –e, curiosamente, 1,5 segundo a mais para carregar a Amazon.com.

Há uma câmera na frente, mas nenhum aplicativo de câmera com o qual usá-la. Até que alguém escreva um programa para ela, você não pode tirar foto ou gravar vídeo. A Amazon diz que, por ora, é para uso apenas em videochamada pelo Skype.

Mais urgente que tudo, a Amazon precisa tratar do problema dos aplicativos. O Fire ainda carece de aplicativos embutidos para navegação, anotações, listas do que fazer, alarme ou cronômetro.

A Amazon diz que há mais de 30 mil aplicativos disponíveis para o Fire, mas eles incluem apenas uma fração dos meus favoritos para iPad. Por exemplo, eu não consegui encontrar o Dropbox, Bump, Flixster, Echofon, Voxer, Flight Track Pro, Nest, Jot Not, Google Voice, Google Search ou Taxi Magic.

Defeitos

Finalmente, há os defeitos. De novo, a Amazon parece ter se apressado para as festas, sem intenção de corrigir seu software depois.

Tudo deixa um pouco a desejar; alguns aplicativos levam de 7 a 8 segundos para abrir. O programa passo a passo para criação de conta no Gmail tem falhas; a tela do Draw Something aparece de cabeça para baixo, e não endireita; e virar uma página de revista ou dar zoom produz texto borrado, manchado. O processador precisa de dois segundos para conseguir o texto nítido que você espera.

Algumas coisas exigem passos demais. Você não consegue abrir sua lista de favoritos a partir de uma página de internet –apenas da tela inicial de miniaturas de Internet, que exige quatro passos para ser aberta.

Uma função anunciada e extremamente promissora está faltando: contas individuais para seus filhos, com limites de tempo definidos pelos pais para cada atividade (filmes, games, leitura e assim por diante). No mês que vem, diz a Amazon.

Ao todo, o tablet parece profissional e elegante, mas ainda exibe algumas poucas decisões tolas de design de hardware que atormentam a Amazon desde o Kindle 1.0. Por exemplo, os botões minúsculos de volume e liga-desliga são pretos como o corpo do tablet, sem identificação e no mesmo nível da borda, de forma que você não consegue senti-los. Quando você deseja mudar o volume, você precisa virar o tablet para procurá-lo, de preferência com uma lanterna e um mapa.

O Fire não vem com carregador de parede; isso custa US$ 10 a mais na hora da compra, ou US$ 20 depois. Sem ele, você tem que carregar em uma conexão USB do computador –e mesmo assim, o Kindle não carrega a menos que esteja dormindo ou com o brilho baixo. (Tablets rivais carregam muito bem no mesmo conector.)

Nesta semana, a Amazon também apresentou novas versões de seus Kindles tradicionais em preto-e-branco, apenas para livros, cada um espetacular ao seu próprio modo. O PaperWhite tem iluminação embutida, como o modelo GlowLight da Barnes & Noble, mas com iluminação ligeiramente mais uniforme e preço mais baixo (US$ 120, com propagandas). E o Kindle básico, sem frescuras, custa apenas US$ 70, o preço mais baixo de todos. O Kindle Fire do ano passado ainda está disponível, ligeiramente atualizado, por US$ 160.

E, é claro, há outros ótimos tablets pequenos do Google e Samsung – e em breve da Apple, se os rumores forem verdadeiros.

Mas os modelos Kindle Fire HD são atraentes e bons para ver filmes, programas de TV, páginas de Internet e livros. Eles exploram o mundo online cada vez mais atraente das lojas de entretenimento e informação da Amazon. E, acima de tudo, eles tornam a relação funções/dólar do Kindle Fire, que é líder neste quesito, ainda melhor.

Mas “o melhor tablet em qualquer faixa de preço?” Hmmm. Alguém deveria ligar para os inspetores de água de Seattle.