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Windows Phone, da Microsoft, pode se beneficiar da batalha entre Apple e Samsung

Lumia 820 (esquerda) e Lumia 920 (direita) são exibidos durante lançamento conjunto entre Nokia e Microsoft. Analistas veem os aparelhos da Nokia como a última chance de competir com Apple e Samsung - Spencer Platt/Getty Images/AFP
Lumia 820 (esquerda) e Lumia 920 (direita) são exibidos durante lançamento conjunto entre Nokia e Microsoft. Analistas veem os aparelhos da Nokia como a última chance de competir com Apple e Samsung Imagem: Spencer Platt/Getty Images/AFP

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

13/09/2012 06h02

A batalha por patentes envolvendo Apple e Samsung pode criar uma grande oportunidade para uma terceira empresa de tecnologia: a Microsoft. Analistas de mercado consultados pelo UOL Tecnologia afirmam que o Windows Phone, sistema operacional da Microsoft para dispositivos móveis, pode ganhar destaque justamente por se diferenciar daquilo que é oferecido pelos concorrentes.  

A recente vitória da Apple sobre a Samsung  -- que condenou a sul-coreana a pagar mais de US$ 1 bilhão por quebra de patentes -- acabou abrindo precedente para a companhia americana processar outros fabricantes.  “As marcas [de smartphones] podem ver o Windows Phone 8 como uma opção mais segura no momento, pois não sabemos se a Apple vai processar outras empresas que fazem aparelhos Android”, disse Carolina Milanesi, analista da consultoria Gartner.

Procurado pela reportagem, o Google informou que “não comenta especulações e boatos” sobre o Android. Já a Samsung preferiu não quis se pronunciar sobre a análise.

Durante o processo entre Apple e Samsung foi revelado que a companhia cofundada por Steve Jobs fez um acordo com a Microsoft, estabelecendo que os telefones com Windows Phone não sejam “clones” do iPhone. Por isso, os telefones com a plataforma Windows estão “blindados” contra processos da Apple -- ao menos em tese. Empresas como HTC (que também já foi processada pela Apple), LG, ZTE e a própria Samsung têm em seu portfólio modelos com sistema Android e Windows Phone. 

Diante deste cenário de briga entre Samsung e Apple, Bruno Freitas, analista da IDC Brasil, acredita que esta é a oportunidade para a fabricante finlandesa de celulares ganhar participação. “Esta é a hora de empresas como a Nokia vir forte ao mercado e criar um portfólio interessante de aparelhos. Eles precisam aproveitar a força que têm e posicionar a marca deles”, disse. 

Apesar de ser a quinta plataforma mais utilizada do mercado atualmente, segundo previsão da consultoria IDC, o Windows Phone vai superar o iOS até 2016, ocupando a segunda posição no ranking de sistemas mais usados. De acordo com a análise, a plataforma Android continuará líder, e a da Microsoft vai crescer puxada pela Nokia, que escolheu o Windows Phone como software oficial. 

A própria Samsung, que perdeu a ação para a Apple nos Estados Unidos, poderá reduzir os danos da multa e também de uma possível proibição nos EUA focando no Windows Phone 8. “Em curto prazo, eles devem colocar maior ênfase em lançamentos de aparelhos com Windows Phone 8, o que pode ajudar a compensar a perda de vendas de uma proibição”, opinou Carolina.

No final de agosto, na Alemanha, a Samsung apresentou o Ativ S, o primeiro smartphone com Windows Phone 8 da marca -- esta foi a primeira vez que a companhia oriental adepta ao Android deu destaque ao lançamento de um smartphone com sistema Windows Phone.

  • Thomas Peter/Reuters

    Samsung mostrou o smartphone Ativ S, o primeiro da marca com Windows Phone 8, durante a IFA

Valor de mercado

A infração de patentes, julgada nos Estados Unidos, fez com que a Samsung pagasse um alto preço. E não foi apenas da multa de US$ 1,05 bilhão que deverá pagar à Apple, mas do próprio mercado. “A punição da Samsung veio muito rápida. Logo após a decisão, a companhia sul-coreana perdeu muito valor de mercado, enquanto a Apple ganhou milhões. Não precisaria nem que a Samsung pagasse o US$ 1 bilhão à Apple por infringir patentes”, disse Luiz Henrique Souza, advogado de direito digital e sócio do escritório Patrícia Peck Advogados.

Na segunda-feira após a decisão do júri (que foi na sexta), a Samsung perdeu US$ 12 bilhões de valor de mercado na bolsa.

De acordo com Souza, o embate nos Estados Unidos ganhou grande repercussão (na mídia e no mercado financeiro) pela representatividade do mercado americano. Segundo dados recentes da consultoria IDC, o país da América do Norte responde por 20% do mercado mundial de smartphones. Além disso, há ainda a possibilidade de que aparelhos da Samsung sejam banidos no país por infringir as patentes da Apple.

“O alvo da Apple foi a Samsung, a companhia que mais incomoda a Apple. Além disso, tem o fato de a sul-coreana carregar a bandeira do sistema Android. O resultado acabou sendo um tiro-duplo, pois a empresa americana conseguiu proteger suas patentes e incomodar a principal concorrente”, analisou Freitas, da IDC Brasil.

É importante notar que durante o tempo de tramitação do processo entre as duas companhias, a Samsung tornou-se a maior vendedora de celulares e smartphones do mundo, desbancando a Nokia e a Apple, respectivamente. Os resultados, segundo a Strategy Analytics, ocorreram pela alta venda de aparelhos da linha Galaxy, que conta com celulares considerados mais básicos (como o Galaxy 5) a modelos mais avançados (como o Galaxy S II).

Por que tantas decisões diferentes?

Quem acompanha o embate entre Apple e Samsung deve saber que as duas empresas já conseguiram proibições de produtos uma das outras. Fato é que as decisões são diferentes, pois as empresas entram com ações por patentes registradas exclusivamente em determinados países. “Nos Estados Unidos, onde a Apple ganhou, a maioria das patentes era referente a características exclusivas de design e software. No Japão, onde a Apple perdeu, o processo era sobre a tecnologia de sincronização remota com um servidor”, explicou Souza.  

Na Holanda, a Apple conseguiu proibir produtos da Samsung em função da ferramenta de visualização de fotos. A empresa sul-coreana contra-atacou com um processo referente à tecnologia 3G e ganhou da Apple.

Outro fator relevante para entender as diferentes decisões é a estrutura dos julgamentos. Em todo o mundo, é comum que esse tipo de julgamento de patentes seja feito por juízes, enquanto nos Estados Unidos há a tradição de levar para júri popular.

No ramo de tecnologia, há basicamente dois tipos de patentes. Primeiro, as chamadas Frand, que são essenciais para o funcionamento de um aparelho e licenciadas pela companhia detentora dos direitos. Há também as exclusivas, que as empresas registram para garantir que as concorrentes não copiem características de seus produtos. Esta última, na maioria das vezes, não é passível de licenciamento, enquanto nas Frands existe certa pressão para que haja acordo entre as partes.

  • Ahn Young-joon/AP

    Smartphone Samsung Galaxy S (esquerda) ao lado um iPhone 4 (direita) da Apple