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15/04/2010 - 21h13 / Atualizada 15/04/2010 - 22h02

Passando as fitas do passado para o disco rígido do futuro

DAVID POGUE

Começou com um telefonema de Steve Jobs.

Em outubro de 2008, eu escrevi sobre meu alarme com o fato da Apple ter removido a conexão FireWire de seus mais recentes laptops. “FireWire é como você conecta as câmeras de vídeo com fita ao Mac”, eu escrevi. “Eu tenho 100 fitas MiniDV cuidadosamente guardadas – de meus filhos crescendo, das minhas aparições na TV, de nossas viagens e momentos memoráveis. Por 15 anos, eu pretendia, algum dia, editar essas fitas em uma série de DVDs estimados. Talvez quando meus filhos se casarem.”

Mas se o FireWire desaparecer, eu escrevi, “minhas fitas ficarão ilhadas e impossíveis de editar”.

Foi a Apple que nos introduziu neste hobby. A Apple desenvolveu e popularizou o FireWire, ela instalou um programa de edição de vídeo em cada Mac – e agora estava puxando o tapete sob nossos pés.

Então o sr. Jobs, presidente-executivo da Apple, telefonou para me dizer o quanto eu estava errado.

“Você não vai editar essas fitas”, eu me lembro dele ter me dito. “Você não tem tempo.”

Eu fiquei ofendido. Como ele ousava ser tão direto, tão presunçoso – e tão certo?

“Quando você planeja editar todas essas fitas?”

“Eu não sei”, eu disse. “Talvez quando eu me aposentar.”

“Sabe de uma coisa? Quando você se aposentar”, ele disse, “não existirá mais nenhuma câmera de vídeo na qual poderá rodá-las. Daqui dez anos não haverá mais nenhuma câmera de vídeo na qual poderá rodá-las”.

Ele me disse que as empresas já tinham deixado de desenvolver câmeras de vídeo com fitas. Ao eliminar a conexão FireWire dos Macs, a Apple estava apenas refletindo essa nova realidade.

Desde aquele telefonema, muita coisa aconteceu. A Apple devolveu a conexão FireWire à geração posterior de notebooks MacBook Pro, uma concessão ao protesto popular (apesar dos dois modelos menos potentes da Apple permanecerem sem FireWire). E, uma por uma, as empresas de câmeras de vídeo eliminaram as câmeras com fita de suas linhas. Hoje, por exemplo, a Canon vende apenas um único modelo com fita – que permanece basicamente inalterado há três anos. Aparentemente, câmeras sem fita são o futuro.

Mas eu sempre tive três problemas com a falta de fita. Primeiro, a qualidade de vídeo não era tão boa quanto à da fita. Segundo, assim que o disco rígido da câmera ficava cheio, você não tinha o que fazer. Você não podia gravar mais nada até chegar em casa após as férias e descarregar o vídeo em seu computador.

Finalmente, você não dispunha mais das fitas como um backup útil; você tinha que armazenar seus vídeos em um disco rígido e esperar que nada desse errado com ele.

Mas isto também aconteceu desde novembro de 2008: a qualidade de algumas das câmeras de vídeo sem fita agora alcançou a das de fita. (Eu falarei a respeito delas em breve.) Você não precisa mais se preocupar em encher sua câmera, porque cartões de memória baratos podem substituir as fitas. E os preços dos discos rígidos caíram tanto que o armazenamento de vídeos em disco rígido (a cerca de US$ 1,20 por hora de vídeo) custa muito menos do que em fita (US$ 4 por hora). Na verdade, até mesmo dois discos rígidos – um master e outro de backup – custam menos do que a fita cassete.

Então, em meados do ano passado, eu comprei relutantemente um disco rígido de 1 terabyte e comecei a transferir todas minhas fitas MiniDV para o computador, uma de cada vez. Pouco a pouco, meu estagiário e eu copiamos uma pilha imensa de fitas originais (140, para ser preciso).

Cada fita de uma hora leva uma hora para ser transferida, mas você pode fazer outras coisas enquanto isso, seja no computador ou pela casa, fazendo uma pausa de vez em quando para trocar as fitas.

Eu decidi usar o Final Cut Pro; como esse aplicativo é para profissionais, eu imaginei que a qualidade dos vídeos transferidos seria impecável.

Mas certo dia em meados do ano passado, após ter transferido 85 horas de fitas, eu tive um choque horrível quando fui inspecionar o vídeo transferido: não havia datas.

Toda câmera de MiniDV grava invisivelmente a data e o horário em cada quadro de vídeo. Nos vídeos caseiros, é indispensável. Você não pode vê-los na sua TV, mas estão disponíveis para ver em praticamente todos os programas de edição de vídeo no planeta.

Exceto no Final Cut. O Final Cut ignora esta informação – ele não a importa com o vídeo. (A Apple afirma que editores profissionais de TV e cinema não precisam saber quando algo foi filmado. Mas eu aposto de que gostariam caso precisassem.)

Eu finalmente decidi que não havia solução exceto começar de novo – desta vez, usando o iMovie. Sim, o iMovie, o aplicativo simples de vídeo que vem em todo Mac. Ele pode não ser o Final Cut, mas armazena o vídeo em qualidade plena (no mesmo formato DV usado pela câmera de vídeo) – e preserva a informação de data e horário.

Melhor ainda, o iMovie possui um modo completamente automático. Coloque a fita, digite um título e clique Importar. O programa rebobina automaticamente a fita, a toca/importa totalmente, então rebobina de novo. Você está pronto para a próxima.

(O procedimento equivalente no Movie Maker, o editor de vídeo gratuito da Microsoft para o Windows, é quase tão fácil. Abra o menu Arquivo e escolha Importar do Dispositivo. Digite um nome, escolha um local, formato e clique “importar toda a fita de vídeo para o meu computador”.)

Do forma útil, o iMovie coloca automaticamente cada vídeo em uma lista de pastas, rotulado por ano: “2002”, “2003” e assim por diante. Você não pode criar pastar manualmente e não pode arrastar os vídeos dentro das pastas anuais. Mas tê-los agrupados por ano é útil o bastante.

O disco rígido de terabyte ficou rapidamente cheio. Felizmente, os preços dos discos rígidos caiu de novo; eu comprei um drive de 2 terabytes pelos mesmos US$ 180 que paguei pelo drive de 1 terabyte que comprei seis meses antes.

Ao longo do caminho, eu fiquei deprimido ao descobrir que aproximadamente em 10% das fitas o vídeo estava distorcido. Após apenas poucos anos, a própria fita já estava se deteriorando; eu as estava resgatando bem a tempo.

Nesta semana, eu concluí o serviço. Eu agora posso acessar um vídeo no meu computador com a mesma facilidade de um clique que poderia acessar uma foto; acesso instantâneo a 15 anos de memórias.

Algum dia eu editarei essas coisas a 10 minutos de destaques – mas o retorno já foi enorme. Toda vez que meus filhos passavam pelo meu escritório durante o processo de transferência, eles arregalavam os olhos em alegria e surpresa. “Que cortes de cabelo engraçados!” “Oh, eu me lembro disso!” “Eu realmente falava assim?”

A maioria das fitas foi gravada e nunca mais assistida de novo. Elas estavam vendo a luz do dia pela primeira vez.

Meu trabalho ainda não está completamente concluído. Eu ainda preciso transferir minhas fitas de vídeo analógicas, mais antigas, e até mesmo as fitas VHS. (Minhas opções: enviá-las para uma empresa de transferência mais cara; comprar um conversor de analógico para digital por cerca de US$ 40; ou usar minha função de sinal analógico da câmera de MiniDV, que transforma a câmera em si em um conversor de sinal.)

Eu ainda preciso fazer um backup dos meus dois discos rígidos de vídeo. Eu ainda preciso editar esses vídeos, o que provavelmente acabarei fazendo no iMovie 2045.

E, acima de tudo, eu ainda preciso me preparar para uma vida inteira de migração de formato. O formato DV importado pelo iMovie (ou os arquivos .WMV criados pelo Movie Maker) acabarão sendo substituídos por formatos de arquivo mais novos, melhores, e os arquivos atuais acabarão obsoletos.

Eu preciso permanecer vigilante, convertendo os arquivos a cada 10 anos para aquele que estiver em voga na época.

Eu não gosto dessa ideia. Eu não gosto de colocar todos os meus vídeos em uma ou duas cestas. Eu não gosto do ônus e inconveniência de passar para uma câmera sem fita.

Mas após ter passado pela tarefa de transferência, eu posso dizer que não foi, no final, desagradável. Ela provocou alegria a todos aqueles que passaram pelo meu escritório. E significa que minhas memórias em vídeo ganharam uma nova vida.

Eu peço que você considere um projeto semelhante próprio.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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