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06/09/2007 - 08h03

"Pavilhão chinês" da IFA mistura Santa Ifigênia com clima de mistério

DANIEL PINHEIRO

Do UOL Tecnologia, em Berlim (Alemanha)
O pavilhão 3.1 da IFA 2007, maior feira de eletrônicos da Europa, não tem nada de especial à primeira vista. É um dos espaços com menos ligações entre outros locais de exibição, e fica um nível abaixo da principal área de exposição da feira, que se concentra ao redor do arborizado Sommergarten [Jardim de Verão, em alemão], o palco dos shows que animam a IFA.

Mas quando você chega lá, é nítida a sensação de estar entrando em um outro país —a China.

O pavilhão inteiro é coalhado do começo ao fim de fileiras e mais fileiras com estandes que mais parecem cubículos. E em cada um deles, pelo menos dois ou três pessoas espremem-se em meio a ventiladores, fones de ouvido, tocadores digitais básicos, no melhor estillo "iPobre" da Santa Ifigênia, tradicional rua de comércio de eletrônicos em São Paulo.

Os expositores não disfarçam nem um pouco. Não estão lá para expor, e sim para vender. A maioria dos estandes tem avisos do tipo "tudo que você está vendo está à venda", na maioria das vezes escritos em inglês e chinês.

"Soly, mister, I don't speak german"
Esta é outra particularidade do 3.1 —é o único espaço da IFA em que o alemão não é o idioma dominante. E é possível perceber que lá, ao contrário do resto da feira, não são os estrangeiros que se esforçam para falar o alemão, e sim os germânicos que tentam de toda forma arranhar um mandarim.

Há também um clima de desconfiança quando a abordagem é feita por alguém da imprensa questionando algo.

Tento, por algumas vezes, falar com qualquer um das duas entidades que reúnem as empresas chinesas presentes na exposição seja capaz de dar algumas respostas, como o retorno que a presença na IFA dá às empresas que participam, qual é o volume dos negócios fechados durante a feira, se o número de expositores está crescendo...

Nada. Sempre olham baixo e respondem "não temos esses números" ou "a pessoa responsável por isso não está aqui, volte mais tarde." Volto, e novamente a resposta é negativa.

"Qual é o ramo da sua empresa, senhor?"
Fora isso, quando o contato é feito sem apresentações formais e começa com um mero "posso tirar uma foto", é nítido o entusiasmo dos expositores. "Sim, sim, por favor, o que mais você quer saber sobre nossos produtos?", é a resposta padrão, seguida de um "posso ficar com seu cartão de visitas?".

Em uma dessas ocasiões, uma expositora logo me fez sentar, pegou meu cartão e começou a preencher um pedido com o meu endereço, para logo em seguida me questionar sobre "o ramo de atividade da minha empresa."

À queima-roupa, respondo imprensa, ao que ela já dispara muitas interrogações, como o volume de compras do ano passado, se costumava comprar produtos importados, quais eram os mercados do meu interesse...

Quando expliquei que era apenas um jornalista, e não o dono da empresa para qual trabalho, ela não se deu por vencida: "Então o senhor não gostaria de nosso catálogo de compras individuais? Custa apenas € 2."

Aproveito a pausa para levantar de sopetão da cadeira, e saio apressado, me desculpando e agradecendo pela atenção. Quando já estou uns bons metros longe do local, escuto um grito. "Tudo bem, senhor, não precisa pagar, vou mandar para o senhor do mesmo jeito."

Agora, ainda mais envergonhado, aperto o passo e procuro a saída do pavilhão. Pode ser paranóia minha, mas juro que vi olhares de desaprovação, do tipo "mas que baita pão-duro, não quer pagar nem € 2". Saio correndo, esperando que o catálogo não chegue. Assim, vou me sentir menos mal por minha avareza.

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