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22/04/2010 - 11h35 / Atualizada 27/04/2010 - 22h38

Pogue: como foi feita a filmagem do vídeo sobre iPad com 20 pessoas em ''conferência''

DAVID POGUE
Do New York Times

Toda semana eu escrevo o roteiro de um vídeo engraçado – e atuo nele – sobre qualquer produto que for avaliado por mim naquela semana no “New York Times”. O vídeo é transmitido pela CNBC por volta de 13h40. Na quinta-feira, ele é exibido online no nytimes.com, no YouTube, no iTunes, na TiVo, no JetBlue e em outros sites.

Na semana passada, o assunto do meu vídeo foi o Apple iPad.

Pogue: tire suas dúvidas sobre o iPad

Muitos de vocês comentaram com ironia que, como o iPad não reconhece o formato de vídeo Flash, não foi possível assistir ao meu vídeo sobre o aparelho no próprio iPad. Mas isso não é verdade. A versão para iTunes é reproduzida sem problema. Na verdade, essa versão traz várias outras vantagens para os donos de iPhone, Touch e iPad: é possível fazer download da versão para iTunes, de forma que não é necessário assisti-la online. A qualidade é muito melhor, e você pode fazer uma assinatura, de forma a receber o vídeo automaticamente toda semana.

De qualquer maneira, eis aqui o que eu tinha em mente ao criar o vídeo sobre o iPad: Eu me sentaria em frente a um grande monitor, atendendo a uma “reunião” de consumidores ansiosos e respondendo às perguntas deles. Eu desejava criar um efeito do tipo “video-wall”, na qual a minha tela ficasse repleta de pequenos vídeos online de pessoas de todo o mundo, reagindo sincronicamente (pensem no programa “Brady Bunch”, mas com 20 ou 25 crianças, em vez de seis).

O resultado foi ótimo. De fato, foi tão bom que eu fui inundado por perguntas enviadas por e-mail como esta: “Como foi que você conseguiu fazer uma teleconferência com 20 pessoas ao mesmo tempo? Isso poderia possibilitar que a minha companhia poupasse uma quantidade enorme de dinheiro com viagens!”. Bom, eu acho que hoje posso revelar o meu segredo.

Primeiro, sinto desapontá-los, mas aqueles vídeos não eram ao vivo. Jamais houve uma teleconferência. O que vocês viram foram 20 filmes individuais em QuickTime, colocados um ao lado do outro na tela e reproduzidos simultaneamente. Para mim, mesmo assim foi muito legal.

Onde é que eu conseguiria 20 vídeos de pessoas de todos os estilos de vida, reagindo sincronicamente uma após a outra? Como sempre, quando me vejo empacado com uma ideia, eu recorri ao Twitter.

Eu procuro respostas para tudo no Twitter (o meu endereço lá é @pogue). Eu já pedi aos meus seguidores que me ajudassem com piadas nas minhas colunas e vídeos; me fornecessem respostas e ideias; me auxiliassem a escrever um livro; resolvessem problemas difíceis de Photoshop e Windows, fossem à minha casa para aparecerem como figurantes nos meus vídeos, e assim por diante.

(Às vezes eu me pergunto se devo me sentir culpado. Quero dizer, nem todo mundo conta com tal oportunidade. Só quem possui muitos seguidores. Seria isso trapaça? Eu estou explorando as pessoas? Mas as pessoas que atendem aos meus pedidos de ajuda o fazem, obviamente, de forma voluntária. Na verdade, eles parecem gostar da oportunidade de participar. Assim, eu continuo fazendo isso!).

Bem, mas foi assim que eu produzi o meu vídeo. Eu fui no Twitter e escrevi: “Você deseja aparecer na TV? Eu preciso de 20 figurantes para o meu vídeo da CNBC nesta semana! É necessário possuir uma webcam; vocês me enviarão um vídeo curto. Detalhes no pogue@nytimes.com”.

Dentro de dez minutos, eu já tinha cerca de cem voluntários. Eu respondi a aproximadamente 30 deles e expliquei o que tentaria fazer. Eu pedi a eles que me respondessem com uma foto e que me avisassem se ainda gostariam de participar. Quanto aos outros indivíduos, eu enviei um e-mail a cada um, agradecendo-os pela “tentativa”.

Lá estavam eles: homens, mulheres, estudantes universitários, pessoas idosas, negros, brancos, asiáticos, norte-americanos, europeus, indianos – uma amostra fantástica da humanidade (um deles é o cara que faz os comerciais do Video Professor na TV. Eu achei engraçado o fato de ele se apresentar como voluntário para o vídeo; eu cheguei até a telefonar para ele para dizer isso).

Eu enviei um roteiro a cada um dos meus atores. Bem, nem tanto um script. O que mandei foi mais uma lista de reações desejadas. A coisa foi estruturada desta forma:

“Tomada Um: o seu quarto está vazio – você ainda não está lá. Entre no enquadramento da câmera e sente-se. Finja que está se aprontando para o início do programa: olhe em volta de si, arrume o cabelo, limpe a sua mesa, etc.

Tomada Dois: você me ouve dizer, 'Alguém aí tem perguntas?' - e levanta a mão rapidamente, como se estivesse desesperado.

Tomada Três: alguém fez uma pergunta realmente tola. Demonstre impaciência para as outras pessoas à sua volta (em cima, em baixo, à esquerda e à direita), resmungue, coloque o rosto entre as palmas das mãos, etc...

Tomada Quatro: você está ouvindo falar das falhas do iPad, e o clima está ficando ruim. Me dê quatro segundos para responder educadamente, e depois demonstre uma raiva crescente por mais dois segundos (você acaba de descobrir que o iPad não possui câmera). Use apenas uma expressão facial, ou diga “O quê?”, ou “Ei!” ou manifeste qualquer outra reação verbal”.

… e assim por diante. Algumas pessoas receberam textos para que falassem no vídeo.

A seguir, eu me sentei e aguardei. Tudo poderia acabar sendo uma bomba, ou poderia ser engraçado. Tudo dependeria do que as pessoas apresentariam.

Eu não deveria ter ficado preocupado. Os vídeos foram fantásticos. Eles vieram por e-mail, por servidor FTP, pelo SendThisFile.com, pelo MobileMe – uma enxurrada de vídeos perfeitamente executados. Eu mostrei o material aos meus filhos, e nós todos nos sentamos no chão, rindo (veja, especialmente, o cara que bebe tequila no canto inferior esquerdo da tela).

Algumas pessoas acrescentaram os seus próprios vídeos pessoais ao meu ao final das seis tomadas (Obrigado, pessoal! Vou devolver!).

Enfim, agora tudo o que eu precisava fazer era descobrir como criar um efeito de “video-wall” no computador. Eu primeiramente tentei fazer isso no Final Cut Pro. Eu li os manuais online, liguei para a Apple em busca de ajuda, mas a impressão que tive foi que essa opção seria muito demorada.

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Assim, eu acabei tentando algo bem mais simples. Simplesmente inserir 20 vídeos de cada vez em um único slide de programa de apresentação (eu usei o Keynote, mas o PowerPoint também teria funcionado). É verdade que quando o “slide” apareceu, todos os vídeos foram reproduzidos simultaneamente. Foi engraçado.

Porém, a reprodução de tantos vídeos simultaneamente sobrecarregou o computador, e eles apresentavam saltos. Assim, eu abri com toda paciência cada um dos 120 clips (20 atores, seis tomadas de reações) e reduzi a definição para 256 x 192 pixels. Desta vez, o computador não teve problema para reproduzir 20 clips simultaneamente de forma tranquila.

A CNBC veio a minha casa e filmou os trechos ao vivo do trabalho (você poderá notar que em algumas tomadas nas quais é possível ver ao mesmo tempo eu e o monitor, há apenas 12 pessoas na tela, e não 20. Isso aconteceu porque eu ainda não tinha recebido todos os vídeos enviados por Twitter. A culpa foi minha, pelo mau planejamento).

A seguir a equipe da CNBC fez, creio eu, um trabalho fantástico de edição de todo o material para que tudo parecesse real. Se você fizer um download da versão para iTunes, é possível reproduzi-la diversas vezes e divertir-se de verdade vendo cada tomada dos atores individuais.

Esse não foi o vídeo mais rápido que eu produzi, mas foi bastante satisfatório. Na verdade, foi surpreendentemente interessante ver os vídeos de todos os participantes. Houve algo de importante, algo de real, uma conexão entre todas essas pessoas que jamais se conheceram pessoalmente (e nem a mim), mas que compartilharam os mesmos esforços para criar um conjunto artístico integral. Tudo bem, a palavra “artístico” pode soar meio pedante, mas vocês sabem o que eu quero dizer. Eu também pude dar uma espiada naquelas 25 vidas, apartamentos e iluminação.

Nem todos os vídeos pogue são tão elaborados assim. Mas de vez em quando vale a pena ir um pouco além do trivial.

Tradução: UOL

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