UOL Notícias Tecnologia

11/01/2007 - 12h05

Apple emprega sua mágica em seu novo iPhone

David Pogue

Em San Francisco
Lembra da fada madrinha em "Cinderela"? Ela acenava sua varinha de condão e transformava algo sem graça e um objeto utilitário, como uma abóbora ou um rato, em algo glamouroso e impressionante, como uma carruagem ou um cocheiro plenamente equipado.

É evidente que ela vive em alguma sala da Apple.

Toda vez que Steve Jobs espia alguma máquina irremediavelmente feia e complexa que clama por um toque da Apple —como computadores ou tocadores de música— ele a invoca.

Na anual Macworld Expo em San Francisco, Jobs apresentou a mais recente obra da varinha de condão da fada madrinha. Ele atendeu os desejos de milhões de seguidores da Apple e disseminadores de rumores transformando o celular comum no iPhone.

No momento, o iPhone está em um estágio de protótipo avançado, que fui autorizado a manusear por apenas uma hora, com o produto final disponível nos Estados Unidos apenas em junho, ou na Europa até o quarto trimestre. Assim, esta coluna é uma prévia, não uma crítica.

Mas uma coisa já está clara: o nome iPhone pode estar prestando um desserviço à Apple. Este aparelho contém tantas possibilidades que o celular pode ser na verdade a menos interessante.

Como Jobs apontou em sua apresentação de abertura, o iPhone é pelo menos três produtos em um: um telefone, um iPod com tela widescreen e um comunicador móvel de Internet com tela de toque. Isto ajuda a explicar seu preço: US$ 499 ou US$ 599 (com 4 GB ou 8 GB de capacidade).

Como se espera da Apple, o iPhone é belo. Ele é preto reluzente, com arremates em aço inoxidável espelhado. A traseira é de alumínio texturizado, interrompido apenas pelas lentes da câmera de 2 megapixels e o logotipo espelhado da Apple. O telefone é ligeiramente mais alto e mais largo que um Palm Treo, mas muito mais fino (11,4 X 6 X 1,16 cm).

Você não se queixará de muitos botões neste iPhone; ele se aproxima bastante de não ter nenhum. A frente é dominada pela tela de toque (320 pixels por 480 pixels) operada apenas por dedo. Os únicos botões físicos, na verdade, são o de volume, liga/desliga do toque do celular (viva!), liga/stand-by e, sob a tela, um botão Home.

A simples beleza do iPhone bastará para fazer certos membros do culto ao iPod sacarem seus cartões de crédito. Mas seu software baseado no Mac OS X o torna não só um smartphone, mas algo saído de um filme de ficção científica.

Pegue as características do iPod, por exemplo. Como qualquer iPod, rolar pelas listas de músicas e álbuns é fácil —mas não há disco de rolagem. Em vez disso, você toca o dedo na tela para fazer a lista rolar livremente, segundo a velocidade de seu toque. O rolar prossegue lentamente até parar, como se por inércia. O efeito é tanto espetacular como prático, porque à medida que a rolagem desacelera, você pode ver onde está antes de tocar novamente a tela se necessário.

O mesmo toque permite que você passe por fotos ou capas de álbum como se estivessem em uma estante tridimensional. Tudo isto —fotos, coleção de música, livro de endereços, podcasts, vídeos e assim por diante— são sincronizados no iPhone pelo programa iTunes da Apple que roda em Mac ou PC com Windows, cortesia da base de sincronização/recarga que o acompanha.

Filmes são particularmente satisfatórios neste iPod. Isto em parte devido a tela widescreen, em parte pela tela ser muito maior (3,5 polegadas) e mais nítida (160 pixels por polegada) do que as dos demais iPods.

O iPhone pode acessar a Internet de duas formas: usando Wi-Fi, pelo menos quando você está na presença de um hot spot, ou usando uma rede Edge decepcionantemente lenta da Cingular.

Isto mesmo: a operadora exclusiva do iPhone será a Cingular. Nem o telefone pode ser "desbloqueado"; você não pode usá-lo com qualquer outra operadora. Pelo menos é um telefone GSM quad-band, de forma que funcionará no exterior.

Você pode realizar conversas com mensagens de texto que aparecem como uma conversa contínua. E como qualquer smartphone, o iPhone pode baixar e-mail de contas comuns em intervalos regulares. De fato, o Yahoo! oferecerá gratuitamente envio em tempo real de e-mail ao iPhone, como ocorre no BlackBerry corporativo.

Mas o iPhone não matará o BlackBerry. A ausência de um teclado físico o torna versátil, mas também torna o digitar tedioso.

Em vez de teclas alfabéticas em relevo, você tem teclas virtuais na tela. Elas são bem pequenas e é claro você não pode senti-las. Assim, o digitar é lento, especialmente para o dedo gordo.

Felizmente, você não precisa ser especialmente preciso. Mesmo se você apertar "teclas" erradas acidentalmente, o programa inteligente considera as teclas adjacentes —e corrige os erros automaticamente. Se você digitar "wrclme", o programa propõe "welcome". Você aperta a barra de espaço para aceitar o conserto. Funciona perfeitamente.

Mas a verdadeira mágica aguarda quando você navegar na Internet. Você vê toda a página de Internet na tela do iPhone, apesar de contar com tipos minúsculos. Para ampliar, você dá um toque duplo em qualquer ponto; então você arrasta o dedo na tela em qualquer direção.

Como alternativa, você pode usar uma nova função que a Apple chama de multitoque: você desliza seu polegar e indicador juntos (como uma pinça) ou os separa na tela. Ao fazê-lo, a página de Internet amplia ou encolhe em tempo real, como se estivesse impressa em uma folha de borracha. Também funciona com fotos e é absurdamente legal.

Tudo isto é preparado com o tempero secreto tradicional da Apple de simplicidade, inteligência e capricho. São estes ingredientes, não as características em si, que inspiram tamanho desejo nos fãs da Apple.

Por exemplo, mensagens de voz aparecem em uma lista, como e-mail na caixa de entrada, e você pode ouvi-las em qualquer ordem. Um sensor de proximidade desativa a tela de toque quando o telefone está próximo do seu ouvido, economizando energia e evitando toques acidentais. A imagem na tela roda quando você vira o telefone para ver, por exemplo, uma foto com orientação de paisagem. Um sensor de luz compensa o brilho da tela quando sob forte luminosidade. Marcas de dedo e manchas são inevitáveis, mas são visíveis apenas quando a tela é desativada. (Elas desaparecem com uma simples passar de pano.)

O alto-falante fica na borda inferior, e não atrás, onde ficaria abafado quando o telefone está apoiado em uma mesa. O minúsculo fone de ouvido sem fio Bluetooth opcional tem sua próprio entrada de recarga na base de recarga/sincronização do iPhone —e se conecta magneticamente por
conveniência. A Apple diz que este fone "casa" com o iPhone automaticamente, poupando você do ritual habitual de pressionar botões em uma seqüência desconcertante.

Todavia, o iPhone não será um smartphone para todos. Você poderia considerar a exclusividade da Cingular ou o preço como desestimulantes. Você também pode se decepcionar com o fato do iPhone não abrir documentos do Office da Microsoft, como faz o Treo (apesar da Apple dizer que ele abre documentos em PDF), ou se perguntar por que não é um celular 3G, capaz de explorar as torres de telefonia celular de nova geração, de maior velocidade, à medida que são implementadas. E pode se preocupar em colocar todos seus ovos digitais em uma única cesta de frente de vidro, que pode cair ou ser perdida.

Note também que o software ainda está inacabado e muitas perguntas ainda não têm resposta. Ele será capaz de transformar suas próprias canções em ringtones? Será um gravador de voz? A câmera gravará vídeo? Você poderá usar o Skype para fazer chamadas gratuitas pela Internet? A bateria realmente
durará cinco horas de conversa, vídeo e navegação na Internet (ou 16 horas tocando áudio)? Você poderá algum dia comprar música e vídeo da loja iTunes diretamente pelo telefone?

A esta altura, a Apple ainda não tem todas as respostas, nem as está revelando.

Mas o que ela tem é uma verdadeira chance de redefinir o celular. Quantas milhões de pessoas estão, neste momento, carregando tanto um iPod quanto um celular? Quantas adorariam carregar um único aparelho que não resulte em perda de estilo ou de funções? Considerando que o celular é o aparelho mais pessoal de muitas pessoas, quantas não deixariam escapar a chance de substituir seus atuais modelos desajeitados por algo com a classe, aparência e facilidade de um iPod?

A Apple fez a sua parte: reuniu mais funções em menos espaço, e com mais elegância, do que qualquer outra antes dela. O resto fica por conta da fada madrinha.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Compartilhe:

    Últimas Notícias

    Hospedagem: UOL Host