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01/12/2010 - 07h01 / Atualizada 04/04/2011 - 10h08

Blogueiras vão além do virtual e promovem encontros presenciais com seus leitores

LARRIZA THURLER||Para o UOL Tecnologia
  • Mesa montada pela blogueira, designer e ilustradora Katia Bonfadini, do Casos e Coisas de Bonfa, para o ''Chá entre Blogueiras''. Preparativos para o encontro foram descritos no site

    Mesa montada pela blogueira, designer e ilustradora Katia Bonfadini, do "Casos e Coisas de Bonfa", para o ''Chá entre Blogueiras''. Preparativos para o encontro foram descritos no site

Em comum, um talento invejável para contar histórias – inclusive, as próprias. Vergonha de se expor? Nem um pouco. A internet apenas contribuiu para expandir, e muito, o alcance das crônicas diárias. Até mesmo para além da tela do computador. Sorte para os fãs-seguidores de algumas blogstars que têm a oportunidade de conhecê-las pessoalmente, em encontros realizados esporadicamente. E orgulham-se de serem, além de leitores, amigos.

“Eu fui a todos os 'Chopps com Leitores'. E sei, de cor, todos os posts. Se tem um caso repetido, vou logo alertando”, conta Eugênia Rodrigues, uma fã dos blogs "Homem É Tudo Palhaço" (HTP) e "O Mundo É Estranho" (OMEE), da jornalista Roberta Carvalho, que promove, mensalmente, "Chopps com Leitores" – exceto quando está mal-humorada. Roberta, que mora no Rio de Janeiro, é democrática e já fez encontros também em São Paulo e Brasília. “Certa vez, vi um cara meio perdido, em um bar, até que ele tomou coragem de me perguntar se eu era a Roberta. Ele estava procurando uma ‘linda loura japonesa’, que é uma expressão que costumo usar no blog para se referir a mim”, diverte-se. Em alguns encontros do HTP, é impossível não saber onde está a mesa dos leitores: são distribuídos narizes de palhaços para os presentes.

  • Larriza Thurler/UOL

    Marjory Rodrigues (foto) participou do ''Chopp de Leitores'' e conheceu a blogueira Roberta Carvalho

Por conta destes encontros presenciais, os primos Marcelo Thompson e André Matheus se reencontraram, por acaso. Matheus ficou um tempo morando em Brasília e foi lá que conheceu os blogs de Roberta. Já Marcelo ficou sabendo deles por meio de sua namorada. “O André entrou no bar, falou comigo, mas achei que ia sentar em outra mesa. Mas ele também tinha vindo para o encontro”, lembra Marcelo. O primeiro Chopp dos Leitores de André, na verdade, foi em Brasília. Ele salvou Roberta de uma noite furada na capital do país, quando um “palhaço aplicou o número do desaparecimento” – termo usado por ela para o sumiço de um pretendente em um encontro marcado. “Acabei tendo um 'Chopp dos Leitores' só para mim!”, brinca ele.

Em retrospecto, Roberta lembra que o blog "O Mundo É Estranho" começou despretensioso, há nove anos. “Trabalhava com jornalismo digital. Na época, era moda todo mundo do meio ter blog, até para experimentar novas ferramentas. Mas ele cresceu e hoje sou parada no supermercado por gente que lê meus posts”, conta. “Tenho mania de exibicionismo”, admite.

Depois, em 2002, veio o "Homem É Tudo Palhaço", quando Roberta se separou. Conversando com amigas, ela percebeu que as queixas sobre os homens eram as mesmas – sendo o número do desaparecimento dos “palhaços”, que marcavam e não apareciam, hors concours – e ela decidiu convidar algumas para lançar o HTP. O sucesso do blog foi tanto que virou livro homônimo, lançado em junho deste ano. Hoje, ela compartilha o HTP com Ana Paula Mattos e Nara Franco.

  • Larriza Thurler/UOL

    Roberta Carvalho (3ª da esq. para dir.) e leitores de seu blog reuniram-se em novembro, no Rio

Porta entreaberta
Pode parecer estranho que mulheres contem para toda a web casos – alguns extremamente vergonhosos – de desencontros e outras desventuras emocionais. No seu livro “O Show do Eu”, a antropóloga Paula Sibilia analisa como está legitimado pela nossa sociedade a cultura da observação do outro e da exposição de si próprio. Segundo ela, esta exibição da intimidade na internet seria impensável na “sociedade disciplinar” do século 19 e início do 20, que cultivava rígidas separações entre o âmbito público e a esfera privada. Já neste século 21, a definição de intimidade mudou e há uma convocação das pessoas comuns a se mostrarem.

Uma leitora mais atenta dos blogs de Roberta – que já virou sua amiga – observa, no entanto, que ela não entrega todo o ouro assim, de cara. “Quem a conhece, sabe que tem muita informação que ela não dá. Há um filtro, uma cortina de fumaça”, revela Renata Sílvia.

  • Arquivo Pessoal

    Gisela Rao (centro, de preto) e os leitores do blog “Vigilantes da Autoestima”: encontros mensais

Até mesmo em um blog de autoajuda, no qual a troca de informações íntimas é estimulada, há um controle das revelações. É o que conta a publicitária e jornalista Gisela Rao, do "Vigilantes da Autoestima" (VAE), blog que criou ano passado com a psicóloga Neiva Bohnenberger para vigiar sua autoestima durante 365 dias.

“Estou deixando a minha vida afetiva um pouco mais reservada. Os Vigilantes não sabem ainda que estou namorando, está muito no começo”, conta ela, sobre o namorado que arrumou por meio do blog, já não resistindo muito, ao revelar o “segredo” na entrevista. Os 365 dias de vigilância vão virar um livro, a ser lançado em março do ano que vem, o “Minha vida sem Photoshop”, e também programa de rádio e na web.

Diante de tantos comentários e do desejo das pessoas de se conhecerem ao vivo, Gisela passou a realizar encontros mensais, com o propósito terapêutico. O primeiro foi feito no salão de um prédio, com 15 pessoas. Já o de outubro reuniu cem pessoas e foi preciso alugar um local. “Sempre tem um convidado que acrescenta algo no tema autoestima: professor de yoga do riso, terapeuta xamânico, professora de dança, mestre em revitalização, coach em planejamento pessoal”, explica. Os encontros são pagos e 10% vão para doações.

  • Arquivo Pessoal

    Katia Bonfadini (dir.), do "Casos e Coisas de Bonfa", recebeu grupo de leitoras em sua casa

A designer e ilustradora Katia Bonfadini, do "Casos e Coisas de Bonfa", tem de se preocupar ainda mais com o que escreve, pois nas suas dicas de viagens, restaurantes e organizações de festas, acaba envolvendo outros da família, como o seu marido. No começo, admite que não queria falar de seus sentimentos ou de detalhes de sua vida. Com um ano de blog, confessa que a repercussão a assusta. “Fico espantada. Até bem pouco tempo atrás, não sabia como funcionava um blog. Hoje, recebo tantos presentes que fico sem graça!”, afirma. Um grupo de leitoras conferiu alguns dos talentos de Katia pessoalmente, na intimidade de sua casa, no “Chá entre Blogueiras”, cujos preparativos, da decoração aos quitutes, foram minuciosamente descritos pela dona do site. Ela, chegou, inclusive, a criar uma caneca com uma ilustração especial para o evento.

Desabafo virtual e presencial
Para ser uma blogstar, além de saber contar uma história, é preciso, claro, que os leitores identifiquem-se com ela. A jornalista Denise Schittine, em seu livro “Blog: Comunicação e Escrita Íntima na Internet”, atenta que o blog é uma prova de que o autor pretende falar sobre si mesmo e espera que um grupo de pessoas se interesse e goste do assunto. Trata-se de uma via de mão dupla, na qual são estabelecidos códigos entre o leitor e o autor, em diversos níveis de intimidade.

Nos casos de Roberta, Gisela e Katia, os comentários, o contato por email e, então, o pessoal acabam fazendo com que o leitor suba degraus nesta escada da intimidade. “O legal é que ninguém mais se sente sozinho, diminui muito a sensação de desamparo. Eu comecei o blog com autoestima de palha. No ano passado, tinha perdido o emprego, o namorado, minha mãe partiu e, mesmo assim, hoje minha autoestima está um tijolaço. O blog funciona mesmo!”, revela Gisela.

As leitoras do "HTP" concordam com o efeito terapêutico. “Para mim, este blog foi uma libertação. Tudo que dava errado em um relacionamento eu achava que era culpa minha”, admite a jornalista Eugênia Rodrigues. No Chopp dos Leitores de novembro, a analista de gestão Marjory Rodrigues conheceu Roberta pela primeira vez e logo garantiu seu autógrafo no livro. “Meu namorado me apresentou ao blog, vi que tinha o livro, comprei e devorei em três dias. Me senti normal ao ver que as palhaçadas acontecem com todo mundo.”

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