A fotógrafa Isa Simão gosta da câmera analógica para poder brincar com os efeitos
A fotografia analógica virou um estilo de vida compartilhado por uma turma adepta da nostalgia, que bate a foto e pode esperar dias para ver como ela ficou. A relação com a fotografia em si também é diferente -- não é apenas um registro do momento, mas uma postura de que o imediato não é o mais importante, e de que a espera para usar o filme até o fim, levando-o depois para um laboratório revelar, faz parte da brincadeira.
“Câmera com filme tem aquela expectativa de como a foto vai ficar. A gente não pode ver na hora”, diz a jornalista Camila Mazzini, de 27 anos. Esta espera por opção é o que diferencia os fotógrafos “analógicos” atuais do cenário que era a fotografia há pouco mais de dez anos, quando as câmeras digitais ainda não eram tão populares no Brasil.
No alto, foto da universitária Mariana Vieira feita com a lente olho de peixe de uma câmera analógica Lomo; acima, foto com flash colorido da estudante Luiza Fabiani, também com Lomo |
Hoje em dia, até os celulares cumprem a função de câmera fotográfica, mas o que os adeptos da foto analógica querem mesmo é escolher qual filme usar e qual efeito fazer. Se vai dar certo, é uma questão de tentativa, erro e aprendizado. “Tirar foto com uma câmera analógica traz uma bagagem cultural muito forte. Precisa ter uma noção de fotografia”, afirma a fotógrafa Isa Simão, de 22 anos.
Nesta turma de analógicos há quem some até 19 câmeras, caso do gerente de tecnologia da informação Mabbom Santos, de 29 anos, que viajou do Rio até São Paulo nesta última terça-feira (29) para participar da inauguração de uma loja voltada apenas para a fotografia analógica, a Lomography Gallery Store, que fica na região dos Jardins. Nada mau para um fotógrafo de horas vagas.
Flashes coloridos
Para quem pensa em dar os primeiros passos nesse hobby, a dica de Mabbom Santos é começar pelas câmeras analógicas mais simples e mais fáceis de manusear. O desafio é controlar as imagens e efeitos usando relações entre velocidade de disparo e abertura de diafragma, com mais ou menos luz na foto. Há ainda a variada oferta de filmes, cada um com uma particularidade. “O importante é fotografar sempre, não importa se é com um equipamento caro ou barato”, estimula ele.
A estudante Bruna Cabanne, de 21 anos, opta por usar câmeras de marcas diferentes. Entre as analógicas que ela possui, há uma Fuji antiga. "Filme e revelação ainda são caros", lamenta.
Atualmente, existem muitos modelos com funções diferentes, desde flash azul até uma com lente que proporciona um campo de visão de 170º. O mercado é amplo, com novidades constantes.
Assim como Mabbom Santos, quem curte o estilo costuma ter mais de uma máquina. A universitária Mariana Vieira, de 20 anos, comprou a primeira câmera analógica em dezembro do ano passado. De lá para cá, foram mais cinco. “Cada uma tem um efeito diferente, né?”, justifica, aos risos.
Nessas coleções privadas, é comum encontrar as câmeras lomógraficas, “brinquedo” preferido de quem vive essa onda nostálgica. Feitas de plástico, com formato diferenciado e opções de cores vibrantes, cada câmera Lomo oferece um efeito específico, como, por exemplo, o característico da lente "fisheye" (olho de peixe). Um modelo básico custa a partir de R$ 99, mas há opções que chegam perto de R$ 1.000. Lembrando que ainda é preciso comprar o filme e pagar pela revelação e ampliação das fotos.
Analógico versus digital
Apesar de serem duas vertentes diferentes da fotografia, a universitária Mariana afirma que o analógico e o digital não competem entre si. “Quem ama fotografia gosta tanto de um quanto do outro. Eles se completam”, diz.
Quem vive da fotografia costuma ter uma separação mais nítida entre os dois segmentos. É o caso de Jorge Sato, de 30 anos. Quando busca fotos autorais, artísticas, ele escolhe alguma entre as 14 analógicas que possui. Quando o trabalho é comercial, para algum cliente, a melhor opção é a digital mesmo. “Porque ela é mais imediata, eu preciso entregar as fotos logo”, compara.