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02/03/2012 - 16h45 / Atualizada 06/03/2012 - 10h26

Reação do Brasil à política de privacidade do Google é exagerada, diz porta-voz da empresa

Ana Carolina Prado
Do UOL, em São Paulo
  • Kimihiro Hoshino/AFP

Em entrevista coletiva por telefone na tarde desta sexta-feira (2), o diretor de comunicação e assuntos públicos do Google no Brasil, Felix Ximenes, disse que a reação do país às mudanças na política de privacidade da empresa é exagerada. “A divulgação da nova política [que vem sendo feita desde janeiro deste ano] provocou uma reação bastante grande no mundo todo, mas as pessoas se acalmaram depois de ler e entender os novos termos. Exceto no Brasil. Aqui, vemos um crescente de preocupação baseado em mitos e boatos”, disse.

Felix explica que, na prática, pouca coisa muda. “A nossa ideia não é coletar mais informações do usuário, mas sim ter certeza de que ele saiba que está se expondo na internet e tenha controle do que vai ser compartilhado”, afirma. No caso das informações fornecidas ao Google, lembra o executivo, esse controle pode ser feito por meio da ferramenta de gestão de privacidade.

O que muda

A mudança nas regras do Google diz respeito ao uso de suas informações pessoais para diferentes produtos e serviços. A política de privacidade antiga estabelecia regras específicas para cada um deles – e que, às vezes, eram conflitantes.

Em um esclarecimento solicitado pelo Congresso norte-americano, a empresa explicou isso com mais detalhes: “Especificamente, nossas políticas não nos permitiam combinar dados do histórico de pesquisas no YouTube com outros produtos e serviços do Google para torná-los melhor. Então, se um usuário que gosta de cozinhar procurasse receitas no Google, não seríamos capazes de recomendar vídeos de cozinha quando ele visitasse o YouTube, apesar de usar as duas contas com um mesmo login. Queremos mudar isso para que possamos criar uma experiência mais simples e intuitiva."

A nova política, agora, é uma só para todos os serviços e permite cruzar dados para que o usuário receba resultados mais personalizados – o que ele assiste no YouTube pode influenciar seus resultados de buscas, por exemplo, e vice-versa. A empresa também garante que não vai coletar dados do perfil do usuário para vender a anunciantes, mas sim usá-los como um filtro para exibir a cada pessoa apenas os anúncios que mais lhe interessarem.

Críticas

Ao anunciar a nova política, o Google despertou preocupação da parte de usuários e governos. Autoridades europeias chegaram a pedir que a sua implementação, que ocorreu no dia 1º de março, fosse adiada e o governo americano pediu mais explicações.

A organização americana de defesa do consumidor Consumer Watchdog publicou nesta quinta-feira (1º) em seu site um texto em que John M. Simpson, seu diretor de projetos de privacidade, critica a nova política. “O Google não está falando com você sobre proteger sua privacidade. Está contando como vai coletar informações sobre você em todos os seus serviços, combiná-las de novas maneiras e usar os gordos dossiês digitais para vender mais anúncios. Eles estão dizendo como vão espioná-lo”, disse ele. “Lembre-se de que você não é um cliente para o Google; você é um produto dele”, completou.

O texto também traz aspas da autoridade de proteção de dados francesa CNIL, que comentou: “Os termos da nova política (...) levantam temores sobre as práticas reais do Google. Nossa investigação preliminar mostra que é extremamente difícil saber exatamente quais dados são combinados entre quais serviços e para que fins, mesmo por profissionais de privacidade treinados."

Decisão do usuário

Segundo Felix, quem decide o nível de exposição em cada serviço é o usuário. “Se a ferramenta de gestão de privacidade não for o suficiente para ele, pode usar os serviços anonimamente ou criar várias contas diferentes”, afirma. 

“Quem ainda assim tiver problemas em concordar com as práticas do Google pode baixar seus dados e arquivos – como os do Gmail, por exemplo – e levá-los para um serviço no qual confie mais. É um caso extremo de romper a relação conosco, mas é possível”, completa. “Temos o princípio de que os dados pertencem ao usuário, não ao Google. Então ele tem o direito de fazer download do que guarda conosco e levar para outros lugares”.

Ainda segundo o diretor, o Google guarda informações de backup dos usuários por nove meses – mas, caso eles decidam fechar sua conta, essas informações desaparecem em poucos dias. O Orkut tem regras diferentes: quando desativado, os dados permanecem guardados, mas invisíveis, por três meses.

“A internet é muito maior do que o Google. Não somos um provedor de acesso e as pessoas não precisam passar por nosso filtro para usarem a internet. Elas usam há 14 anos porque confiam na nossa qualidade. Há 14 anos podemos saber seu comportamento na web, mas não olhamos pra isso individualmente. Os dados se tornam anônimos e viram estatísticas.” 

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